"Há uma lenda que conta sobre espíritos de luz que vêm à Terra uma vez a cada século para combater as trevas que residem em nosso planeta. Esses espíritos chegam aqui em corpos humanos, para poderem se infiltrar em nosso meio até chegar a hora de as trevas emergirem. Eles então se unem, erguem suas espadas e livram nosso mundo desse mal até o século seguinte.
É dito também que cada espírito tem seu elemento próprio: luz, água, terra, fogo e ar. Cada um também teria sua espada e todos teriam que obedecer à três rigorosas regras.
Por muito tempo esses espíritos, chamados de Sábios, salvam o planeta Terra de mergulhar totalmente na escuridão. Porém, em meados do século XXI, o grande mal vem novamente à tona. É chegada a hora de mais um confronto.."
Conheci o trabalho da Isabela meio que por coincidência. Ela costumava acompanhar uma fanfic de Pokémon minha chamada Aventuras em Sinnoh, vez ou outra eu a via curtindo minhas postagens e comentando, mas nunca chegamos a conversar de verdade.
Outro dia descobri pelo facebook que a Isa estava com um livro pronto e prestes a ser publicado (uau!). Fui surpreendido porque eu não sabia que ela também escrevia, depois de algumas conversas ela me contou que começou postando histórias no
Nyah! Fanfiction, o site de fanfictions onde também comecei minha jornada como escritor. Durante um tempo os leitores de lá a ajudaram na construção de
The Sages, sempre fico feliz quando descubro outros ficwriters que levaram o hobby da escrita adiante.
É sempre bom ver um conhecido conseguindo publicar sua obra, e só quem está na área sabe como é difícil. Pedi que ela assinasse a obra e escrevesse uma pequena dedicatória, devo dizer que senti um misto de orgulho e curiosidade, essas foram algumas das palavras que mais adorei receber em minha vida.
"Você me inspirou a começar!"
Devo ter feito a pré-venda lá em Outubro e, após alguns pequenos atrasos, consegui terminar de ler a obra em Março de 2018. Que experiência!
Isabela Silveira tem 17 anos e nasceu em Resende no Rio de Janeiro. Quando recebi The Sages pelo correio, terminei o livro em apenas dois dias. Um dos meus maiores medos era como alguém poderia contar uma boa história com cerca de 180 páginas numa realidade onde cada vez mais os livros beiram tamanhos astronômicos e precisam ser separados em trilogias e séries extensas (eu mesmo sou vítima disso). No fim das contas, estas foram as 180 páginas mais gratificantes que tive o prazer de ler nos últimos tempos pelo simples fato de que a autora não se perde em enrolações desnecessárias, cada acontecimento é bem estruturado e segue o "Arco de História Tradicional". A tensão cresce aos poucos, um primeiro incidente desencadeia uma série de obstáculos até alcançarmos o clímax pouco antes do desfecho. Por fim, após a resolução, temos um momento para respirar.
Segundo a autora, The Sages começou como uma fanfic em Maio de 2015 e foi concluída em Janeiro de 2016. Na dedicatória, percebemos como os leitores foram primordiais na construção da história, eles puderam ler, avaliar e dar sugestões, dando espaço para os devidos ajustes permitindo que a história amadureça até que chegue a hora da versão definitiva. Claro que além disso eles servem como tremenda inspiração! É sempre uma dádiva receber um leitor que lê, participa e comenta sua obra. É como se cada um fosse um beta-reader — ou leitor beta, alguém que avalia o trabalho do autor antes de ele ser publicado.
Não sou de fazer resenhas que repetem a sinopse do livro ou se limitam a resumir a obra, mas é importante ambientar a trama. Basicamente, os Sábios são cinco almas que vêm à terra a cada século para combater monstros malignos. Há quem estranhe o começo conturbado: a protagonista acorda desnorteada numa escola destruída depois de ser atacada. O que raios está acontecendo? Quem são aquelas criaturas?
Eu adorei o teor de fantasia envolvido no mundo real. Aos poucos, descobrimos mais sobre Luz, a protagonista, e seu disfarce vivendo ao lado da família que adotou (sem sombra de dúvidas, minha parte preferida).
Conforme a história progride somos apresentados aos cinco magos que podem ser identificados como Luz, Água, Fogo, Vento e Terra. Em cada vinda para a terra, eles assumem a forma de pessoas diferentes vindas de diferentes lugares do mundo, por isso são demarcados por características marcantes de suas personalidades e devidas culturas. Os Sábios possuem seus próprios poderes elementais e suas espadas para combater as criaturas das trevas, mas o foco da escrita não está nas cenas de batalha em si, e sim, na interação entre os cinco. As lutas são bem escritas (algo que certos escritores têm dificuldade quando trabalham em primeira pessoa). Vemos tudo pela visão de Luz, a líder e protagonista dos Cinco Sábios.
O único problema é que, além de proteger o mundo, as pessoas ao seu redor e enfrentar criaturas sombrias abominantes, eles precisam se atentar à três regrinhas:
1. Não empunhar a espada até ter se reunido com os outros Sábios;
2. Não ter relacionamentos amorosos com humanos;
3. Não exibir os poderes na mídia.
No começo, eu não entendi contra exatamente o que eles lutavam. Conforme a trama progride, fui percebendo que as criaturas sombrias são a manifestação da maldade no ser humano. Não é preciso nenhuma explicação de onde eles vêm e não existe nenhum "Lorde das Trevas" comandando eles. Conversei com a autora sobre isso para saber se os leitores estavam tendo dúvidas quanto a origem de tais criaturas. Ao meu ver, os monstros nada mais são do que uma representação abstrata da maldade. Um ataque repetindo pode ser comparado a uma bomba que explode de forma inesperada, um atentado terrorista, um gesto de pura maldade. A autora não precisa descrever ao pé da letra, mas cabe ao leitor interpretar essa mensagem, o peso de uma luta que não enxergamos.
"Com a raiva vem a adrenalina. E com a adrenalina vem a inconsequência".
180 páginas são mais do que o suficiente para trabalhar a história sem que ela canse. Eu bato palmas para os autores que não precisam se estender além dos limites para deixar seu texto "mais pomposo e requintado". No fim das contas, o que realmente importa é a habilidade de contar uma história, não é?
Apesar de recebermos uma descarga de informações no começo, todas as perguntas vão recebendo uma resposta de forma gradual e os pontos são devidamente fechados antes do final. O problema das sagas hoje em dia é que muita coisa fica solta e podem levar anos até que o autor as conclua, alguns leitores evitam se aventurar em território desconhecido por esse motivo. A Isabela me contou (são meio que spoilers, mas posso estar sendo enganado) que temos chances de ver uma continuação. Depois de tudo que li em The Sages, não me canso de pensar: como isso seria possível? Pela primeira vez me pego imaginando como seria bom ter uma continuação.