sábado, 9 de dezembro de 2023

O meu guia para resenhas de livros

Após trabalhar na resenha de um livro nacional, me peguei pesquisando sobre outras opiniões na internet para saber o que os leitores estavam achado da obra. Conheço gente que diz que ao terminar uma leitura é como se o cérebro imediatamente apagasse tudo, deixando apenas alguns pontos importantes — o livro é bom? É ruim? Ou apenas esquecível?

Em 2015, na primeira resenha que escrevi sobre um livro nacional, lembro de mostrar ao autor que me disse o seguinte: "Essa foi a melhor resenha que já li, e olha que li inúmeras". Eu fiquei pasmo, afinal, eu só tinha escrito o que achei que devia. Listei os pontos fortes e também o que me incomodou, fui sincero em cada linha.

Estamos quase entrando em 2024, e o mundo mudou mais do que eu imaginava nos últimos anos desde que planejei esse post. Se as pessoas antes não tinham paciência para ler postagens de 5 minutos em um blog, hoje elas não aguentam 15 segundos de um vídeo no TikTok. Você é capaz de expressar tudo que sentiu ao ler uma obra nesses poucos alguns segundos ou no limite de caracteres do Instagram? Não sei vocês, mas eu não.
Acredito que todo autor busque aquela pessoa que respire a sua obra tanto quanto ele próprio, e essa é uma das maiores graças ao se ler livros nacionais. Há muitos escritores talentosos por aí, aguardando alguém para compartilhar suas ideias e opiniões, mas as pessoas estão cada vez mais fechadas, buscando com prioridade o conteúdo que já consomem pelo medo de arriscar com algo novo e terminar se decepcionando.

Sendo bem sincero, eu nem sei se as pessoas ainda consomem resenhas em blogs atualmente, mas venho aqui compartilhar esse post que nunca terminei com a esperança de ele ajude alguém no futuro. Quero compartilhar com vocês o que faço quando escrevo as minhas resenhas.

Mas não se engane, isso não é um manual ou uma fórmula para dar certo. É só o que penso que outros autores também gostariam de ouvir.

Então, vamos lá. Se dermos uma rápida pesquisada no Google, podemos nos deparar com a seguinte definição:


Complementando a pesquisa, segundo o site Significados:

Resenha é uma abordagem para a construção de relações entre as propriedades de um determinado objeto, analisando-o, descrevendo-os enumerando aspectos considerados relevantes sobre ele [...] No jornalismo, resenha é utilizado como forma de prestação de serviço, é um texto de origem opinativa que reúne comentários de origem pessoal e julgamentos do resenhador sobre o que está sendo analisado. Para apresentar uma resenha é importante dar uma ideia resumida dos assuntos tratados, apresentar o maior número de informações sobre o trabalho, para dar ao leitor os requisitos mínimos para que ele se oriente.
Bem, claramente uma resenha não é um resumo. O meu maior problema é com as resenhas das pessoas que apenas resumem o que leram, como se estivessem tentando ganhar nota de uma prova na escola. Há tantas coisas que podemos citar ao se falar sobre um livro que vai muito além da história!

INTRODUÇÃO

Comece compartilhando as informações básicas. Arte da capa, escritor, número de páginas, editora e data de lançamento são alguns itens. Se quiser, aqui também entra a sinopse para o leitor já ver se é o seu tipo de leitura. Como é a narrativa? Têm ilustrações? A escrita é simples ou mais rebuscada? Quanto tempo levou para terminar?

Nesta etapa, gosto de falar sobre o trabalho do ilustrador que compôs a capa e se ela conseguiu me fisgar logo de cara. Também dou destaque ao trabalho da editoração, seja na qualidade do material impresso ou da diagramação que também é parte primordial do processo. É melhor ler um livro impresso naquele papel jornal velho ou você paga pela experiência? Conheço gente que só compra livros novos pelo prazer de tirar o plástico do embrulho e sentir o cheiro, às vezes damos até sorte de do autor enviar brindes e mimos de presente.

Hoje em dia a leitura de ebooks vêm ganhando cada vez mais espaço, mas eu não abro mão de segurar um livro e sentir o cheirinho do papel por nada nesse mundo.

PERSONAGENS

Bons personagens constroem uma experiência única com o leitor. Eu costumo separar uma categoria inteira só para falar deles, do protagonista aos secundários que aparecem no caminho, e enfim o inevitável encontro com o vilão. Ou será que a obra não tem vilões? Tudo vale a pena ser mencionado, mas não se esqueça de avisar antes se a resenha tiver spoilers! Muita gente lê resenhas antes de conhecer uma obra, para saber se vale a pena ou não, como se adquirissem um produto na internet.

