sexta-feira, 30 de junho de 2017

Capítulo 4

Auria estava atrasada para a primeira aula, pois decidira comparecer de última hora. Por coincidência, Ralph vinha correndo em sua direção. O encontro veio a surgir em hora oportuna, apesar dele quase não a reconhecer. Auria vestia uma camisa azul engomada, saia justa e um lacinho na cabeça. Estava toda produzida com maquiagem, brincos e acessórios; os cabelos sedosos e bem penteados. Seria a mesma moça que conhecera na última noite? Talvez o excesso a transformara em invisível. Era como se estivesse lhe faltando algo, só não sabia dizer o quê.
— Oi, Auria! Eu estava ansioso para encontrá-la, parece até que alguém a colocou no meu caminho hoje — disse Ralph com um grito, fazendo-a se esconder atrás de uma parede. Ela poderia sair correndo ou fingir que não o conhecia, mas a essa altura estavam próximos demais para não chamar atenção.
— Veja só, se não é o cabeça entalada... O que foi agora?
— Poxa, Auria, você fala comigo como se eu estivesse fazendo algo de errado — Ralph respondeu. — Eu fiz algo errado?
— Claro que não. Quero dizer, sei lá. Estou atrasada para a aula.
— Tudo bem, eu te espero aqui fora.
Auria continuou seu caminho, mas pensou como seria rude de sua parte deixá-lo esperar por tanto tempo, algumas vezes as aulas iam até às seis da tarde. Ao olhar para trás pôde vê-lo sentado em um banco de madeira debaixo de um grande olmo que oferecia sombra e um ponto tranquilo. Como estava atrasada de qualquer maneira, voltou para saciar sua curiosidade.
— Então, para qual setor foi escalado?
— Eu não fui aceito.
— Sério? — ela perguntou incrédula. — Isso é excelente, vai poder voltar para a sua família e amigos.
— Como assim? — O rapaz não compreendia o motivo de tanta felicidade. — Tudo que eu mais quero é servir o exército e me tornar um herói, mas parece que as pessoas estão tentando me afastar desse sonho.
Auria disfarçou um sorriso, sendo bem sucinta em admitir:
— É engraçado você dizer isso. Seria ótimo se pudéssemos trocar de lugar.
— Mas você é uma veterana! Como pode haver algo de ruim nisso?
— Não é tão simples quanto parece. Eu sou uma Mercer e as pessoas esperam muito de mim. Querem que eu realize grandes feitos, como todos de minha família. É como se eu estivesse aprisionada por algemas invisíveis — Auria ergueu as mãos num gesto simbólico, travava uma luta interna para admitir tudo em voz alta. — Eu me acomodei e aceitei o destino que tentam traçar para mim, mas eu queria que fosse diferente. Gostaria de ser forte o suficiente para superar essas barreiras, mas... não sou.
Um longo silêncio pairou entre eles.
— Você é incrível — o rapaz admitiu com bondade. — Seu destino é ser incrível, não consegue ver isso?
— Esse destino idiota sempre aparece me impedindo de fazer o que quero.
— E o que você quer?
— Ser grande, talvez.
— Mais ainda?! — Ralph perguntou. — Você já é imensa, parece que estou falando com seus peitos... com todo respeito, claro.
— Falo de outro tipo de grandeza. — Auria caiu na risada. Ralph estava contente por arrancar um sorriso dela. — Os alunos que vêm para cá são tão capacitados quanto eu, cada um deles também sonha em se tornar grandioso algum dia, mas será que todos nós teremos essa chance?
— Nós já temos muitos heróis no mundo, mas isso não é motivo para que eu desista.
Auria não se lembrava da última vez que ouvira alguém lhe dar conselhos que fossem úteis e não somente com o intuito de julgá-la e repreendê-la. Era estranho, ainda mais vindo de alguém tão mais jovem do que ela.
— Por que nunca te chamaram? — Ralph perguntou.
— Eu não sei. Eu só queria que as pessoas parassem de me proteger como se eu fosse uma florzinha em um vaso de vidro, uma bonequinha de porcelana ou a princesa em perigo do castelo. Eu queria poder lutar e defender a mim mesma e aos outros, os que realmente precisam.
Os olhos de Ralph brilharam ao ouvir aquelas palavras. Ele sentiu seu coração pulsar e compreendeu o que sua mãe sempre lhe dissera sobre as peças do quebra-cabeça.
— Obrigado pela conversa, era o que eu precisava ouvir.
— O que está pensando em fazer?
— Só me dê até amanhã e não vai se arrepender.
Auria manteve-se séria. Ralph fez um aceno bobo com as mãos e depois foi embora pela estrada de terra. Perguntava-se o que estaria aprontando, correndo pelas trilhas com uma espada de madeira, sem ser impedido por nada nem ninguém. Ela escondeu um sorriso ao pensar na sensação, pensava em como seria bom ser livre para sair e fazer o que quisesse.
Por fim, o sinal tocou. Auria arrumou suas coisas e entrou na academia para a segunda aula, mas com os pensamentos distantes, refletindo sobre todos os lugares que nunca tivera a chance de estar. Queria entender o que se passava na mente de Ralph com seus hábitos espontâneos. Auria queria acreditar que ele era a saída para sua rotina que não mais avançava, apenas regredia. Ao mesmo tempo, era melhor não colocar muitas esperanças. As pessoas gostavam de decepcioná-la.
Ele era diferente dos geckos — e também dos humanos —, na verdade, era diferente de tudo que já conhecera.

