Alys - Elemento Alpha [Resenha]
"Alys era só uma garota supervalorizando seus pequenos problemas adolescentes. Até que uma simples incursão abriu mais que o mundo que ela desejava conhecer. Abriu os seus olhos pra verdadeira natureza dos metais Nifrity e as responsabilidades de ser a única pessoa capaz de mantê-los em segurança. Agora, ela precisará desenrolar o emaranhado de segredos em que sua vida foi mantida, aprender a dominar seus poderes e encontrar seu guardião antes que a escuridão chegue. Uma aventura fantástica repleta de mistérios, aprendizado e superação, que levarão uma garota a se transformar em uma guerreira e encontrar o seu lugar no mundo."
Autor(a): Priscila Gonçalves
Editora: PenDragon
Lançamento: 2017
Altura e largura: 23 x 16 cm
Número de páginas: 354
Gênero: Aventura, Fantasia, Ficção, Infantojuvenil
Por que escolhi essa obra?
Sabe aquela história de que o leitor escolhe um livro pela capa? Sou formado em Design Gráfico e não importa o argumento, como não se sentir atraído por uma ilustração bem feita?
Eu encontrei Alys meio que por acaso — não conhecia a Priscila, ninguém me indicou o livro e eu não fazia ideia de qual era a história. Eu fui atraído pela capa e pelo trabalho da autora divulgando a obra em seu perfil no facebook. Esse, sem sombra de dúvidas, foi o fator mais importante. Para ser sincero, eu nem me lembro ao certo como foi que adicionei a Priscila, mas uma das coisas que mais adoro dos autores nacionais é essa possibilidade de conhecê-los, conversar e ser sempre recebido de portas abertas. Quando descobri que ela era a autora de Alys, aproveitei o embalo para pedir que meu exemplar viesse autografado, rs. Não há nada melhor do que ver um escritor que fala de seu trabalho com brilho nos olhos, você se sente instigado a conhecer mais desse universo. Alys foi o meu primeiro contato com os trabalhos da Editora Pendragon e só tenho elogios a fazer, tive uma leitura incrível de mais uma obra nacional de fantasia.
Capa, Design e Editoração
Um dos elementos que mais me atraiu em Alys foi a capa. Basicamente todo o enredo da história gira em torno de metais — não daqueles sólidos e pesados como estamos habituados — é como se os fossem a manifestação física de toda magia e energia contida no universo. A escolha das duas fontes para compor o logotipo e as demais imagens também foram excelentes. Um trabalho impecável dos ilustradores. Murilo Magalhães, Apolo Moreira e Éder Max.
No blog Vitamina L, encontrei uma entrevista com a autora datada de 2016, um ano antes do lançamento oficial. É comum um autor usar capas provisórias até chegar à oficial, ao lado vocês conferem uma das versões de Alys que encontrei. Percebe-se que o uso de roxo e azul se manteve para trazer toda a ideia do lado místico, outra grande escolha foi colocar a protagonista na capa que possui um visual chamativo por si só.
A editora fez um trabalho incrível com toda a diagramação e os detalhes. Fonte legível, papel pólen e uma das surpresas é que o exemplar ainda acompanha um papercraft da protagonista. Há um cuidado notável com todo o projeto que só me faz querer conhecer mais e mais o trabalho da galera da Pendragon.
O único defeito que aponto (que para ser sincero, não sei se foi erro da revisão ou se trata de uma característica da escrita da autora), foi no uso de vírgulas e inúmeras palavras comidas ou trocadas por falta de atenção. Nada que alguns ajustes futuros não possam consertar.
Sobre a Obra e a Narrativa
O universo criado por Priscila Gonçalves é mágico e intrigante. Sou da área de fantasia e estou sempre aberto a ler sobre ideias inusitadas de outros autores. Como tantos outros leitores, estou cansado de anões, elfos, orcs e faço brincadeiras com o uso exagerado de dragões por aí (apesar de ainda protegê-los com todas as minhas forças, rs). O que vi em Alys não se trata de uma reciclagem tediosa dessas ideias que já conhecemos (Eragon, estou olhando para você), cada criatura respira novos ares sob uma narrativa divertida e inusitada.