Quando falo sobre personagens, gosto também de procurar artes que possam ter sido usadas pelo autor para divulgar seu trabalho. Muitos autores acabam sendo responsáveis pelo próprio marketing, e é o máximo poder acompanhar essa trajetória deles em seu perfil. Uma boa resenha merece imagens, elas prendem nossa atenção.

"Não se esqueça também de colocar suas citações favoritas! Como não se apaixonar por aquela frase que te impactou de alguma forma? Isso sempre atiça a curiosidade" — CanasOminous, O Reino de Sellure - 2023.

Sempre gosto de pensar no Legolas que se tornou dos favoritos da galera por sua representação nos filmes de O Senhor dos Anéis em 2001, apesar de que em toda a trilogia ele conversa uma única vez com Frodo: "And my bow!".
Dá pra imaginar como seriam essas grandes histórias sem os personagens mais carismáticos que nos fazem amá-las?

QUAL NOTA DAR PARA O LIVRO?

Eu sempre pensei muito nessa questão. Será que livros merecem nota? Será que precisamos mesmo impor números para o trabalho do outro como se fôssemos críticos consagrados visando destruir a carreira de alguém como Anton Ego em Ratatouille? Às vezes as pessoas se esquecem de que esse conteúdo é entretenimento, mas por terem dedicados horas preciosas da sua vida, sentem que o mínimo a fazer é dizer o quanto aquilo foi uma merda para que outros não passem pelo mesmo. Na opinião individual, claro.

O ser humano tem uma fissura por números desde os tempos antigos. Com a chegada de grandes varejos como a Amazon, o costume de avaliar coisas se tornou ainda mais forte. Mas com livros pode ser diferente, afinal, não estamos criticando uma corporação que visa apenas lucrar com isso, estamos julgando diretamente o trabalho de uma pessoa. Podemos muito bem apontar inúmeros defeitos e ainda apreciar tal obra, porque a experiência que ela nos proporcionou foi pessoal e única. Conheço gente que só lê resenhas negativas, porque se alguém só fala bem da obra, provavelmente é um puxa saco sem opinião.

Se você odiar tudo no livro e desistir na metade, será que vale a pena deixar todo o seu ódio só para que outras pessoas leiam e digam: "É, esse livro deve ser horrível mesmo"? Às vezes isso destrói tudo o que restava de determinação de um artista que já vêm sofrendo tanta desvalorização nos últimos anos — é só questão de tempo até que a IA também comece a escrever livros e ninguém se dê conta.

Sempre que possível, gosto de conversar com os autores e expor como foi me aventurar em sua história, o que pode ser melhorado, mas, principalmente os pontos fortes. Se for para expor uma opinião só para dizer que algo é ruim, prefiro me abster.

Pior do que isso, só quando o leitor diz: "Amei tudo! 2-estrelas."
QUANTO DEVO COBRAR PELA MINHA RESENHA?

Outro dia, observei o bate-papo de alguns escritores a respeito da seguinte questão: deve-se ou não cobrar por uma resenha?

Os resenhistas fazem anotações durante toda a leitura com um olhar mais crítico para cada detalhe, e tiram o próprio tempo para se dedicar inteiramente ao produto que estão consumindo. É um trabalho, afinal de contas, então por que não cobrar por ele?

"Ah, mas o autor do livro já teve o trabalho de escrever e você ainda quer cobrar pra alguém dar opinião?"

Acho que nenhum autor consegue publicar seu livro de graça. Alguém precisou investir nisso, seja através de uma editora ou tirando dinheiro do próprio bolso. O livro é tratado como um sonho por muitos escritores, mas o descaso com que são levados na trajetória tende a esgotá-los. Tente pensar na resenha não como um gasto, e sim, um investimento. É possível contratar profissionais da área, jornalistas ou até influencers para falar da sua obra, pois o alcance deles será enorme.

Faz um PIX aí, por favor...

Mas quando não se é conhecido no mercado, deve-se levar em conta o alcance. Não tem como reclamar se aparecerem resenhistas que só resumem a obra em umas poucas linhas e querem ser pagos, sem mostrar resultados. Ao meu ver, o problema está em cobrar um valor exorbitante de um nicho que mal consegue vender meia dúzia de livros e tirar algum lucro disso. Já caí em golpes de páginas no Instagram que alegaram possuir um alcance de 300 mil visualizações, mas que não trouxeram  absolutamente nenhuma venda. Foi um tremendo desperdício de dinheiro, então sempre pense se o público de quem vai divulgar sua obra é orgânico ou ele não passa de um oportunista.

Se você está querendo escrever resenhas, pense no seu tipo de público e converse com o autor para saber o que ele busca alcançar com tal obra. Os dois lados podem se ajudar. Lembre-se sempre que estamos lidando com pessoas, e muitos escritores colocam todo o seu coração nessas obras.

Nas palavras de Auggie, em Extraordinário:

"Se você tiver que escolher entre estar certo e ser gentil, seja gentil."



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