i

Na manhã seguinte, Ralph não apareceu.
Auria estava chegando à sala de aula quando avistou os outros alunos se apressarem no corredor, estavam eufóricos. Ninguém previra a chegada ou havia se preparado para o evento, na época não passavam de boatos.
— Dawn, o que aconteceu com todo mundo? — Auria perguntou para uma companheira dos treinos de magia que passava ao seu lado carregando cinco livros.
— Lembra quando disseram no começo do ano passado que um oficial poderia visitar a academia? Demorou tanto para acontecer que ninguém mais acreditava, e agora, por falta de um oficial, são dois Classe A! Um deles é o general que participou da batalha em Cortina Escarlate e ajudou o rei a derrubar Rudsi, da Coroa de Ferro. Ele é um dos maiores heróis dessa geração — Dawn respondeu com pressa enquanto corria para o pátio. — E vai selecionar os melhores alunos para o seu próprio batalhão!
Auria ficou perplexa ao ouvir aquilo. Não perderia nem mais um segundo. O destino tentava lhe esticar a mão uma última vez e essa era a sua chance.
Ela espremeu-se entre os alunos que se amontoavam no portão de entrada. Era possível ver de longe uma fileira de soldados trajados no uniforme de Perpetua, uma das regiões gélidas do sul. Apesar de estarem em um local de clima litorâneo, as vestes dos guerreiros eram pomposas e preparadas para o frio rigoroso, tinham longas capas e elmos que lhes cobriam o rosto em um arco esculpido que ia até a ponta do queixo. Estavam com a fronte erguida e porte firme, nenhum deles dizia sequer uma palavra e os alunos se impressionavam com tamanha obediência. Queriam ser como aquele que os liderava.
No meio da fileira feita pelos soldados, um homem caminhava com passos leves e sem som. Auria espremeu-se entre dois colegas para vê-lo melhor, as garotas sentiam o coração palpitar e os rapazes enchiam-se de admiração. O oficial tinha o cabelo perolado, suas feições eram suaves como as de uma escultura áurea, uma obra fina — lembrava o rosto de um anjo que decide descer a terra somente para ser contemplado e admirado pelos reles mortais. Um detalhe que chamava atenção era que um de seus olhos era branco, mas ele não parecia ter perdido a visão em combate; duvidava que existisse algum inimigo capaz de tal feito.
Os rumores se provaram corretos. Não havia apenas um, mas dois generais. O tempo mudou, o sol escondeu-se atrás de nuvens cinzentas e a temperatura caiu de súbito. Auria teve a impressão de que viu um floco de neve dançar em sua frente em pleno verão. A poucos metros de distância passava um oficial de igual estatura, porém mais encorpado e rosto rígido. Sua armadura refletia como um espelho e tinha um tom azulado que lembrava cristais. Este, por sua vez, tinha cabelos azulados e era muito observador. Caminhava sempre ao lado do outro, sem estar nem um passo a frente ou atrás.
O diretor da academia, um sujeito que ninguém via em ocasião alguma e que nem os alunos mais antigos sabiam o nome, apareceu correndo para recebê-los.
— Saudações da Vila das Pérolas, meus senhores — disse o diretor, cansado pela corrida de sua sala no terceiro andar onde não era perturbado até o térreo.
O homem do olho esbranquiçado fez um cumprimento leve com a cabeça. Até mesmo a forma como se movimentava parecia angelical, como se ele desse o perdão divino. Era difícil imaginar um ser humano como ele em uma guerra, rodeado por morte e sofrimento. Ele era como a luz que deve ser seguida.
— Senhor diretor — começou de maneira mansa, a própria voz era uma oração —, meu nome é Raito, a Luz do Alvorecer, General Classe A da raça humana e chefe da primeira divisão do rei em Constantia. Este é Lloyd, da província de Perpetua, linhagem dos King, General Classe A da raça dos tótines.
O sobrenome King tinha impacto em qualquer região que se pronunciasse. Descendente de uma linhagem de humanos e uma raça mágica conhecida como tótines, a família King aperfeiçoara a magia a ponto de dominá-la sem precisar da influência de nenhuma feitiçaria ou mecanismo externo. Lloyd King era o responsável pela súbita mudança no tempo, um homem capaz de controlar elementos ligados ao gelo e usá-los para submeter seus batalhões a condições extremas.
O diretor acariciava as próprias mãos e só faltava esticar-se no chão para que passassem por cima dele.
— A que lhes devo a honra desta visita?
— Viemos olhar seus alunos — disse Lloyd King com sua voz grossa e charmosa. — Gostaríamos que reunissem alguns para uma exibição de habilidades.
— M-mas assim de súbito?
— Uma guerra não espera nossa hora de escolha para tomar início. São os que dormem com um olho aberto que não são pegos pelas ciladas — respondeu Raito. — Partimos hoje com aqueles que julgarmos dignos de andar ao nosso lado, então, espero que não nos deixe esperando.
Raito virou o rosto e, por um breve instante, seus olhos pararam em Auria. Ele parecia cego mesmo, seu olho direito era branco. Como alguém com a vista prejudicada conseguiu chegar tão longe?, perguntava-se. Estava diante de um general de verdade — com apenas quinze anos, Raito liderou a primeira divisão das tropas do rei contra Rudsi, da Coroa de Ferro, colocando um fim ao mal que atormentara Sellure por uma geração inteira. Tornou-se herói para o povo e foi reconhecido como um dos oficiais mais próximos do rei.
O diretor afastou-se e convocou uma reunião com os professores de cada área. Quantos alunos deveriam convocar? Para quantos dariam aquela chance? Os mestres e tutores haviam sido pegos tão despreparados quanto seus pupilos. Não havia a opção de fazerem fila nem organizarem uma votação, agora o que contava era o desempenho particular de cada um e as notas que vinham acumulando nos últimos anos.
Auria tentou acompanhar os oficiais, tinha muitas perguntas e elogios a fazer, mas os dois homens foram direcionados para uma sala em particular nos andares mais altos da torre principal onde não seriam perturbados. Só lhe restava esperar e torcer pela chance de dar o seu melhor, seu destino não estava mais em suas mãos.

ii

Raito caminhou até uma das janelas da sala que davam visão para a costa. A Ilha dos Geckos revelava-se magnífica no mar distante, o oficial não conseguia tirar os olhos dela. A temperatura no aposento despencara como se alguém tivesse deixado o ar-condicionado ligado uma noite inteira.
— Você não consegue se controlar mesmo... O que te faz preferir o frio? — perguntou Raito.
— As pessoas se vestem melhor — respondeu Lloyd, deixando o frigobar aberto enquanto procurava algo para beber sem sucesso. — Ao invés de nos adaptarmos ao calor litorâneo não seria uma boa ideia se as pessoas se adaptassem ao frio agradável de Perpetua? Afinal, como foi que viemos parar nesse fim de mundo? Eu não mereço estar aqui...
— Por que você veio então?
— Quis tirar uma folga dos afazeres na fortaleza.
— Por que não estou surpreso? — Raito soltou um suspiro.
Lloyd encontrou um vinho de uma safra razoável na adega particular do diretor. Como eram convidados ilustres, abriu a garrafa e logo compartilhou uma taça com seu companheiro. Os dois brindaram, Lloyd tocou o vidro com a ponta do indicador e cinco pequenos cubos de gelo se formaram. Raito teve de devolver um olhar reprovador.
— Ninguém toma vinho assim, é deselegante — ele disse com um sorriso de canto. Seu companheiro apenas deu de ombros.
Após um breve minuto para degustar a bebida, Lloyd espreguiçou-se no sofá e tentou ajeitar-se com toda aquela armadura pesada que só servia para intimidar.
— Acha que encontraremos alguém bom para nosso batalhão?
— Talvez. Nós também já fomos meros soldados Classe E, veja aonde chegamos. Encontramos os heróis onde menos se espera — respondeu Raito, mexendo sua taça. — Afinal, eu também iniciei meus treinos na Vila das Pérolas quando completei quinze anos. Parece que foi ontem... Estamos ficando velhos, Lloyd.
— Nem me fale. Eu gostaria de voltar para a época em que carregar uma espada me fazia sentir-se protegido e eu ainda acreditava que servir o exército me faria um herói.
— E a propósito, você viu a mesma pessoa que eu?
— Vi pelo menos uns trezentos rostos diferentes só na última hora — respondeu Lloyd. — Mas confesso que dentre eles pude distinguir garotas... notáveis. Estou pensando em convidar algumas para o meu batalhão, por mim não seria necessário nem um teste de admissão.
Raito fez um sinal para que ele olhasse pela janela. Havia uma garota alta de cabelos negros conversando com um rapaz.
— É uma das Mercer.
— Você só pode estar brincando. Pela graça de Araya, é ela mesmo. A mais nova, não? Eu me lembro dela como uma garotinha de vestido manchado na festa, isso já deve ter uns três anos. Essas mulheres amadurecem muito rápido... Está enorme agora, literalmente, tanto na altura quanto nos... — Ele moveu as duas mãos em torno do peito em gestos de apertar. — Impossível não notar.
— A Srta. Lydia exigiu que Auria ficasse o mais longe possível da guerra. A mera suposição de vê-la na linha de frente a enlouqueceria. Com o poder e a influência que sua família tem em mãos, não duvido que uma mulher como ela tenha movido algumas peças para manter sua irmã presa na academia de treino.
— O que uma Mercer quer, ela consegue.
— Nem tudo — Raito falou de forma enigmática, contemplando a paisagem. Virou-se para seu amigo e brincou ao falar de forma convencida: — Lydia ainda não me conquistou.
Raito sabia melhor do que qualquer um de sua boa aparência e posição como general. Lloyd só conseguia rir e balançar a cabeça.
— Pode ficar com ela — Raito respondeu com descaso.
— Você é o único homem que recusou a mulher mais desejada de Sellure.
— Poupe-me dessa, Lloyd. Aqui estamos nós, os dois primogênitos das famílias mais poderosas desse reino, discutindo como cavalheiros a mão da mulher mais insuportável que já existiu. — Raito riu e deu a última golada, bebendo como um degustador profissional. — Saúde.
— Mais vinho?
— Sem gelo. — Raito ergueu sua taça de cristal. — E, se perguntarem, estamos discutindo táticas de guerra.
— Você fala como se eu não soubesse.

