sexta-feira, 29 de abril de 2016

Ralph, da Espada de Madeira


"O título é como as pessoas te conhecerão e respeitarão. Eu sou Ralph, da Espada de Madeira, pois é assim que eu quero ser lembrado pela história."  Ralph, Capítulo 2.

Ralph é um jovem criado por uma família de geckos em um vilarejo humilde conhecido como Vale dos Ventos, na província de Helvetica. De aparência inocente e sempre entusiástica, não se separa de Lignum, sua espada de madeira que esconde mais segredos do que aparenta.

Extremamente sorridente e receptivo, Ralph traz muitos traços da raça dos lagartos como mover-se com agilidade e preocupar-se com o ambiente. Apesar de não gostar de ler, diz-se um imenso apreciador de histórias, adora ouvi-las e compartilhá-las  por isso está sempre disposto a conhecer novas pessoas e torná-las parte de sua vida. Ralph esconde um coração bondoso e carente, não pensa em duas vezes em auxiliar alguém mesmo que muitas vezes não seja o correto. Valoriza a amizade mais do que tudo em sua vida. Sua aventura se resume à encontrar um sentido para quem está perdido, e isso o leva a buscar outras pessoas que compartilham deste desejo. Quando a vida o empurra para baixo, Ralph é uma daquelas pessoas que consegue dar a volta e encará-la da melhor maneira possível.


Ralph é o protagonista da história, logo, é de se esperar que ele esteja em praticamente todos os lugares do livro. Porém, há determinados Capítulos Especiais que visam contar um pouco sobre o seu passado, assim como os famosos Supports que têm o intuito de compartilhar apenas cenas do cotidiano que não interferem no enredo, os famosos fillers. Segue abaixo a lista:

  • Adaptabilidade [Habilidade Passiva] – Seus status tendem a mudar dependendo das vantagens e desvantagens de seu adversário;
  • Aluno Exemplar [Habilidade Passiva] – Adquire níveis de experiência mais depressa;
  • Defensor da Família [Habilidade Passiva] – Aumenta consideravelmente sua força quando luta ao lado de um familiar ou amigo próximo (% aumenta dependendo da quantidade de companheiros em batalha);
  • Pacifista [Habilidade Passiva] – Ao derrotar um adversário pode convidá-lo para seu time;
  • Liderança Plena [Defensivo] – Garante um bônus de todos os status para seus companheiros durante a batalha;
  • Quebra da Realidade [Ofensivo] – O ataque especial de Lignum.
"Nós já temos muitos heróis no mundo, mas isso não é motivo para que eu desista."
 Ralph, Capítulo 4.

"Você é bem estranho mesmo. Ou melhor, eu diria peculiar. Sua forma de falar, suas atitudes... Tudo. A diferença é que isso parece bom vindo de você, consegue entender?"
— Auria, Capítulo 4.

"É uma questão básica de escolher todos os dias, todos os instantes. "
 Ralph, Capítulo 5.

"Eu só quero me divertir e fazer o que gosto [...] Vou lutar para conquistar o que quero. E me ensinaram que eu posso ter tudo que eu quiser, enquanto eu correr atrás."
 Ralph, Capítulo 7.

"Eu não sei pelo que você passou [...] também não sei se você acredita nas entidades de Sellure, em karma ou destino, mas quero que saiba que existem forças maiores agindo por cada um de nós. Às vezes a gente só precisa confiar e acreditar que tempos melhores virão."
 Ralph, Capítulo 23.


  • Ralph foi baseado no personagem de mesmo nome do jogo The Legend of Zelda: Oracle of Ages, para o Game Boy Color; 
  • A primeira vez que o autor o desenhou foi para um gibi intitulado "A Lenda da Espada e o Oráculo dos Gêmeos", em 2005, contando a história de Ralph, Lesten e Facade reunindo as Essências do Luar para enfrentar o vilão Dark;

The Omascar é a famosa cerimônia realizada no Mundo Pokémon Reino de Sellure onde os leitores podem votar no seu personagem favorito durante um determinado período de tempo após o lançamento de cada livro da saga! A primeira edição contou com dez categorias e diversas indicações pelo desempenho particular de cada personagem na história. Segue abaixo a lista de nomeações e vitórias:

  • 4º lugar na Primeiríssima Votação do Universo Matéria em 2007;
  • Melhor Protagonista [Vencedor];
  • Melhor Capítulo - Cap. 29 Minhas Fraquezas (com Aedan, Elice e Lignum) [Vencedor];
  • Melhor Arco - Ilha-S (com Aedan, Elice, Auria e Lesten) [Vencedor]; 
  • Melhor Casal - com Auria [2º lugar];
  • Personagem Mais Poderoso [3º lugar];
  • Personagem Revelação [3º lugar];
  • Melhor Antagonista - com Half [Nomeado];
  • Melhor Arco - Arco da Trindade - com Auria e Lesten [Nomeado];
  • Miss Simpatia [Nomeado]
  • Melhor Casal - com Aedan [Nomeado];
  • Melhor Casal - com Elice [Nomeado].
     


sexta-feira, 22 de abril de 2016

FanArt #01 - Star-chan



SOBRE A FANART
— por Star-chan.

Nem sei como começar um comentário sobre uma fanart minha, mesmo fazendo isso várias vezes na época que o Canas escrevia o Aventuras em Sinnoh. Mas cá estamos, inaugurando essa área de fanarts de Matéria. Claro que quando fui convocada para ser a terceira beta eu fiquei extremamente feliz não só por ter acesso ao livro ( que está incrível, por sinal <3), mas também pela confiança que o autor depositou em mim.

