O grande Tolkien começou uma das maiores histórias que o mundo já viu com "[...] em um buraco no chão vivia um Hobbit", gosto de brincar ao dizer que comigo foi por causa de uma lagartixa humanoide.
Eu tinha apenas 10 anos no ano de 2005 quando criei a primeira história que tenho registro, antes disso eu já adorava desenhar, mas digamos que eu apenas rabiscava aleatoriedades. Ah, e ainda lembro como se fosse hoje! Era uma tarde de sábado, sentei-me na mesa de estudos de minha irmã disposto a montar meu primeiro gibi com pouco mais de 15 páginas. Foi ali que surgiu nosso Ralph, um garoto que saía junto de seus amigos — Lesten, o lagarto invocado; e Facade, um rosto sem corpo flutuante — para salvarem Aleafar, a princesa indefesa que não servia para nada na história. Ah, e o vilão final se chamava Dark, nada mais do que uma sombra do protagonista no nível mais clichê possível, e que no final revelava ser seu irmão gêmeo. Que doideira, não?
Foi com esse passatempo naquele formato de livretos que eu percebi que adorava contar histórias. Eu tinha tantas ideias e sentia a necessidade de colocá-las em algum lugar. Durante anos eu desenhei todo o tipo de personagens, mapas, lugares e monstros, mas nunca tive mais do que seis ou sete gibis com algumas poucas páginas. Tudo existia apenas em minha mente. Eu tinha o sonho de escrever um mangá ou uma HQ, mas nunca levei jeito para fazer tantos desenhos e com tamanha qualidade, esse sonho desapareceu no meio da adolescência e durante anos Ralph permaneceu escondido em minha velha pasta, sempre pedindo para brincarmos mais uma vez.
Quase 10 anos se passaram, e ele finalmente retornou com uma nova proposta. Eu havia acabado de ingressar no mundo das fanfictions, então por que não unir o útil ao agradável? Todas as ideias do velho Ralph continuavam guardadas, e da mesma forma que ele continuava sendo um garoto sonhador em busca de aventuras, eu tinha me tornado um adulto cheio de responsabilidades e obrigações, mas com uma sede insaciável de voltar ao universo que tanto amei um dia.
Obviamente, muito do que criei naquela época era uma cópia descarada do que eu adorava. Coube então a função de filtrar tudo isso e criar algo novo, que trouxesse uma mensagem e ainda mantivesse a essência da inocência que eu tinha quando desenhava esse universo chamado Sellure. Se você me perguntar do que estas histórias tratavam, então eu diria que elas sempre foram sobre inocência — a visão de uma criança no mundo e as responsabilidades de crescer —, uma filosofia escondida que demorei anos para compreender.
Tentei manter a essência do que criei em 2005, extraí o melhor e descartei o que não fazia sentido; e hoje, 10 anos mais tarde, é como se tudo já estivesse prontinho para ser usado. Ainda tenho minhas dúvidas de como eu conseguia criar tanta coisa bacana naquela época... Acho que todas crianças conseguem, elas adoram criar mundos que nos levem para longe do real.
Por muitos anos as chaves desse universo permaneceram escondidas nos baús mais profundos de minha memória, sendo compartilhada apenas com alguns poucos amigos e familiares, mas chegou a hora de levá-la ao mundo para quem estiver disposto a dar uma espiadinha.
Se você já pensou em desistir daquele sonho bobo de criança, mas algo o impediu, se acredita que existam forças nesse mundo que somos incapazes de compreender; então esta história é para você.