iii

Os veteranos estavam devidamente posicionados. Nenhum novato recebeu chance. Foram escolhidos mais de cinquenta alunos da academia, cada um teria pouco mais de um minuto para demonstrar suas táticas e estratégias com um armamento de escolha dos professores, tendo como intuito destacar o fato de que a Vila das Pérolas tinha grandes peritos em todas as áreas.
Auria ficara quase vinte minutos conversando com um de seus professores para dar-lhe a chance de mostrar do que era capaz. A lista fora exposta no quadro de avisos no pátio e ela quase surtou quando viu seu nome em ordem alfabética, na terceira posição.
— Achei — Auria sentiu o coração palpitar mais depressa. Continuou seguindo a linha de seu nome com o dedo até que reparou no equipamento que haviam escolhido para ela: — Arco e flecha? Mas eu nunca acertei um alvo na minha vida!
O homem sentado na mesa ao lado apenas deu de ombros e falou:
— Perguntamos a um amigo próximo seu. Ele disse que você era boa.
— Eu sou péssima. — “Que amigo será que foi esse?”, pensou. — Escuta aqui, não tem como mudar? Por favor, coloque-me com uma espada ou até mesmo um machado, qualquer coisa menos arco e flecha. Não quero passar vergonha.
O homem pareceu concordar meio que contra sua vontade. Veria o que poderia fazer. Auria saiu dali embora não satisfeita e foi observar como os demais participantes se preparavam. Caso os generais selecionassem um indivíduo, este soldado seria promovido do Rank E para o D e estaria dentro do exército, pronto para iniciar uma nova fase.
Sua apresentação seria dentro de uma hora. Encontrou conhecidos por toda a parte, mas procurava por uma figura ruiva naquele meio, Ralph teria adorado aquele show. Foi surpreendida quando Yellem aproximou-se com sua bainha debaixo do braço, ele esticou-lhe a mão e os dois se cumprimentaram.
— Você deveria me agradecer, fui eu quem colocou seu nome na lista — afirmou Yellem.
— Sério? Te devo uma — Auria deu um soco no ombro do rapaz que até se afastou.
— Você será a segunda a se exibir, é bom estar preparada. E a propósito, escolhi arco e flecha como sua arma. Eu não sabia direito quais eram suas habilidades, então achei a opção mais viável para uma mulher delicada que precisa estar longe do perigo.
— Quanto a isso não poderei agradecer-lhe.
— Bem, o que posso fazer? Você não parece ser excepcional em nada.
Auria mordeu o lábio inferior e franziu o cenho, estava chateada com o que acabara de ouvir, mas não surpresa.
Yellem voltou a atenção para a arena de luta.
— Fique tranquila, tenho tudo sob controle.
A hora seguinte avançou depressa, logo Raito estava sentado sobre um palco improvisado e Lloyd jazia de pé ao seu lado, encarando cada aluno com atenção. Um vento leve soprava e o ar estava pesado, Auria desejou estar com sua jaqueta para protegê-la.
— Podemos começar? — o diretor perguntou com as mãos trêmulas. — O primeiro aluno da lista está pronto para começar sua apresentação, em ordem alfabética.
Raito aproximou-se do ouvido do diretor e falou bem baixinho:
— Comecem pelo oposto.
O diretor arregalou os olhos de pavor. Imprevisível, como sempre. Onde estava o último aluno da lista, alguém com a letra Z no primeiro nome? Assim que a informação correu solta, Auria sentiu-se péssima, pois agora seria a penúltima a apresentar-se e levaria horas até que chegasse a sua vez, isso se o oficial não estivesse farto até lá. Seguindo a ordem estabelecida, seu companheiro Yellem inauguraria as apresentações.
O rapaz foi até o centro da arena e fez um cumprimento cortês, mantendo o nariz empinado e o queixo erguido. A plateia permanecia em silêncio absoluto. Raito o encarou com calma, sem dizer nenhuma palavra, como se conhecesse aquele garoto há mais tempo do que se esperava. Rolavam boatos de que ele era algum parente da família. Se aquilo fosse mesmo verdade, fariam o possível para colocar Yellem dentro do regimento e não havia quem pudesse contestar. As peças se encaixavam com tamanha perfeição que era difícil não acreditar. Se Yellem garantisse seu espaço, se ele passasse, quem sabe pudesse levar Auria também?
“Tenho tudo sob controle”, ele dissera. Nunca antes teve tanta certeza de que os três longos anos de espera chegariam ao fim.
Yellem brandiu sua espada e começou com movimentos leves, como se estivesse em uma dança de esgrima. Pulava de um lado para o outro e estava o tempo todo se exibindo para seus colegas ao redor. Lloyd estava mais sério do que nunca. Yellem não percebeu que havia chegado a hora de parar e continuou sua apresentação por mais trinta segundos depois que seu tempo expirou e ninguém ousou interromper. Os oficiais não tiravam os olhos do estudante que finalizou a cena bem em frente ao palco e guardou sua espada na bainha, ajoelhando-se em sua frente. Raito levantou-se, os professores e mestres presentes na academia fizeram o mesmo. Observava os alunos com seus olhos insondáveis, a esfera branca no lado direito parecia conseguir enxergar os desejos mais profundos de cada um.
— Você é bom — Raito admitiu, procurando encorajá-lo. — Mas ainda não está pronto.
— Permita-me servi-lo, meu senhor — disse Yellem, procurando manter a compostura. — Permita-me protegê-lo na guerra e batalhar por nossa bandeira e aprender com os demais. Irei segui-lo e obedecê-lo, sou capaz de superar o medo ao seu lado, deixarei a arrogância e os maus hábitos. Prometo respeitá-lo como meu senhor até o fim de meus dias.
Yellem espiou de relance e viu que Raito continuava parado em sua frente. O oficial revelou um sorriso franco de compaixão, mas não lhe esticou a mão.
— Um belo discurso. Você é habilidoso com uma espada, apesar de que na guerra não terá tanto espaço para dançar. Suas palavras também não causariam danos. Volto a repetir: você não está preparado.
— Senhor — começou Yellem, perdendo-se em suas próprias falas. — Senhor, eu...
— Obrigado pela apresentação. Pode voltar ao seu posto.
— O senhor não tem o direito de me menosprezar!
O diretor da escola arregalou os olhos com a resposta grosseira. Yellem surtou ao ouvir risadinhas às suas costas. Raito respirou fundo e olhou para os mestres e professores da academia que não tinham palavras para expressar a vergonha quanto a tamanho desrespeito.
— Por que você acha que eu não tenho o direito? Não estou ofendendo ninguém, estou apenas aconselhando, mas me parece que você não sabe receber críticas construtivas — disse Raito. — Estou selecionando soldados, e não as crianças mais comportadas para uma excursão.
— O meu pai — Yellem começou —, ele é grande. É um homem respeitado. Se você não...
— Qual seu sobrenome?
— Chermont.
— Muito bem, jovem Chermont, eu não faço ideia de quem seja seu pai, mas há poucos homens neste reino que podem me dar ordens. Eu só recebo ordens do rei — falou Raito num tom autoritário —, ele, sim, é ordem e justiça absoluta.
Assim que parou, o oficial dirigiu seu olhar para Yellem.
— Eu ouvi o suficiente por hoje. Jovens com técnica, mas sem caráter. A Vila das Pérolas não está pronta para oferecer seus alunos para a Fortaleza da Pedra Azul em Constantia. Recomendo que parem de tentar copiar seus ídolos e heróis, vocês não repetirão os mesmos feitos das lendas que marcaram época; vocês não são eles. Agradeço a compreensão e paciência, dediquem-se e continuem treinando para serem autênticos e eficientes. Para este novo semestre que se inicia, desejo apenas que sejam melhores.
Raito retornou para o palco, agradeceu a visita dos professores e ofereceu-se para enviar mais recursos de modo que pudessem aprimorar a base na academia.
— Eu muito estimo este lugar — disse com a voz tranquila —, mas o nível parece ter decaído um pouco.
Ele virou-se com seus homens para deixar a Vila das Pérolas. Yellem continuava com os joelhos dobrados no chão, suas mãos tremiam e alguns amigos o consolavam. Auria estava pasma, pensava na maneira como Yellem agira, nos boatos falsos e em seus planos que terminaram frustrados. Ela nem mesmo tivera a chance de apresentar-se. Na tensão do momento abandonou o pátio e correu para onde o pequeno esquadrão de escolta de Raito seguia. Dois soldados a abordaram quando a viram correndo e o próprio Lloyd virou-se ao ouvir uma voz gritar:
— Esperem! Por favor, esperem!
Lloyd tossiu e falou com discrição no ouvido do companheiro:
— É a irmã da Lydia...
Raito concordou com a cabeça e voltou-se cordialmente para ela.
— Auria Mercer. — Sorriu da maneira mais educada e prestativa que conseguiu.
— O senhor sabe meu nome? — Talvez ainda tivesse uma chance. — Por favor, senhor Raito, dê-me a oportunidade de mostrar a minha capacidade e servi-lo. Sou veterana do curso, estou aqui há três anos e nunca estive tão pronta.
Ele respirou fundo e pediu para que seus soldados aguardassem um instante.
— Eu permitirei que você entre no meu regimento — disse Raito, fazendo uma pausa curta —, se me responder apenas uma pergunta.
Auria sentiu seu coração acelerar. Ela acenou com a cabeça diversas vezes, esperava todo o tipo de questões impossíveis e particulares, mas Raito foi claro ao recitar:
— Você está preparada para morrer pelo seu povo?
— Sim, mais do que tudo nessa vida — Auria respondeu com convicção.
— Então, desculpe-me, mas você não está preparada para entrar em meu batalhão.
Ele virou-se, deixando para trás a guerreira imersa em suas palavras. Os dois oficiais caminhavam com passos firmes, Auria não entendia como aquela poderia ser a resposta errada e precisava ouvir de alguém que respeitava:
— Senhor, só me responda uma pergunta também... — ela falou com a voz trêmula. — Por quê? Por que não estou preparada?
Raito pensou em todas as respostas possíveis, naquelas que destruiriam sonhos e naquelas que a empenhariam a continuar tentando. Palavras bondosas e categóricas, ou diretas e sucintas?
— Você é... fraca, Auria. Pensa que apenas com coragem, heroísmo e força de vontade vai ser capaz de mudar o mundo, mas não é assim que as coisas funcionam.
Não houve nenhum “treine mais” ou “continue tentando”. Era como se não houvesse esperança alguma para alguém como ela. As palavras doíam mais em seu peito do que no de qualquer outro.
Quando os oficiais estavam a uma distância razoável, Lloyd comentou com discrição:
— Acho maldade a Lydia não deixar a irmã mais nova entrar no exército. Ela parece boa.
— Prefiro perder um bom soldado a ouvi-la gritar na minha orelha quando voltarmos — respondeu Raito. — Além do mais, a irmã do meio, Diana Mercer, é minha estrategista. Como acha que ela se sentiria ao ter de mandar a própria irmã para a linha de frente? Ninguém nunca estará pronto para isso. Essa garota estará protegida aqui, longe da guerra. Não devemos incitá-la a continuar tentando. No fim desse semestre, daremos as condições para que ela volte para casa.
Raito pensou em como alguém construiria uma reputação de respeito sendo que sua família era forte e influente por si só. Durante toda a vida lutara para ser reconhecido, não tivera um pai presente para guiá-lo e no fundo invejava qualquer um agraciado pela oportunidade.
— Vou ser sincero com você, Lloyd. Torço para que um dia Auria Mercer seja capaz de libertar-se das correntes que a prendem. Porque quando esse dia chegar, ninguém vai conseguir impedi-la.
— As Mercer são poderosas por nascença — comentou Lloyd. — Abençoada seja esta família de mulheres lindas!