Nos primeiros capítulos, somos apresentados ao cotidiano de uma garota que se vê isolada do mundo sob o olhar vigilante de seu pai. Como toda boa Jornada do Herói, este é o "Mundo Comum" da Alys, ela anseia por aventura e uma vida longe de seu regime fechado, mas ela segue no aguardo desse chamado. Desde que passei a entender os conceitos do monomito de Joseph Campbell, venho tentando prestar mais atenção na maneira como um personagem é inserido na trama— Alys recebe o chamado com a chegada ao antiquário, seu amigo Kyer serve como um mentor e ambos passam por uma série de desafios até chegar ao "Mundo Especial". No entanto, senti que a narrativa da primeira metade do livro foi arrastada. Intensa, porém extensa demais. Durante quase 100 páginas, Alys e Ky estão em uma fuga frenética, Alys é afligida por inúmeras perguntas e dúvidas como a boa personagem curiosa que é, mas ela sempre recebe a mesma resposta: "depois falamos sobre isso". O universo criado por Priscila é incrível, cheio de nomes e lugares complexos, mas o leitor demora para assimilá-lo tanto quanto a personagem. Lembro-me de um trecho que a própria Alys brinca: "Já reparou que sempre que era hora de me darem respostas, algo inesperado acontecia?" Isso na página 311. Todo mundo quer que ela assimile essas informações, mas parece que ninguém tem paciência de sentar e explicar-lhe com calma (o que é perfeitamente compreensível visto que eles estavam numa corrida contra o relógio).
Nos primeiros capítulos, somos apresentados ao cotidiano de uma garota que se vê isolada do mundo sob o olhar vigilante de seu pai. Como toda boa Jornada do Herói, este é o "Mundo Comum" da Alys, ela anseia por aventura e uma vida longe de seu regime fechado, mas ela segue no aguardo desse chamado. Desde que passei a entender os conceitos do monomito de Joseph Campbell, venho tentando prestar mais atenção na maneira como um personagem é inserido na trama— Alys recebe o chamado com a chegada ao antiquário, seu amigo Kyer serve como um mentor e ambos passam por uma série de desafios até chegar ao "Mundo Especial". No entanto, senti que a narrativa da primeira metade do livro foi arrastada. Intensa, porém extensa demais. Durante quase 100 páginas, Alys e Ky estão em uma fuga frenética, Alys é afligida por inúmeras perguntas e dúvidas como a boa personagem curiosa que é, mas ela sempre recebe a mesma resposta: "depois falamos sobre isso". O universo criado por Priscila é incrível, cheio de nomes e lugares complexos, mas o leitor demora para assimilá-lo tanto quanto a personagem. Lembro-me de um trecho que a própria Alys brinca: "Já reparou que sempre que era hora de me darem respostas, algo inesperado acontecia?" Isso na página 311. Todo mundo quer que ela assimile essas informações, mas parece que ninguém tem paciência de sentar e explicar-lhe com calma (o que é perfeitamente compreensível visto que eles estavam numa corrida contra o relógio).
O Mundo Especial da autora, também conhecido como Nafh'ta, foi muito bem explorado. Ele traz a ideia de aconchego que os personagens precisavam, um porto seguro. É aqui onde tanto Alys quanto os personagens a sua volta começam a progredir de verdade. A ideia de um mundo futurístico e o destaque para os metais me fisgou desde o princípio (quem me conhece sabe que sou fascinado por pedras). Quando somos inserido à rotina de Alys, vemos como a vida dela se parece com a nossa e não temos ideia da importância de sua função como Elemental. No momento em que ela encontra o antiquário onde o cajado e os livros são descobertos (outro cenário intrigante e muito bem descrito), a parte fantasiosa começa a aflorar. Em Nafh'ta é onde acontecem todas as reviravoltas. Mesmo depois da chegada à floresta, ainda nos deparamos com invasões e a batalha contra o tempo segue acirrada para que Alys cumpra sua profecia como Elemental na primeira lua. Deixo meus elogios para cada ambiente explorado de forma tão criativa, no último ato temos o Templo Submerso e o desencontro com um peixe gigante das profundezas, minha imaginação rolou solta como se os personagens atravessassem a fase final de um jogo!