Mas falando do desenho em sim, Lee e Hayley é aquele casal secundário que aparece pra fazer todo mundo shippar, é tipo, automático, ou tu shippa ou O mundo te odeia. Se bem que eles são mais OTP, mas não entrarei em detalhes.

Antes de ter acesso ao livro, eu não tinha tanto interesse nos dois, meu foco sempre estava na Auria e no Ralph ( que é um casal incrível também o/), mas quando os dois foram apresentados a história, eu senti como se fosse o casal que eu conhecia desde sempre :33

Claro que quando fiz a fanart eu fiquei nervosa em errar em algo pra não estragar personagens tão incríveis, mas fiquei aliviada quando o Canas elogiou em uma conversa no Skype recente.
Enfim, pros leitores ansiosos, fiquem mais ansiosos, Matéria vai mudar o mundo <3


COMENTÁRIOS DO AUTOR
— por Canas Ominous.


Hey, Star! Temos aqui um vislumbre de quem serão os casais preferidos da galera, mal posso esperar para inaugurar uma área onde possamos votar nos shippings preferidos a fim de eleger quem levará a coroa dessa disputa!

Mesmo que o livro nem tenha sido lançado, ainda nas tirinhas é possível notar que Lee e Hayley têm algum tipo de proximidade forte. Eu, sinceramente, não acredito que consegui explorar todo o potencial deles durante o livro, mas é nessa hora que a leitura complementar do passado deles entrará aqui no blog. Ainda não tenho nada escrito e nem planejado, mas sinto que vai ficar lindo se eu souber explorar bem este lado realista da vida deles, e não apenas a parte fantasiosa. Eles são uma dupla sofrida, e retrarão bem o preconceito que muitos sofrem por simplesmente se enquadrarem em um perfil que não estamos acostumados a ver.

Agora, preciso deixar registrado: ESTE É O PRIMEIRO FANART DA PÁGINA! Ainda nem inaugurei direito como será o recebimento de novos desenhos, mas enquanto for chegando vou ter que ir postando aqui... *risos* Ainda torço para que no futuro nossa galeria no Reino de Sellure supere até mesmo Sinnoh, com seus mais de 150 fanarts recebidos! Um dia chego lá. Conseguimos uma vez, é possível conseguir de novo.

sexta-feira, 15 de abril de 2016

2 º Revisão Concluída!


No dia 14 de Abril de 2016 registro a conclusão da segunda revisão do livro! Eu costumo chamá-la de versão 3.0 porque de certa forma é a terceira vez que sento para ler o livro inteiro  a primeira foi quando o escrevi e distribui as ideias entre os anos de 2012 e 2015. Dessa vez o número de páginas não alterou muito, fomos de 423 para 433, mas é notável a quantidade de conteúdo que foi excluído e também acrescentado.

Como cheguei a conversar com um leitor nos comentários, foram mais de 60 páginas excluídas só de descrições mal formuladas e diálogos desnecessários. Dentro dessas 60 páginas também foram retirados dois capítulos que não apresentavam nenhuma mudança significativa, o primeiro intitulado "Entre Crianças" que seria um Capítulo 12.5; e o segundo "Criatura das Profundezas" que trazia uma luta épica contra uma Lula Gigante (monstros marinhos são fodas!), que seria o Capítulo 36.5. Aos curiosos,  após a publicação do livro pretendo trazê-los ao blog como um cenas deletadas.

Tendo retirado dois capítulos desnecessários, ganhei espaço para criar um novo arco inteiro, que foi onde entraram os atuais capítulos 24 e 25: "Seus Amigos?" e "Proteja-me". Pude aproveitar para explorar alguns personagens que precisavam de mais desenvolvimento, além de abrir uma brecha para falar do passado deles, o que era de suma importância e eu vinha ouvindo opiniões de que estava faltando. O resultado o tornou um de meus arcos favoritos.

Olha só a diferença de cada versão! Primeiro impresso em folha sulfite e com a tinta preta quase acabando, depois vieram mais alguns capítulos e foi aumentando, e aumentando... até termos o Matéria de quase 430 páginas no word! Céus, espero que não ultrapasse as 500 no formato final do livro...
Eu diria que esta foi a minha revisão mais importante, porque é a hora em que a pedra bruta começa a ser lapidada para tornar-se um diamante. Melhorei muitos diálogos e mensagens importantes, além de eliminar TUDO que me incomodava (eu não poderia publicar um livro e ter aquela cena ingrata que me perseguiria até o fim da vida... sério, eu ficaria sem dormir só de lembrar).

A Star-chan, uma amiga ficwriter de longa data, está sendo uma de minhas betas e tem me ajudado muito nessa jornada. É sempre bom ouvir opiniões, alguns capítulos foram inteiramente reformulados, trouxemos mais shippings,  romance e sintonia entre os personagens, afinal, eu e os personagens estamos mais próximos do que nunca. Sem contar que é apenas a terceira pessoa que leu o livro inteiro, mas o feedback continua sendo muito bom!

Provavelmente ainda teremos uma revisão 4.0 vindo da editora, mas no meu atual nível não há mais o que fazer. Eu teria que contratar os serviço de algum profissional, mas fico tranquilo em concluir o documento e pensar: eu dei o melhor de mim.

E a busca pela editora continua!