 

sábado, 24 de junho de 2017

Arte #20 - Ralph e Auria Genderbend

Opa, tem alguma coisa muito diferente com esses dois... não tem? E quem diria que no fim das contas Ralph e Auria combinariam muito com seus gêneros invertidos! Vamos tentar sintetizar  Ralphete é uma protagonista ingênua, fofa e atrapalhada (difícil não se apaixonar) só de imaginá-la torrando a paciência de Aurion, um sujeito sério e fracassado na vida, para que ele a acompanhe em uma longa aventura por Reino de Sellure. Já consigo imaginar um livro completamente diferente! Se bem que isso tem mais cara é de shoujo *risos*

Brincadeiras à parte, é muito comum encontrar fanarts na internet com o tema Genderbend, quando invertemos o sexo do personagem. No futuro, quem sabe ainda veremos Lee e Hayley, como Leyla e Harley  um pequeno garotinho furry enfeitiçado encontra-se com uma mulherona belíssima de cabelos longos e óculos escuros! Tem como não se apaixonar?

E o Lesten fêmea, como seria? Acho que... sei lá, o Lesten com batom e um laço vermelho na cabeça *risos*



quinta-feira, 22 de junho de 2017

Arte #19 - Os Antagonistas

Já que eu postei essa imagem meio que "acidentalmente" no wattpad, acho mais do que justo vir compartilhá-la com os leitores do blog também que sempre tiveram prioridade e me acompanham nessa jornada há tanto tempo.