A mitologia do Construtor e sua criação é fascinante e plausível, desde a forma como as magias são conjuradas até a maneira como os metais reagem. A autora criou um universo que funciona incrivelmente bem dentro de sua proposta — vemos elfos, fadas e até um dragão (da forma mais inusitada que você imagina), afinal, quem não gosta ver suas raças favoritas exploradas de maneira criativa? Os monstros, por sua vez, são compostos por criaturas esqueléticas e eles cumprem bem seu papel apanhando e dando o devido medo quando necessário.
Um dos temas que mais fiquei contente ao me deparar foi a mistura de raças. Aqui vai um pequeno spoiler: Alys é uma mestiça (de muita coisa louca, diga-se de passagem! - rs). Eu adorei a maneira como a autora explorou essa diferença numa época onde é tão importante discutirmos esse assunto, sou daqueles que acredita que o amor supera qualquer coisa e fiquei contente por ver esse valor ser passado adiante em personagens como Ky e Laiza, mesmo que de forma discreta. Eles ainda passarão por muita coisa caso esse relacionamento seja explorado no próximo volume.
Um dos temas que mais fiquei contente ao me deparar foi a mistura de raças. Aqui vai um pequeno spoiler: Alys é uma mestiça (de muita coisa louca, diga-se de passagem! - rs). Eu adorei a maneira como a autora explorou essa diferença numa época onde é tão importante discutirmos esse assunto, sou daqueles que acredita que o amor supera qualquer coisa e fiquei contente por ver esse valor ser passado adiante em personagens como Ky e Laiza, mesmo que de forma discreta. Eles ainda passarão por muita coisa caso esse relacionamento seja explorado no próximo volume.
Alys segue melhorando a cada página, o treinamento dela foi divertido de se acompanhar, uma agradável surpresa porque é comum que a narrativa se comprometa caso o autor se prolongue demais. Os personagens secundários mantém o enredo andando, novos mistérios são levantados e tudo se encaixa antes do final. Alys treina, cresce e amadurece... mas talvez não tenha sido o bastante, o que comprova o quanto a autora sabe os limites de sua própria criação.
Sobre os Personagens
Alys segue o padrão do protagonista "escolhido" por uma força maior, mas ela é completamente despreparada e, ao meu ver, esse é o charme dela.
Todos os personagens secundários da história tiveram um papel primordial. Eles não são apenas importantes para o desenvolvimento da Alys, são interessantes, divertidos e têm seu próprio crescimento. As Irmãs Vaarne, uma elfa guerreira e uma alquimista, estão entre as minhas favoritas Laiza tem 100 anos e gosta dos caras mais jovens, como não amar? Thela é durona e rígida como uma general, mas têm uma família linda e zela por suas crianças. Você segue torcendo por elas e todos os demais.
Todos os personagens secundários da história tiveram um papel primordial. Eles não são apenas importantes para o desenvolvimento da Alys, são interessantes, divertidos e têm seu próprio crescimento. As Irmãs Vaarne, uma elfa guerreira e uma alquimista, estão entre as minhas favoritas Laiza tem 100 anos e gosta dos caras mais jovens, como não amar? Thela é durona e rígida como uma general, mas têm uma família linda e zela por suas crianças. Você segue torcendo por elas e todos os demais.
Evan, o guardião, é o segundo personagem no comando. Tudo que acontece com Alys, passa por ele. Os dois personagens que começam quase saindo no soco apresentam um belo desenvolvimento e aprendem a se admirar e respeitar, mas nunca perdem a essência de caçoar um do outro. É uma amizade bonita, não no sentido romântico da questão, mas de lealdade. Evan é um dos personagens mais leais a sua causa que eu já vi, e com certeza ele terá um avanço extraordinário no segundo volume, é para ficar de olho! Heh, heh.
Kyer começa como um mentor para Alys e aos poucos vai recebendo seu próprio espaço. Ele é o melhor amigo dela e estava disposto a tornar-se seu guardião. Eu gostei que a autora não usou essa ideia de friendzone passada, a amizade dos dois é mais sincera do que isso, entende?
O velho Celen é uma criatura cheia de surpresas! Trata-se de uma das formas mais criativas que já vi de retratarem um dragão — um velho de monóculo que fica sentado em sua poltrona confortável, mas também está ali como o mentor primordial e cheio de conhecimento e seus próprios mistérios.