Por fim, enviei também o meu original para três outras editoras: A Editora Modo - Selo Novos Autores, Editora Wish e a Novas Páginas. Dessa vez julguei que fosse melhor enviar mais de uma, não porque quero atirar para todos os lados e só depois ver o que acerto, preciso de orçamentos, médias e serviços. Uma dica como autor é que você nunca pode se desesperar, não dá para sair assinando um contrato logo após recebê-lo e achar que tudo vai se resolver. É preciso sentar e conversar com seus pais, as pessoas ao seu redor, e principalmente, ouvi-las! Terminar o livro é só uma das fases. No final a decisão é sua, e você sabe melhor do que ninguém seus limites e o que é melhor para si próprio.

Obrigado pela torcida e todo apoio que me deram no lançamento de meus capítulos inaugurais! Continuem de olho aqui no blog, vamos continuar seguindo nessa longa aventura!

quinta-feira, 14 de abril de 2016

terça-feira, 5 de abril de 2016

Arte #05 - Auria, a Dama de Ferro



Minha Auria! ♥ Gosto muito dessa imagem, talvez seja pelo sorriso raro vindo de alguém que não gosta muito de sorrir. Uma curiosidade que vocês devem ter reparado é que a Auria apresentada nos primeiros capítulos ainda tinha o cabelo longo, mas algo a leva a cortar. E ela também não usa nenhum óculos,  mas não enxerga de longe e prefere não usar com frequência - rs.

Acho interessante também como ela perdeu o ar de donzela em perigo para se tornar uma guerreira destemida. Ela ainda tem um lado meigo oculto (bem oculto), e costuma escondê-lo por trás de sua armadura e insegurança. Acredito que os leitores vão gostar muito de acompanhá-la nessa jornada, Auria é muito superior à sua antiga versão que carregava um arco e flecha e vestidinho azul, só servia para se meter em encrencas (okay, até hoje ela se mete em encrencas kkkk). Ainda sim, é a personagem que mais amadureceu com o tempo!