O que aconteceu é que eu devo ter terminado de colorir essa arte há mais de um ano, talvez lá pra de Abril de 2016. Eu nem me toquei que eu nunca cheguei a mostrá-la para os leitores, só para alguns amigos mais chegados, então disponibilizei-a num capítulo de "Notas do Autor" do wattpad como uma forma de plantar a curiosidade.

Quem arriscou o palpite de que eles eram os antagonistas da jornada, acertou! Esses são os guardiões da Ordem do Selamento que se colocarão no caminho de Ralph e seus amigos. Aos poucos começarei a preparar a ficha deles com mais algumas informações, detalhes e a arte oficial. Demorou, mas um dia eu precisava mostrar para vocês ou eu mesmo acabaria ficando louco, não gosto de deixar nada escondido no meu pendrive, rs. Até lá, divirtam-se!

quarta-feira, 21 de junho de 2017

Novos Capítulos e Wattpad!

Opa, essa semana tem novidade, galera! O Matéria agora encontra-se disponível também na plataforma Wattpad, onde estarei disponibilizando a obra até que encontremos uma editora.

Estive conversando com uma galera e pedi opinião sobre publicar mais capítulos online ou não. Há quem diga que as editoras não gostam que uma obra já tenha sido previamente publicado na internet, mas depois de muito pensar ainda sinto que acabarei investindo na Publicação Independente. Para isso dar certo, eu precisaria de um público, mas nunca vou encontrar esse público deixando minha história escondida numa pasta obscura do PC...

Quando saem capítulos novos?

Todas as sextas voltarei a trazer um capítulo inédito para vocês (saudades Aventuras em Sinnoh?). Esses capítulos também serão postados no Wattpad por um tempo indeterminado, não sei se ao publicar a obra eu acabarei tendo que apagá-los, mas o que eu sempre busquei foi mostrar minhas histórias para as pessoas, tudo que quero é que as pessoas leiam não importa como. Há quem prefira ebooks, outros gostam mesmo do livro impresso, pois com o tempo garanto que farei todos.

Quer dizer que você vai publicar a história inteira de graça?

Ainda não sei se publicarei a obra inteira ou até a metade. No momento, meu foco é alcançar o Capítulo 10 que é onde conhecemos Lesten e os personagens são lançados em uma nova busca, mas posso seguir até o 32 que é onde costumo dizer que termina a Parte 1. Vai depender muito da minha empolgação, rs.

A vantagem disso é que poderei corrigir pequenos defeitos que só uma segunda opinião traria. Dessa forma eu também não fico parado e posso continuar atualizando os especiais do blog conforme avanço na história principal sem me perder.

Eu não estou desistindo de publicar o livro, muito pelo contrário, sinto que esse seria um ótimo recomeço dessa jornada. Até que eu junte o dinheiro necessário, posso me manter focado em meus personagens e não desistir deles, então peço que também não desistam desse velho autor!

Aquele abraço.

segunda-feira, 19 de junho de 2017

Arte #18 - Pizza Night

Tem coisa melhor do que uma rodada de pizza à noite com os amigos? Vez ou outra pode até ser bacana sair para balada e encher a cara de bebidas, mas particularmente também sou fã de compartilhar uma noite sossegada junto desses mesmos amigos e nos reunirmos para jogar Mario Kart, relembrar histórias vergonhosas ou só trocar uma ideia mesmo. Se você também tem bons amigos para compartilhar esses momentos, cuide deles como o seu tesouro e valorize esses pequenos momentos!

A arte de hoje veio para ilustrar o menu dos nossos Supports Conversation. Sabe do que se trata? É exatamente o que você está vendo no desenho! Os supports são capítulos extras onde você pode deixar sua sugestão de tema e personagens que farão parte de um evento aleatório, como uma noite de pizza entre amigos. Geralmente esses episódios não possuem nenhum vínculo com a história central, mas são uma boa maneira de divertir-se com momentos hilários e improváveis.

domingo, 18 de junho de 2017

O Acampamento de Verão [Support]

Support Conversation (Ralph e Companhia)
Gênero: Comédia;
Tema: Acampamento de verão, sorvete, batatas,
momentos fofos, discussão de bolacha e biscoito;
Sugestão da leitora: Shiny Reshiram.


— Você tem certeza de que estamos seguindo pelo caminho certo? — perguntou Lee.
— E tu ainda duvida de minhas capacidades perceptivas como caçador e exímio explorador de zonas remotas? — respondeu Lesten, guiando seus amigos cada vez mais a fundo na mata. — Só precisamos continuar nesse percurso por cerca de... umas três horas e meia, logo chegaremos lá.
Auria estava começando a cansar-se de tanto andar, mas prometera que passaria um fim de semana inteiro sem reclamar pelo bem maior. Deixar Lesten na liderança nunca era uma boa ideia.
— Acho que deveríamos voltar — falou a mulher.
— Como vocês enchem o saco! — resmungou o lagarto. — Eu estava brincando quando disse que iríamos demorar, é só subir essa ribanceira. Apreciem com moderação.
Eles não estavam muito longe da casa em Pequena Colina, mas ninguém havia explorado além dos limites entre as montanhas. Não importava o quanto pensassem que conheciam aquela região, sempre existia algum segredo inédito a ser descoberto nos confins mais misteriosos de Sellure.
 A visão dos oceanos de Myriad era deslumbrante, havia uma nascente que percorria seu caminho direto em uma cascata que desaguava no riacho local, oferecendo vida à natureza e às criaturas da região. A clareira isolada no meio da floresta era onde Lesten planejara ficar. Ninguém viu sinal algum de monstros nas redondezas, as árvores ofereciam boa proteção e um local agradável para dormir enquanto apreciavam as estrelas ao anoitecer.
Ralph parou na beirada de uma pedra elevada que dava visão para toda a ilha e levou as mãos à cintura.
— Uau. Só isso já fez valer a caminhada — disse o garoto, agradecido pela oportunidade de poder presenciar aquela paisagem junto de seus amigos.
— Bom trabalho, lagartixa — comentou Auria, dando um tapão nas costas de Lesten.
— Eu disse que sou um exímio explorador. Já vasculhei cada canto dessa ilha e cada hora encontro alguma coisa nova, parece que ela está sempre se modificando. Trata-se de um prato cheio para aventureiros experientes como eu.
— O que estamos esperando? — Ralph continuou. — Vamos montar as barracas e começar a nos divertir?
Os jovens aproveitaram a luz do dia para instalarem devidamente suas barracas. Apesar de todos já estarem acostumados a dormirem ao relento, a ideia de um acampamento de verão era completamente nova. Frequentemente suas longas viagens por Sellure eram ocasionadas por um objetivo maior ou um senso de urgência, mas dessa vez eles estavam ali simplesmente para aproveitarem e terem um tempo compartilhando bons momentos e criando novas memórias.
— Essa caminhada toda me deu uma fome — falou Auria, sentando-se de pernas cruzadas. — O que vocês preparam para comer?
— Eu e o Lee ficamos fazendo sorvetes a noite inteira! — disse Hayley, vasculhando sua bolsa e mostrando os mais de quinze sabores diferentes que eles haviam feito. — Chocolate, morango, uva, leite condensado, flocos, baunilha, napolitano, besouro, carne... tem um montão deles, podem escolher o que quiserem!
— Eu sempre quis provar um de besouro — falou Ralph, pegando o picolé que tinha a coloração esverdeada mais suspeita. — Será que tenho chances de encontrar um premiado?
— Eu peguei um que tinha uma patinha inteira! — respondeu Lesten, enfiando o sorvete inteiro na boca.
— Vocês têm uns gostos tão convencionais — disse Auria com uma risada, apoiando as costas sobre uma árvore. — Acho que vou ficar com um de uva mesmo.
Hayley tentou provar um sabor de cada, mas sua língua já estava começando a ficar gelada. Lee quis repetir cinco vezes.
O vento que soprava no alto da montanha arrastava uma sensação gélida pelo corpo, a noite seria impiedosa, por isso seria crucial construírem uma fogueira que aguentasse até a madrugada seguinte.
— Só tô avisando que não vou fazer a guarda noturna em hipótese alguma. Não estamos caçando monstros, não estamos em nenhuma missão pra salvar o mundo, então só aceito ser acordado em casos de extrema importância — disse Lesten.
— Como se você conseguisse dormir até tarde. Às seis da manhã já estaremos caçando insetos, ou você nem teria vindo — brincou Ralph.
— A mulher eu sei que consegue. Ela parece um urso hibernando.
— É o meu sono de beleza, sua lagartixa desgranhenta. — contestou Auria. — Acha mesmo que é fácil manter essa aparência linda e natural logo quando acordo?
— Tu parece um filhote de dragão quando acorda, isso sim. Sai soltando fogo para todos os lados!
— Eu vou virar um dragão mesmo se precisar continuar discutindo com um réptil imbecil feito você.
— Ei, ei — Lee intrometeu-se na conversa, indo para perto de Auria e Lesten e sentando-se entre eles para separá-los. — Nós viemos aqui para relaxar e deixar os problemas de lado. Por que vocês não tentam se comportar feito adultos ao menos uma vez na vida? Vejam só o Ralph, ele sim está fazendo algo útil e recolhendo madeira para construirmos uma fogueira antes do anoitecer.
— Pessoal, quem quer me ajudar a construir uma fortaleza?! — Ralph berrou lá de longe.
Lesten foi o primeiro a levantar-se, afinal, não descansaria enquanto não concluísse sua fortaleza épica escondida no meio da floresta.