"Quando um Elemental e um guardião se tornarem, enfim poderemos ver a luz e a magia retornarem e a todos nós fortalecer. Agora desperte e lute como parte do exército imaterial, vós que sois sangue de Ikal, sejam corajosos e justos até o final." p. 84
Falando sobre os vilões, admito que fui pego de surpresa! Wen, um dos lacaios do chefão final, é muito mais interessante e bem explorado do que seu mestre. Sou um pouco contra vilões poderosos que parecem só ter uma paixão por destruir, gosto de sentir empatia por eles e que no final fique a dúvida — qual dos dois lados realmente estava certo? Espero que o volume dois trabalhe melhor suas motivações ou crie um vilão a altura, porque se ele não se preparar, Alys chegará com fogo nos olhos para acabar com qualquer um que se por em sua frente.
Agora eu gostaria de encerrar com algo que me atraiu nas páginas finais — um terrível erro de muitos escritores é fazer com que seus personagens cresçam antes da hora, ultrapassando os limites do seu aprendizado e recorrendo ao clássico deus ex-machina. Nós, como autores, muitas vezes acabamos empurrando goela abaixo decisões e consequências dos nossos protagonistas porque nos falta tempo (ou melhor dizendo, páginas), ele vence o inimigo com o "poder do amizade" ou até despertando algum poder supremo que estava adormecido só que de maneira que pareça improviso do roteiro, vemos muito disso nos animes shounen. Quando o confronto final com o antagonista acontece, Alys vê de perto as consequências de sua falta de treinamento. Era impossível ela amadurecer tanto em tão pouco tempo, e ela sofrerá por isso. Achei incrível a autora explorar essa fraqueza, Alys terá de carregar esse preso para o resto da vida e muita coisa vai mudar no segundo volume da trilogia. Um final inesperado que te deixa o tempo todo com o coração na mão, certamente foi a cereja do bolo da obra!
Considerações Finais
Alys foi a leitura mais divertida que tive de um nacional de fantasia esse ano. Explorando humor e tensão na hora certa, a autora soube trabalhar o que é, para mim, a essência de toda boa história de aventura voltada para o público infanto juvenil — os personagens conversam com o leitor que se identifica, são cercados por seus defeitos e querem descobrir mais sobre esse mundo novo tanto quanto nós. Eles arranjam tempo para amar e caçoar da cara um do outro, a fantasia não precisa ser tão diferente do mundo real, os personagens enfrentam desafios como nós todos os dias, porém, claro que representados de maneira mais imaginativa - rs.
O principal valor que Elemento Alpha carrega é a lealdade, mas também tem a ver com o medo de encarar o mundo. Não importa o tamanho da ameaça, Alys conseguiu manter o sorriso no rosto. Uma das coisas que mais aguardo na continuação é conferir o crescimento dela e daqueles ao seu redor. Ela recebeu um choque tão grande que não será mais a mesma, é aqui onde vemos a fantasia progredir e a jovem que antes mal sabia como conjurar um bastão se tornará adulta. Acima de tudo, é uma história sobre seu crescimento. Muitos leitores podem se identificar com essa mensagem: "Não tem problema sentir que não é bom em nada, porque todo mundo pode melhorar. A vida se encarrega de colocar as pessoas certas no seu caminho".
O principal valor que Elemento Alpha carrega é a lealdade, mas também tem a ver com o medo de encarar o mundo. Não importa o tamanho da ameaça, Alys conseguiu manter o sorriso no rosto. Uma das coisas que mais aguardo na continuação é conferir o crescimento dela e daqueles ao seu redor. Ela recebeu um choque tão grande que não será mais a mesma, é aqui onde vemos a fantasia progredir e a jovem que antes mal sabia como conjurar um bastão se tornará adulta. Acima de tudo, é uma história sobre seu crescimento. Muitos leitores podem se identificar com essa mensagem: "Não tem problema sentir que não é bom em nada, porque todo mundo pode melhorar. A vida se encarrega de colocar as pessoas certas no seu caminho".
Alys é fiel à sua proposta do começo ao fim e a autora mostrou que controla seu universo tão bem quanto o Construtor. Sinta-se livre para mergulhar de cabeça nesse universo místico cheio de metais, personagens cativantes e carisma, você não vai se arrepender.
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