sexta-feira, 1 de abril de 2016

Capítulo 3


A academia da Vila das Pérolas tinha história — primorosa e antiga —, diziam que grandes guerreiros da raça humana caminharam por aqueles corredores. Era um porto usado para transporte de mercadorias, o turismo havia sido abandonado depois que as pérolas perderam seu valor comercial. Oitenta e cinco porcento da população era formada por estudantes, os alunos consideravam a academia como uma continuação do ensino fundamental, a diferença era que podiam ser convocados para a guerra sem aviso prévio. Muitos clamavam pelo chamado, enquanto outros consideravam uma desonra serem deixados para trás.
A torre principal era rodeada por seis prédios diferentes, cada um deles representava uma especialização: a espada trazia seu significado de honra e glória; o escudo, a proteção; a lança era a agilidade; o machado pela força bruta; o arco e flecha pela destreza e a mana como todas as energias que permeavam o mundo.
Assim que Ralph chegou ao portão — onde sua cabeça ficara presa na noite passada —, pôde ver toda a grandeza da academia e dessa vez sem limitações. A partir daquele ponto estaria decidindo o tipo de treinamento que levaria para os próximos anos, se seria um guerreiro disposto a defender sua nação, ou talvez um mago capaz de manusear magia com esforço de sua mente.
Ralph notou que nenhum dos outros alunos trazia os devidos equipamentos para uma batalha. Onde estavam as espadas e escudos? Pensou que nunca mais precisaria de apostilas pesadas. Um pensamento lhe percorreu — sua estimada professora, Srta. Clover, dissera certa vez que os livros eram as armas mais poderosas que ele poderia ter em mãos. Não discordava, pois ela os arremessava com muita força quando estava estressada, e aquilo o fez rir.
Ralph adentrou o saguão e passou por corredores repletos de salas que eram preenchidas por alunos. Janelas de um estilo clássico medieval revelavam a idade do território, como um castelo imponente do passado.
Chegou perto de um balcão onde residia uma senhora de óculos coberta por papeladas. Ela entregava os devidos documentos para os novatos.
— Oi, moça — Ralph a chamou, o que era uma gentileza, pois a velha parecia ter pelo menos uns cem anos. — Posso me inscrever?
— Dá para sentar e esperar como todos os outros? Você não é especial.
Ralph concordou e foi sentar-se. Por acordar cedo, seria um dos primeiros a ser atendido, mas ainda odiava esperar em filas, sentia-se preso, quase torturado, cada minuto perdido era uma tremedeira em suas pernas.
— Olá. Já decidiu o que vai fazer? — perguntou para o rapaz ao seu lado, puxando conversa só para não ficar parado.
“Não faço ideia”, foi a resposta que mais recebeu. Era interessante notar como na verdade todos aparentavam estar agoniados ou aflitos.
— Eu não queria estar aqui — repetiu um deles assustado, uma gota de suor escorrendo pelo rosto —, gostaria de ser dispensado. Eu só queria ir embora.
Quando chegou a vez de Ralph, a feição de desânimo da secretária se intensificou por algum motivo.
— Bom dia. Seja bem-vindo ao Curso Preparatório Classe E da Academia da Vila das Pérolas. Qual área pretende prestar? — a atendente perguntou de forma automática, logo acrescentando como se já soubesse o que iria ouvir: — Se ainda não tiver decidido o que fazer, pode deixar em branco ou marcar todas.
— Eu sou Ralph, da Espada de Madeira!
A mulher ficou sem reação, as pessoas sentadas na banqueta da fila começaram a rir. Atender novatos confusos e cheios de dúvidas com as mesmas respostas há anos não era uma tarefa interessante, mas vez ou outra aparecia algum louco para diverti-la.
A velha ajeitou os óculos na ponta do nariz e voltou a escrever.
— Eu perguntei a área que pretende seguir em seu ensino; se pretende tornar-se um espadachim, guerreiro, mago, arqueiro, defensor, alquimista, especialista, o que quer que exista nesse universo, não entendo nada mesmo... Já tenho seu nome escrito aqui embaixo, só não precisa me fazer passar por essa situação novamente.
— Ah, desculpa. Quero muito ser um soldado — Ralph respondeu. A velha mantinha o semblante estressado enquanto esfregava as têmporas.
— Todos vocês serão aprendizes Classe E antes de se tornarem soldados. Todos servirão alguém. Seja mais específico.
— Pode colocar “espadachim”, então.
A mulher arrancou uma única folha do topo de sua pilha.
— É só preencher. Tenha um excelente dia.
Com o papel em mãos, foi até uma sala repleta de outros garotos que completavam o mesmo questionário em silêncio. Era visível o quanto aquele ambiente o incomodava. Ralph tinha um ar perdido, louco pra fugir dali, a coçadinha na cabeça, as mãos, o olhar que nunca olha de fato. Tinha dificuldade em lidar com esse bombardeio de informações do mundo externo. Precisava apenas completar uma ficha básica de inscrição; pedia nome, origem, vocação, habilidades especiais, perícias e mais um monte de outras questões que nem soube dizer para o que serviam.
Ele era um aprendiz Classe E, deveria seguir as letras do alfabeto D, C, B e A conforme crescesse em seu patamar, mas não tinha tempo para aquelas coisas. Queria chegar logo ao S, um nível que somente as lendas foram capazes.
— Olá, caro companheiro de sala. Poderia emprestar-me esse objeto que você usa para escrever? — Ralph perguntou de maneira gentil.
— Tô usando. Não tá vendo?
Ralph fez um aceno com a cabeça e concentrou-se em sua tarefa, mas logo voltou a atordoá-lo:
— Então poderia emprestar-me qualquer coisa para que eu possa escrever minha ficha de inscrição?
— Você veio aqui para se inscrever e não trouxe nem os documentos básicos para isso? Em que mundo vive?
— Existe mais de um? A ideia de que podem existir outros mundos e que nossa existência aqui não passa de algo insignificante dentro dos planos de uma entidade maior é intrigante.
A velha na secretaria pediu silêncio em voz alta. Ela ainda observava de longe, desconfiada. Levantou-se de sua cadeira e bateu com força uma caneta na mesa do garoto. Ralph soltou um murmúrio de alegria e agradeceu o gesto.
— Muito obrigado, minha boa senhora! Que as entidades possam acompanhá-la em sua demanda atrás daquilo que procura. Um dia você ficará orgulhosa de ajudar o próximo.
— Preenche logo a ficha. Não tenho o dia todo.
Ralph mexeu-se contente em sua cadeira e olhou para o papel. Sua segunda missão era interpretar tudo aquilo. Segurou a caneta e começou a rabiscar. Vez ou outra a secretária olhava de relance para ver o que ele fazia, uma vez que se passara quase meia hora e o garoto ainda não saíra de lá.
A secretária foi em sua direção e apoiou-se na mesa.
— Está tendo dificuldades — afirmou. Era óbvio que estava.
— Olha só o meu desenho, não é legal?
— Muito interessante. — Estava pouco interessada, mesmo que os dragões que ali estavam fossem bem legais. — Agora me diga, está tendo dificuldades para preencher o quê?
Ralph olhou para o papel de inscrição que estava desenhado até as bordas. “Tudo” seria uma boa opção. Cenas de batalhas enfeitavam os cantos enquanto lagartos voadores cuspiam fogo contra as palavras. Era uma cena criativa, de fato o menino levava jeito nos rabiscos e nas ideias.