Em menos de vinte minutos, os dois desistiram da ideia da fortaleza. Lee reunira alguns gravetos e utilizara um selo de fogo para acender a chama que usaria para preparar o almoço. Eles haviam separado algumas especiarias como temperos e panelas, mas a proposta do acampamento era que ele pudessem se alimentar com o que a floresta pudesse oferecer.
Caso tudo desse errado, Hayley trouxera uma bolsa escondida forrada com pacotes de miojo que comprara no vilarejo antes de partir.
— Isso aqui tá parecendo uma das nossas missões chatas, só que sem a empolgação de derrotar um monstro gigante no final e nem receber recompensas — disse Lesten, entediado de ficar olhando a fogueira crepitar. — De quem foi essa ideia tosca de acampar mesmo?
— Foi sua, bestão — respondeu Auria. — Se não está gostando, volta pra casa.
— Ah, não... Maior preguiça.
Lesten acomodou-se em cima de uma enorme rocha, mas estava tão irrequieto que não conseguia ficar mais de um minuto num mesmo lugar.
— Bem que a gente podia ter trago uma televisão daquelas grandonas, aí nos deitávamos debaixo das cobertas e assistíamos um filminho de romance ao ar livre. O que acham da ideia?
— Isso acabaria completamente com a ideia de acampar! — respondeu Ralph. — Vamos lá, galera, deixar as comodidades e a tecnologia um pouco de lado. Vamos sair para pescar, compartilhar histórias, explorar! Querendo ou não, mesmo quando estamos numa mesma casa tem vezes que nem nos falamos. É como se só o nosso corpo estivesse lá, fazendo nossas atividades costumeiras. Precisamos passar por algumas experiências diferentes!
Quando Lee abriu a tampa da panela, um cheiro forte de comida queimada saiu junto de uma fumaça negra que se alastrou pelo céu, dissipando-se com o evento. Aparentemente, seu arroz não tinha dado muito certo. Ele respirou fundo e controlou-se para não quebrar a panela no meio.
— Maldição, o fogo de selos elementares é diferente de um fogão...
— Delícia, eu amo arroz queimado! — falou Lesten, lambendo os beiços.
— Você comeria até pedra se deixássemos — Auria resmungou.
— Nós precisávamos seriamente de um cozinheiro na equipe — continuou Ralph.
— E agora, nós vamos passar fome? — choramingou Hayley.
Lesten foi o primeiro a levantar-se.
— Nada temam, meus humanos. Eu posso caçar algo na selva — disse o gecko. — Volto em meia hora! Guardem o arroz para mim e tentem não se matar.
Assim que Lesten afastou-se do grupo, Lee perguntou:
— Quais são as chances de acontecer alguma coisa errada e ele nunca mais voltar?
Todos chegaram à conclusão de que eram enormes.