Ralph forçou a visão para enxergar o nome da secretária em seu crachá.
— Dona Lurdinha, a senhora conhece os generais que lideraram suas raças para a vitória durante a Guerra dos Heróis? Eles foram os guerreiros mais incríveis da história, os únicos Classe S de seu tempo: Canas, o Descobridor do Mundo; General Defesa, a Muralha Impenetrável; e o gecko mais poderoso que pisou nesta terra, Tokay, Asa Negra. Foram eles que derrotaram Glaüner, o Dragão das Maldições, e o aprisionaram em algum lugar misterioso de nosso reino para que ninguém nunca mais o despertasse!
A velha passou a mão em seus cabelos a ponto de arrancá-los. Os demais alunos na sala davam risadas baixinhas, mas Ralph nem as ouviu ou então preferiu ignorar. Antes que alguém perdesse o controle, surgiu um sinal de inteligência.
— Ah, sim, estou com dúvida em algo. Veja, aqui está dizendo “qual a sua raça?”. Quero dizer, a minha, não a sua. E há quatro opções a serem marcadas, pedindo para que eu assinale apenas uma.
A secretária olhou para o jovem numa clara expressão debochada.
— Você está falando sério? H-u-m-a-n-o — ela enfatizou cada sílaba.
— Mas eu não sou humano — Ralph respondeu de forma breve, quase ofendido, fazendo os demais agora rirem tão alto a ponto de a velha senhora bater na mesa e mandar todos calarem a boca.
Ralph continuou:
— Sou meio-humano e meio-gecko — corrigiu.
Há quem acreditasse que os geckos adotavam crianças para cozinhá-las num caldeirão e depois devorá-las como se fossem criaturas folclóricas, mas o Senhor Tokero e a Dona Nakara tinham todos os traços que uma família comum de velhinhos presos à rotina da vida no campo. Nakara perdera os três filhotes há mais de vinte anos quando eles ainda não passavam de ovinhos, por isso decidiu que nunca mais seria mãe. Ela encheu-se de orgulho quando a oportunidade de cuidar de Ralph apareceu, apesar de ser velha e sua memória não estar tão boa. Ainda assim, seu instinto materno nunca se esquecia de preparar-lhe sanduíches de mortadela quando ele saía para brincar.
Ralph cultivava uma pequena chama em seu coração que o confortava quando pensamentos sobre seus pais biológicos vinham à tona. Deviam ter seus motivos para tê-lo deixado sozinho. Com quinze anos, não era tolo o bastante para achar que pertencia à raça dos geckos, mas julgava-se parte deles e o respeitava como sua única e verdadeira família. Quando fosse mais velho e entendesse das coisas, registraria a si mesmo como meio-gecko (apesar de não fazer ideia de onde começar).
Dona Lurdinha achava que a situação era pior do que aparentava.
O garoto foi enviado para uma sala nos fundos que estava vazia. Fazia um bom tempo que não lidavam com uma situação como aquela e, por isso, teriam de rever o assunto com as autoridades.
Sobre a mesa estava um pequeno orbe azulado, do tamanho de uma bola de beisebol. Era uma Esfera de Comunicação, o meio de contato mais rápido do reino, um item raro e caro. Quando dois orbes se encostavam um no outro uma única vez, eles se conectavam através de eletromagnetismo e podiam manter contato através de sons e imagens mesmo a milhares de quilômetros de distância.
A mulher tocou o orbe e esperou a resposta de seus superiores. Ralph a olhava desconfiado.
— Aqui é da Vila das Pérolas, estação de Myriad número 220-64-3. Temos um pequeno problema... Um mestiço. Não, não possui nada visivelmente repugnante, só é um pouco esquisito. Parece que tem dificuldades na leitura e falta de processamento audititivo... — dizia a mulher, logo abaixando o tom de voz quando viu que Ralph a observava. — Ele disse que é metade gecko.
A última palavra soou como um espirro. A resposta logo veio. A atendente soltou a mão do orbe e a imagem se desfez. Voltou a atenção para o rapaz e falou:
— Venha comigo.
— O que vamos fazer, dona Lurdinha? Nós vamos começar a treinar juntos? Você será a minha mestra? A minha treinadora? A capitã de meu batalhão?
— Nada disso. — A atendente sentou-se em sua cadeira de forma confortável com um sorriso de orelha a orelha, como se cantasse a vitória por uma luta vencida. Ela carimbou a ficha desenhada de Ralph e entregou-lhe como uma carta de alforria. — Você acaba de ser dispensado. Obrigada por vir até aqui, Ralph Token. Reúna seus pertences e pegue o próximo trem de volta à Helvetica. O Reino de Sellure agradece a sua participação. — E desta vez ela fez questão de encher a boca ao frisar: — Tenha um excelente dia.
Ralph ficou desolado, não sabia qual reação tomar. Viu a senhora em sua frente carimbar um papel de dispensa e mandá-lo embora, para o caminho oposto de seu sonho, para uma viagem de trem de volta à sua cidade onde seus pais adotivos aguardavam orgulhosos o seu regresso como uma figura importante e influente, ou ao menos feliz e sucedida, alguém que venceu na vida.
Viram partir um menino e esperavam retornar um grande homem. Agora, voltaria como um fracassado.
— Mas que... ódio! Amaldiçoados sejam os papéis carimbados e assinaturas — Ralph contestou, levantando-se da mesa e sentindo um ódio profundo daquele lugar. Queria bater os pés com força no chão, quem o ouvia do corredor até se assustava. A velha continuava quieta. — Droga, droga, droga! Por que fez isso comigo, dona Lurdinha?
— Está jogando a culpa em mim? Só estou fazendo meu trabalho, garoto.
— Mas é injusto.
— Se quiser discutir sobre justiça, está no mundo errado.
— Por todas as entidades divinas de Sellure, o que eu vou fazer agora?
— Por que não vai embora e me deixa em paz?
Muitas palavras estavam presas em sua garganta. Talvez fosse melhor não ter ficado brincando com o papel de inscrição, bastasse ter pensado um pouco. Era melhor parar com as brincadeiras. O garoto fechou a porta com força ao sair, ficou encarando seu documento de dispensa do lado de fora, mas não se deixou abalar. Quando estava prestes a sair, voltou para a sala da secretária e bateu na porta.
— Dá licença, dona Lurdinha.
— Ainda está aqui? — Ela falou desinteressada.
— Sim. Sei que a senhora não tem nada a ver com essa decisão, então me desculpe por ter descontado minha raiva em você. Minha família gecko me ensinou a abraçar as pessoas quando fico feliz, confuso, ou até mesmo com raiva. — Ele foi até ela, deu-lhe um abraço rápido e voltou para perto da porta. — Então desejo a você um bom dia, saiba que não desistirei dos meus sonhos.
A secretária estava boquiaberta. Quando Ralph deixou o lugar, ela guardou o lápis e observou a curiosa figura que a arrancara da rotina. Não pôde esconder um sorriso de relance nem a sensação tão estranha em seu peito.
— Tenha um bom dia você também — murmurou antes de retornar ao trabalho.
Ralph saiu do prédio principal da academia com o papel de dispensa em mãos. Amassou o papel e jogou-o numa lata de lixo — o que teria causado um sério alarde caso um instrutor o visse cometendo tal crime. Nenhuma força externa poderia modificar o que estava dentro de seu coração.


sábado, 26 de março de 2016

Capítulo 2


Era o local mais distante que já estivera de sua casa, portanto fez questão de entrar com o pé direito: tropeçou e foi direto ao chão, pois não estava acostumado com degraus tão altos.
Quase ninguém parou com a correria e antecipação de seus dias na Estação Pérola, os poucos que ficaram não sabiam se riam ou ajudavam, consumidos por uma estranheza divertida e curiosa. Um homem trajado em uniforme aproximou-se para ajudá-lo, mas não fazia mais do que sua obrigação.
— Ei, garoto, você está bem? — perguntou, agachando-se para ficar da mesma altura que ele.
— Já levei tombos piores, mas esse foi engraçado, né?
— Bem... Só espero que não tenha se machucado. Foi uma queda e tanto.
O homem revelou um sorriso, contente por certificar-se de que sua manhã continuaria tranquila. Quando ficou de pé, Ralph teve que olhar para cima:
— O senhor é... enorme!
— Você é novo ainda, aposto que vai crescer — o homem de uniforme falou enquanto passava a mão nos cabelos avermelhados do garoto. Ralph tirou um papel meio amassado de sua mochila e começou a observá-lo.
O funcionário o olhava intrigado, até que por fim decidiu perguntar:
— Precisa de ajuda?
— Moço, sabe dizer onde posso encontrar esse lugar? — Ele entregou o documento. — Me surpreendi ao ser convocado, pensei que seria só mês que vem.
— Os incontestáveis quinze anos. — O funcionário riu enquanto lia o papel sem muita atenção. — Em breve teremos um grande soldado, não?
O guarda apontou para um grupo de jovens que se unira ao descobrirem que compartilhavam semelhanças, como a dúvida, a insegurança e o desgosto pelos geckos. Era incrível como os humanos se ajeitavam em grupos tão rápido, como uma espécie de modo de defesa. Talvez andassem assim por se sentirem mais fortes e protegidos.
— Seu lugar é na Vila das Pérolas. Siga para o norte, terá de andar pouco mais de um quilômetro pela estrada até o litoral. A academia fica próxima à costa, se quiser uma referência, siga sempre em direção da Ilha dos Geckos.
Ele agradeceu o guarda com outro gesto estranho, o que fez o homem cair na risada antes de voltar ao trabalho.
O apito do trem soou estridente e a máquina de ferro deixou a Estação Pérola em direção da Estação Diamante na província vizinha. Para o garoto, visitar as terras de Myriad tão distantes de seu vilarejo era uma experiência inédita, via pessoas altas e vestidas em roupas extravagantes, cada qual com seu estilo, fossem ternos e cartolas, armaduras pesadas ou vestes do dia a dia. Era como se viessem do mundo das histórias que ouvira na infância.
Era por volta das seis da tarde quando o trem chegou ao seu destino, mas ainda havia uma caminhada considerável até a Vila das Pérolas. Uma trilha de tochas estava acesa, servindo como guia para os estudantes recém-chegados pelo percurso até o litoral. Além do treinamento, o porto servia como transporte de mercadorias da ilha dos homens-lagartos. Do alto do penhasco era possível ouvir o som alto que vinha de uma festa que acontecia na praia e a Ilha dos Geckos distante sob o céu noturno, claro e límpido.
Na costa pôde avistar a Vila das Pérolas, seu novo lar. Era uma área voltada para o treinamento de guerreiros, portanto, recebia a visita constante de oficiais do exército que vinham dar palestras ou lecionar, alguns inclusive selecionavam os melhores para seus regimentos. Os jovens selecionados eram enviados para servir nas capitais de uma das oito províncias. O exército dos humanos era o mais populoso dentre as quatro raças e se concentrava em Constantia, onde a guerra acontecia.
De repente, Ralph teve que parar. Aproximou-se de uma ribanceira mais do que devia. Olhou para baixo e alguns cascalhos rolaram, somente então notou que poderia ter caído. Recuou um pouco assustado quando uma estranha ideia passou por sua cabeça, afinal, poderia descer a colina de um jeito mais prático e ágil. Ajeitou sua mochila e colocou o pé na primeira rocha da encosta da montanha. Alguns geckos da espécie das lagartixas eram dotados da capacidade de escalar paredes, então decidiu tentar. Bastou um pequeno declive e logo cometeu uma falha. Foi caindo, trombando e se esborrachando até que parasse na encosta do outro lado. Havia poupado pelo menos vinte minutos de caminhada descendo a colina.
Os ajudantes que encerravam suas atividades no cais até pararam para observar a cena, eles foram gentis em fornecer informações para localizar a casa nº 17 no corredor Essência do Luar.
— Não vai participar da festa de iniciação? — perguntou um deles e entreolharam-se de forma travessa, escondendo as próprias histórias. — Os veteranos organizam esse evento especial para receber os novatos.
— Um luau na praia — confirmou o segundo. — Você deveria ir. Conhecer gente nova, talvez encaixar-se em um dos grupos antes que fique para trás. Dá até para pegar umas gatinhas.
— Muito obrigado pelas dicas — Ralph respondeu, apesar de não ter intenções de comparecer.
Nos alojamentos, as casas possuíam um emblema em cima da porta de entrada com o símbolo da raça humana. Ralph avistou uma casinha pequena de madeira e teto retangular, aconchegante e agradável para seus costumes humildes. Eram todas agraciadas com uma bela vista para o mar.
Ao bater na porta, foi surpreendido por um rapaz moreno de manto azulado com entalhes em prata e um círculo opaco que representava a academia na Vila das Pérolas.
— Olá, você será meu companheiro de quarto? — perguntou Ralph.
— Casa sete? — A resposta soou seca enquanto o jovem afivelava o cinto e tentava prender os botões na camisa. Ralph voltou a olhar seu panfleto.
— Hm, dezessete.
— Aqui é a sete, não sabe contar?
— Oh, é verdade — falou surpreso, embora tenha soado um pouco mais irônico do que gostaria. — Desculpe, tenho alguns problemas com números.
O rapaz revirou os olhos, impaciente.
— Sua casa é essa aí na frente. Siga as dezenas.
— Agradeço a informação.
— Está indo para a festa também? — A festa que todo mundo insistia em falar.
— Não sou muito de festas.
— Que pena. Os veteranos costumam fazer trotes com os novos membros da academia e não vão largar do seu pé caso tente fugir.
— Não estou fugindo. Digamos que eu esteja apenas... escolhendo a que lugar pertenço.
O rapaz deu de ombros e fechou a porta. Ralph não sabia quanto tempo ficaria na academia, seus treinos poderiam durar semanas, meses ou até anos; a única certeza que tinha é que esperava não esbarrar com nenhum veterano. Ainda não tinha nível e experiência o suficiente para conquistar esse tipo de amigo.