Seus amigos duvidavam de sua capacidade, mas Lesten realmente era muito hábil em virar-se na selva. Durante anos vivera em uma cabana isolada na Ilha dos Geckos, uma vez que tinha a entrada proibida no centro tinha de se virar com o que conseguia encontrar na praia — mas quando seu instinto preguiçoso falava mais alto, ele se conformava em ir até o mercado mais próximo para repor seu estoque de enlatados e salgadinhos de pimenta.
— Estou com uma estranha vontade de comer alguma coisa que não sei o que é — murmurou Lesten para si mesmo.
Ele poderia muito bem caçar animais grandes ou pescar peixes no riacho, mas seu encontro inusitado com uma estranha espécie de planta veio em boa hora.
— Olha só, batatas — comentou Lesten. — Amo batatas, todo mundo ama batatas. Eu não sabia que elas nasciam nesse tipo de região. Vai ter que servir.
Após recolher um número razoável, Lesten voltou para o acampamento de seus amigos com uma mochila cheia.
— Galera, encontrei o nosso almoço! Deixem que o lagartão aqui prepara a comida, porque com o temperinho certo vocês vão ver porque a culinária gecko é celebrada em toda Sellure!
Lee já fervera a panela, assim que Lesten virou a bolsa, inúmeras pedras pretas caíram e espirraram água fervente para todo lado. Ralph deu um pulo, Lee arrancou Hayley de perto do fogo e Auria não gostou nem um pouco da brincadeira.
— Que ideia idiota foi essa, Lesten?
— Eu nunca tinha ouvido falar que geckos comiam pedras também — Ralph comentou enquanto chegava bem perto bem perto da panela. — Espero que tenha muitos minerais.
— Do quê estão falando? — Lesten falou assustado ao perceber que os ingredientes que trouxera não eram os corretos. — Mas eu colhi batatas, mano. Baixinhas, gordinhas e suculentas, tinha um monte delas lá em cima!
Auria não conseguiu esconder a risada.
— Então agora a lagartixa não sabe distinguir uma batata de uma pedra?
— Não, bicho, tô falando sério — resmungou Lesten. — Ah, quer saber? Já tenho fama de mentiroso, então só vou lá colher mais algumas...
— Eu vou com você! — disse Ralph ao levantar-se.
Enquanto eles subiam a colina, o jovem comentou:
— Eu acredito no que você disse, amigão. É muito estranho que essas pedras tenham se transformado em batatas de repente. Será que você não está sob alguma espécie de feitiço?
— Até tu? Tô falando que eram batatas, vou ter que mostrar pra não acharem que sou louco!
Assim que Ralph e Lesten chegaram ao local onde as batatas foram cultivadas, eles se surpreenderam por não haver mais nenhuma. Lesten estava boquiaberto e fez seu amigo prometer que não contaria aquilo para Auria, afinal, talvez ele realmente tivesse ficado louco e pego algumas pedras no lugar da comida.
— Rapaz, devo estar precisando de óculos... Eu juro que eram batatas.
— Agora sou eu que estou ficando com fome — murmurou Ralph, que endireitou-se ao perceber um estranho movimento na mata. — O que foi isso?
Havia uma pequena criaturinha em cima de uma rocha cercada por pedrinhas menores. Ela tinha braços e perninhas curtas, seu corpo tinha recheio e era achatado, parecendo ter sido feito de farinha. Lesten era conhecido por ser um Caçador de Monstros experiente e mesmo com seu vasto repertório de criaturas exóticas ele nunca tinha visto nada parecido.
— Isso parece um... biscoito. Com perninhas e bracinhos.
Isso é quase tão fofo quanto a Hayley — disse Ralph, frisando o quase.
Ele agachou e tentou chegar perto da criaturinha, chamando-a como se fosse um gato.
— Psiu... Psiu... Vem cá, bolachinha.
— Não, cara, tu tá fazendo errado.
— Como assim? — perguntou Ralph. — Existe uma onomatopeia correta?
— Primeiramente, se acabamos de encontrar uma espécie de monstro ainda não catalogado, o certo seria que nós déssemos um nome para ele e o registrássemos — disse Lesten. — E levando em conta que estamos em dois, seu nome científico teria de ter a ver com nosso nome, algo como Ralphomo lescrackers, que na língua comum significa “Homem Biscoito”.
— Mas ele tem recheio no meio, então é bolacha.
— HAH! — Lesten quase cuspiu na cara de seu amigo. — Bolacha, faz-me rir. Não existe bolacha, criança inocente, é tudo biscoito.
— Só estou dizendo que onde nasci nós chamávamos de bolacha, eu pensei que o correto seria...
— Não, não, não. É biscoito e ponto final. O especialista em monstros aqui sou eu, você é só o protagonista, então me deixa ter alguma participação importante nessa história também — Lesten aproximou-se do pequeno Homem Biscoito e pegou-o entre as patas. — Vamos leva-lo para conhecer nossos amigos, Sr. Biscoito.
Ao retornarem para o acampamento, Auria parecia ter queimado os ovos que encontrara e o almoço provavelmente só sairia no horário da janta.
— Pela graça de Araya, que cheiro de defunto é esse? — indagou Lesten.
— É a Auria na cozinha — comentou Hayley. — Pelo menos nós tentamos...
— Mas isso não faz sentido — disse a mulher. — Eu sei que sou uma negação na cozinha, mas estragar ovos é a primeira vez.
— Galera, um minuto de sua atenção. Quero que vocês conheçam nosso mais novo mascote — falou Lesten, revelando a criaturinha que estivera escondida. — Esse é o Sr. Biscoito.
Ao ver a criatura, Hayley esboçou uma feição de choro e correu para dentro da barraca.
— Ih... O que deu nela? — perguntou o lagarto.
— Você sabe que a Hayley é o nosso mascote, Lesten! Maldade você dizer que encontrou um novo para substituí-la — falou Auria.
— Foi mal, foi mal! É que eu encontrei essa criaturinha aqui e ela me pareceu tão doce e inofensiva que dá vontade de comer...
— Isso parece uma bolacha com perninhas... — comentou Auria.
Até tu? Que tipo de problema tu precisa ter pra chamar isso aqui de bolacha, tá na cara que é um biscoito, BIS-COI-TO.
— Lesten, pega leve, cada província de Sellure provavelmente tem uma forma diferente de chamar — disse Ralph. — É claro que humanos e geckos recebem uma criação diferente, por ter conhecido um pouco dos dois lados eu saberia a forma correta, mas estou certo de que isso é uma bolacha.
— Não. Meu melhor amigo está me traindo com uma... bolacha! — falou Lesten, afastando-se do acampamento com o Sr. Biscoito em seus braços. — Vamos sair daqui, tesouro amado. Não se misture com essa gentalha.
Enquanto se afastavam, Auria teve certeza de que viu aquela criaturinha abominável mostrar-lhe a língua antes de sumir de vista.
— Fala sério, geckos estão entre as criaturas mais teimosas do mundo — ela disse com uma risada, voltando a atenção para Ralph. — Mas e aí? Quer fazer alguma coisa já que estamos aqui?
— Depende... Eu nunca sei que tipo de coisa você se refere — comentou Ralph.
— Podemos ir dar um mergulho na cachoeira. Se minha memória e meu nariz não me falham, essa semana você ainda não tomou banho e você costuma odiar banhos, então pensei em nos divertirmos um pouco.
— Se você conseguir me pegar! — o garoto respondeu após sair correndo.
Ralph e Auria seguiram o percurso da nascente até uma bela cachoeira que percorria uma curva tênue até o vilarejo sob o pé da montanha. Agora que tinham um momento a sós, pela primeira vez começavam a sentir como era acampar de verdade. Não precisavam se preocupar com a possibilidade de monstros estarem à espreita e nem de lutar contra o relógio, só precisavam relaxar e curtir o fim de semana.
Auria ficou só de regata, erguendo a barra da calça. Dava para enxergar suas marquinhas de sol assim como uma parte do sutiã, o que já era o suficiente para deixar Ralph extremamente envergonhado. Desde que conhecera o menino, costumava enfiá-lo dentro de uma banheira ou de um riacho mais próximo só para que ele se molhasse e passasse um pouco de perfume. Uma vez que certas espécies de geckos não eram afeiçoadas a água, Ralph compartilhava a repulsa.
Auria sentia como se precisasse cuidar dele como se fosse sua irmã mais velha.
— Quando eu não estiver por perto, como é que você vai se virar para fazer essas coisas? — perguntou Auria com um sorriso enquanto jogava água no cabelo do mais novo e enxaguava sua cabeça.
— É simples. Eu não vou — respondeu Ralph como se aquela fosse a solução mais óbvia, mas ele logo recebeu um cascudo na cabeça. — Era brincadeira... É só que eu não acho que é preciso tomar banho tooooodo santo dia, ainda mais quando faz aquele friozinho. Precisamos economizar água.
— Você está tomando banho em um riacho, não precisa economizar nada — Auria brincou. — Eu até concordo que tomar banho no frio é dureza, mas tem muitas coisas que podemos fazer no frio para nos aquecermos, sabe?
— Tipo o quê?
— Coisas... — Auria deu uma risadinha sem graça, tentando mudar de assunto. —Quando o inverno chegar, vou preparar um pouco de chocolate quente para nós.
— Eu amo chocolate quente — falou Ralph, virando-se para Auria de maneira tão súbita que ela chegou a assustar-se. — Posso te contar um segredo?
— D-depende — respondeu Auria, meio corada.
— Eu amo comer algo que começa com a letra A. Sabe o que é?
— Prefiro não arriscar...
— Abacate. Dizem que faz bem para o cabelo, né? Eu queria que o meu fosse bonito que nem o seu.
— Ah, claro — ela revirou os olhos e deparou-se com uma cena curiosa. — Ei, não é o Lesten ali em cima daquela pedra?
Ralph virou-se e chamou por seu amigo gecko que estava apoiado sobre os joelhos em uma posição muito estranha, acariciando sua própria mão.
— O que raios ele está fazendo? — perguntou Auria.
— Meu preciossssssssoooooo... — murmurou Lesten com o Sr. Biscoito entre seus dedos. O lagarto soltou um grunhido contra seus amigos e escalou uma parede de rochas, sumindo de vista.
— Essa foi a coisa mais bizarra que vi nessa semana — falou Auria. — É melhor voltarmos para o acampamento.
Assim que retornaram, já estava começando a escurecer e Lee ainda tentava cozinhar o que quer que tivesse sobrado em sua mochila de provisões, mas sem obter muito sucesso.
— Pessoal, do jeito que as coisas estão andando nós teremos que voltar para casa ainda essa noite. Não consigo cozinhar nada, está tudo queimando, estragando ou evaporando — disse Lee, amassando uma colher de ferro com uma mão só como se fosse um palito de dente. — E isso está me deixando muito, muito irritado.
— Calma, grandão, tem algo estranho acontecendo... — disse Ralph. — Onde está a Hayley?
— Ainda está triste porque o Lesten falou que arranjou um novo mascote. Está deitada lá na barraca lendo uma revista em quadrinhos dos heróis da primeira geração: A batalha de Capitão Canas, Tokay Asa Negra e General Defesa contra o Devorador de Corações.
— Eu vou falar com ela — falou Auria, sempre preocupada com o bem estar de seus companheiros.
Ralph sentou-se perto da fogueira, mas não teve tempo para relaxar, pois ouviu um barulho estranho na escuridão densa da mata. Havia deixado Lignum em casa, não achou que precisaria de sua espada de madeira em um acampamento para divertir-se, mas talvez julgara mal aquelas colinas inóspitas. Ali, havia um mal mais antigo do que eles poderiam prever.
— O que houve? — perguntou Peter Lee com a voz séria.
— Não é nada... Acho que foi só um mosquito — respondeu Ralph.
Nesse instante, uma criatura extremamente ágil pulou em sua direção e atacou-o com mandíbulas e garras ferozes. Lee levantou-se e conseguiu arrancá-lo de cima de Ralph antes que o jovem fosse ferido, mesmo que a criatura fosse muito pesada. Ela escondeu-se nas sombras antes de repetir o ataque, era possível ouvir seus ganidos enquanto os dois mantinham a posição de alerta.
— Que monstruosidade abominável das profundezas é essa? — indagou Lee. — Posso ter deixado minhas manoplas em casa, mas não preciso de luvas para acertar uma boa pancada em quem tentar ferir meus amigos.
— Espera um pouco, é o Lesten! — berrou Ralph.
O lagarto parecia completamente fora de si, saliva escorria de sua boca e seus olhos vermelhos brilhavam como um animal prestes a atacar sua presa. Quando o lagarto estava prestes a avançar, sua voz esganada emitiu murmúrios de aflição:
Vocês não vão roubá-lo de mim!
Ralph esquivou-se com agilidade, mas não queria ferir seu amigo. Lee não pensava da mesma forma, por isso usou a primeira tora de madeira que encontrou para acertar Lesten na cabeça e deixa-lo completamente incosciente.
— Nós... matamos o Lesten! — gritou Ralph.
— Merda, eu sempre mato as coisas sem querer... — murmurou Lee. — Acha que as meninas iriam reparar se nós escondêssemos o corpo e colocássemos uma lagartixa de enfeite no lugar?
— A-acho que sim... Nós chegamos aqui em cinco e vamos voltar apenas em quatro, seria muito suspeito...
Foi então que uma sombra formou-se através da fogueira, parecendo criar vida. Ela elevou-se até transformar-se em uma aberração sem nome, a criatura estava diante dos dois aventureiros quando falou com sua voz aterrorizante:
— Vocês que brigam por meu nome, saibam que eu os torturarei eternamente enquanto não pararem de se divertirem às minhas custas! Eu não sou o Homem Biscoito e nem o Homem Bolacha, meu nome é Dimen, o manipulador de dimensões, e eu os condeno à morte!
Quando a sombra estava para ataca-los, subitamente ela gritou e desapareceu como se tivesse sido sugada para o vazio.
Ralph estava caído no chão quando viu Hayley do outro lado, ela havia pisado no que restou do Sr. Biscoito com suas perninhas e migalhas espalhadas ao redor.
— Hayley, você o derrotou! — falou Ralph.
— Eu odeio biscoito, odeio bolacha, ou o que quer que vocês chamem isso. Só existe lugar para uma criatura fofa nessa história — falou Hayley, parecendo mais assustadora do que o costume. — Aquilo era um Formless, uma espécie de monstro inofensivo de classe baixa que encontramos por toda parte. Eles assumem a forma de coisas do dia a dia, como animais, objetos ou até alimentos. Acredito que o nosso amigo Dimen seja apenas um monstrinho chateado com o fato de sempre errarem seu nome.
— Eu... já disse... que é... BISCOITO! — berrou Lesten, após recuperar-se da pancada que levara de Lee. — Cacetada! Por algum motivo eu estou com uma tremenda dor de cabeça e eu espero que vocês tenham uma explicação para isso.