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Os alojamentos fornecidos aos alunos eram usados até que fosse decidido qual caminho seguiriam na formação. Ralph poderia fazer o que quisesse, aventurar-se pelas redondezas e tomar banho uma só vez na semana. Ele deu uma volta pelo cômodo, não havia muito a se ver, explorara tudo; agora queria desbravar o restante do mapa que ainda não conhecia, mesmo sendo tão tarde.
Na entrada do alojamento masculino, uma placa em forma de seta indicava a direção da academia, do porto e da estação. Podia escutar o som da festa vindo da praia, garotas chegavam com suas saias curtas, cabelos longos e soltos; os rapazes vinham de queixo erguido e chinelos nos pés para se sentirem o mais confortável possível. Tinha de admitir que era uma temática litorânea atraente e convidativa, mas será que eles se lembravam que do outro lado do reino estava acontecendo uma guerra?
Caminhou pelas estradas que serpenteavam o litoral quando uma garota de passagem perguntou:
— Para onde está indo?
— Ainda não sei. O que tem para esses lados? — perguntou Ralph.
— Não há nada. Você deveria vir para onde todos os outros estão. É mais divertido.
Ralph seguiu seu percurso solitário até alcançar os portões de ferro que bloqueavam a entrada da academia. Era fim de semana e as aulas ainda não haviam começado, os muros altos tinham a função de manter qualquer invasor longe, mas que aluno seria louco de invadir a escola quando não precisava estar nela? Não poderia esperar até a manhã seguinte. Ralph enfiou a cabeça entre as grades e pôde se imaginar dentro da academia, treinando com sua espada de madeira e provando sua perícia. Via-se na arena de combate magnífica na entrada, observado por um dos oficiais do reino, um possível olheiro, que o levaria para longe dali em direção da glória e do sucesso. Encarava tudo tão maravilhado que, quando percebeu que sua cabeça estava entalada, entrou em desespero em meio à situação.
Poderia ter ficado preso por várias horas, mas, para sua sorte — ou um belo acaso do destino — alguém passava por perto.
— Ei. Precisa de ajuda?
— Acho que minha cabeça está entalada — concluiu Ralph com a cara no portão.
— Como é que você se enfiou aí dentro?
— Acabei de chegar ao vilarejo e estava tentando dar uma olhada no local... Pode deixar, acho que eu consigo me virar, não há nada nesse mundo que eu não resolva — respondeu Ralph.
— Hm, entendi. Seja bem-vindo, então.
A pessoa preparava-se para ir embora quando Ralph percebeu que não importava o que fizesse, não conseguiria sair. Então, gritou novamente:
— Moça, mudei de ideia! Pode dar uma ajudinha?
— Pensei que pudesse resolver tudo.
— E eu posso. — Ele se remexeu envergonhado com a situação. — Só que... não sozinho.
Sentiu a pessoa segurar seus ombros, manobrando-o de maneira que pudesse se livrar das grades com facilidade caso tivesse mantido a calma.
Ralph parou e olhou para trás atordoado. Agora que conseguia vê-la em melhores detalhes, reparou que se tratava de uma jovem de longos cabelos negros emaranhados, de uma beleza excêntrica em seu corpo bem desenvolvido. Devia ter os seus dezoito anos, era mais velha do que muitos na academia. Tinha feições de gente impaciente, dava para notar por causa das marcas de expressão na testa e as sobrancelhas franzidas, sempre atrasada para um compromisso que não existia. Transmitia a clara sensação de alguém que não era de muita conversa. Vestia calça legging e por cima usava uma jaqueta de couro preto que lhe servia bem. Estava sozinha e sem rumo, gostava de pessoas que compartilhavam da solidão.
Ralph a analisou por tanto tempo que chegou a incomodar.
— Ei, garoto, ouviu o que eu disse? — ela repetiu, estalando o dedo algumas vezes em sua frente e libertando-o do transe. — Só tenta se cuidar a partir de agora, tá bem?
— Muito obrigado pela ajuda. Meu nome é Ralph, sou o Guerreiro da Espada de Madeira, tudo com letra maiúscula!
A moça riu procurou alguém que estaria ouvindo a conversa porque não queria que ninguém pensasse que fossem amigos.
— Entendi. Esse lugar é repleto de gente como você, acho que vai gostar — ela falou num tom divertido, talvez acostumada àquele tipo de situação. — Seja bem-vindo, novato. Se precisar de ajuda, talvez nos esbarremos por aí.
— Onde estava indo?
— Estou voltando de uma festa — ela falou, enfiando as mãos nos bolsos e erguendo os ombros. — Som alto e gente desinteressante. Não faz muito meu estilo. Está pensando em ir?
— Se você disse que não estava bom, então prefiro ficar com você — respondeu Ralph.
— Entendi. Pensa em se especializar na arte da esgrima?
— Como é que sabe? Você é algum tipo de feiticeira?
— Se você pretendia ir a uma festa carregando essa coisa — Auria apontou para a espada de madeira —, então ela deve ser bem imporante.
— É, sim. Meu sonho é me tornar um herói famoso e embarcar em inúmeras aventuras com outros guerreiros para ajudar quem precisa. Quer fazer parte? Tenho um montão de sonhos para realizar.
— Não tenho tempo para essas brincadeiras. É como dizem: “se realizar sonhos fosse fácil, o mundo não estaria repleto de sonhadores”.
— Mas sonhar nos faz tão bem!
— A realidade é meio dura, garoto — ela respondeu com rispidez. — Quando for adulto, vai entender.
— Qual é o seu nome? Acha que poderíamos ser amigos, pelo menos?
— Pode me chamar de Auria — respondeu ao virar-se para ele, continuando seu caminho em marcha ré. — E isso vai depender de como você se sai nos treinos.
Ralph deu um salto ágil em sua direção, como um réptil que ataca sua presa sem dar-lhe chances de escapar. Auria recuou dois passos por ter sido pega de surpresa e quase caiu. Ele era veloz. Os dois se encararam bem próximos, de forma que Ralph lhe estendesse a mão em sinal de cumprimento.
— Qual seu título?
— Do que está falando?
O título é como você quer que as pessoas te conheçam. Eu sou o Guerreiro da Espada de Madeira, pois é assim que eu quero ser lembrado.
— Auria. Acho que só Auria mesmo — explicou meio envergonhada. — Onde eu cresci costumam dar mais importância ao sobrenome das famílias do que aos nossos próprios atos. Mas por que se interessar tanto por isso?
Ela soltou uma risada enquanto olhava para o chão e remexia os pedregulhos. Por algum motivo, Ralph emanava uma aura diferente dos demais, certa serenidade. Auria colocou as mãos nos bolsos de sua jaqueta e coçou os cabelos emaranhados.
— Foi bom conhecê-lo, Guerreiro da Espada de Madeira — disse ela de um jeito meio irônico, preparando-se para partir. — E se quiser saber, sou uma veterana da academia. Quero ver quanto tempo você aguenta nesse lugar, porque já estou aqui há quase três anos.
Auria continuava a olhar para trás ao tentar ir embora. Em seu íntimo sabia que aquele jovem tinha algo diferente. Sentia vontade de rir só de vê-lo ali parado, uma chama brilhante no meio da escuridão.
— Vai ficar aí a noite inteira? — perguntou Auria.
— Já estou indo — respondeu Ralph. — Obrigado pela ajuda.
— Certo, até mais.
Quando Auria tomou certa distância, ouviu o barulho das grades no portão. Voltou correndo para se deparar com Ralph que dessa vez tentava escalá-lo como se fosse uma espécie de réptil.
— Qual é o seu problema?!
— Pensei que dessa vez dava pra passar, sou meio curioso.
— Desce já aqui! Não é permitido que ninguém tenha acesso à academia depois de anoitecer, podem te mandar de volta com o nome manchado, sua família ficaria furiosa!
Ralph jogou-se de cima e assustou-a com o salto. Ele caiu no chão sem sofrer nenhuma colisão, com as duas mãos e os pés apoiados na terra como um ser quadrúpede. Apesar das circunstâncias, Auria apreciou o movimento.
— Belo salto — admitiu.
— Tenho algumas habilidades como os geckos. Mas e aí? Quais são suas?
— Olha, eu como e durmo bastante. Também luto para sobreviver, não desistir, continuar de pé e seguindo meu caminho. Pelo menos ainda estou tentando, não é? Vi colegas serem escalados para os melhores batalhões, todos eles seguiram em frente, mas eu ainda estou aqui.
— Fique tranquila, quando a oportunidade aparecer você saberá reconhecer — Ralph falou com um sorriso. — Nós podemos ajudar um ao outro.
— Não acredito que você possa me ajudar. Eu não consigo nem resolver meus próprios problemas, muito menos os de outra pessoa.
— Eu entendo. Mas eu acredito que você vá conseguir, sério. Eu acredito em você!
Diferente dos demais rapazes da vila, era a primeira vez que Auria sentia que alguém não estava tentando procurar uma solução óbvia para resolver problemas que somente ela poderia. O simples gesto de sensibilidade a surpreendeu.
— Já perdi a conta de quantas vezes tentei ir embora, mas você não deixou — disse Auria em meio a um sorriso confuso, daqueles meio tímidos e imprevisíveis, como alguém que está sempre disposto a trocar novas experiências.
— Isso é um bom sinal?
— Talvez você seja a coisa mais interessante que eu tenha no momento. Vai enfiar a cara no portão de novo? — Auria gritou de longe enquanto caía na risada.
— Por enquanto, não — Ralph respondeu com a mesma entonação. — Mas, se quiser saber, na verdade eu fiz aquilo porque queria que você voltasse!
Ela retribuiu um sorriso espontâneo. Sentia-se tranquila, seu coração estava leve. Fora dar uma caminhada para livrar-se dos problemas e preocupações de sua vida e aquela conversa se revelara em excelente hora.
Auria ainda não sabia, mas sentia que de alguma maneira estaria conectada a ele.



 

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