O grupo sentou-se em volta da fogueira e compartilhou toda a história desde que Dimen tomara controle da mente de Lesten para que ele se tornasse seu porta-voz. A comida estragada se devia a uma magia reversa utilizada pelo monstrinho Dimen, ele era capaz de inverter as habilidades das pessoas, tornando um bom cozinheiro em um péssimo, assim como atender a desejos criando ilusões como quando Lesten queria batatas e acabou recolhendo pedras no campo.
Já que não havia mais nada a ser feito, Ralph ferveu um pouco de água e cozinhou os pacotes de miojo, a única coisa que sabia fazer. Para a surpresa de todos, estava uma delícia.
— Uau, esse é o melhor macarrão instantâneo que eu já provei — falou Auria.
Lesten deixou seu prato de lado no mesmo instante.
— Mulher, qual é o teu problema? Não tá na cara que isso se chama miojo? É melhor tu parar de criar nomes complexos para as coisas, porque eu não quero arranjar confusão de novo — resmungou Lesten.
— Eu pensava que isso era lámen — comentou Hayley, decepcionada.
— Vocês não sabem ler? Está escrito Cup Noodles na embalagem, então se chama Cup Noodles, porra — continuou Lee, educado como sempre.
— Gente, quem se importa? Vai tudo pro mesmo lugar! — respondeu Ralph com uma risada, divertindo-se só pelo fato de estar com seus amigos.
Porém, em algum lugar naquela longínqua floresta no topo da colina, uma criatura sinistra e solitária planejava seu próximo plano.
“Isso, minhas crianças, discutam o nome de origem desse alimento sem importância... Enquanto isso, eu, Dimen, estarei trabalhando em meu plano perverso de retorno para destruí-los e dominar toda Sellure! Muah, hah, hah, hah!”
Mas enquanto ria histericamente, um passarinho apareceu e começou a ataca-lo por confundi-lo com alimento.
“Malditos sejam! Eu voltarei!”


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