O Grande Encontro [Support]
Support Conversation (Lesten e Bill)
Gênero: Comédia, Romance;
Tema: Um encontro para Lesten com uma moça mais velha;
Tema: Um encontro para Lesten com uma moça mais velha;
Sugestão do leitor: Sir Naponielli.
Organizar um
encontro não foi nem de perto tão difícil quanto encontrar
gente disposta a participar dele. Bill montou uma lista com todas as opções,
mas tão pouco a concluiu e já começou a riscar nomes.
1) Ralph –
Ingênuo demais, as garotas não devem se interessar em um garoto que está mais
preocupado em explorar o mundo e fazer amigos do que entrar em um
relacionamento;
2) Peter Lee
– Foi minha primeira opção. As garotas adoram um barbudo com cara de mal, ele
tem porte e histórico de lutador, sucesso na certa, mas qual foi minha surpresa
ao receber um belo “não”. Parece-me que ele já está compromissado, ou talvez
esteja só de rolo com alguém, se minhas suspeitas estiverem corretas (e sempre
estão);
3) Bernard –
Leva jeito para ser aquele tiozão da festa que faz piadas com pavê. Uma boa
companhia, de fato, mas deve estar na casa dos sessenta, tem idade para ser avô
das garotas;
4) Raegar –
Ele namora;
5) Doppel –
Para falar a verdade, nem sei se ele se interessa por mulheres;
6) Drake –
Ele está morto.
— Então para
resumir eu sou a tua última opção — disse Lesten de soslaio.
— A última opção é
não levar ninguém. Com isso, tenho maiores chances de sair de lá bem
acompanhado — respondeu Bill, chutando a rede onde Lesten estivera balançando a
tarde inteira para lá e para cá. — Vamos lá, Sr. Lagarto, você tem cara de quem
leva jeito para esse tipo de encontro. Todos o adoram!
— Tá me achando com
cara de palhaço? — Bill recuou diante do jeito grosseiro dos geckos, mas Lesten
deu-lhe um toque no ombro e sua feição se desmanchou em uma risada calorosa. —
Tô tirando uma contigo, parceiro. É claro que topo! Não é todo dia que tenho a
chance de participar experiências novas.
— É assim que eu
gosto — respondeu Bill. — Marquei às oito da noite no Soleil, a cafeteria da
vila. Não falte, hein?
— Beleza. Só me
tira uma dúvida — Lesten continuou. — Tu disse que seria um encontro a três...
Quem é o nosso terceiro integrante?
Bill devolveu-lhe
uma risada maléfica.
— É o nosso Cabeça
Quente favorito.
— O Aedan?! Maluco,
não posso perder isso por nada!
i
No horário marcado,
Bill logo se arrependeu de ter organizado todo aquele encontro. Nenhuma das
três garotas havia chegado, Lesten era conhecido por seus atrasos de mais de
uma hora e ele nem tinha certeza se Aedan compareceria de verdade.
Desolado e sozinho
em sua mesa, Bill folheava o cardápio sem interesse aparente quando alguém se
aproximou.
— E aí, Bill,
esperando companhia?
Ralph estava com o
avental do Soleil e uma bandeja com dois mistos quentes. Era a primeira vez que
Bill o via trabalhando como garçom no café, o garoto mantinha a expressão
sempre receptiva e sorridente.
— Olha só quem está
fazendo hora extra para ganhar uns trocados. — Bill apoiou os braços no encosto
do assento e esforçou-se ao máximo para esconder o fato de que acabara de levar
um bolo de cinco pessoas que nem combinaram entre eles. — Ah, sabe como é a
vida, sou muito requisitado pelas pessoas ao meu redor, preciso estar em vários
lugares ao mesmo tempo.
— Não tem problema
dizer que você gosta de tomar café sozinho, eu entendo. Às vezes é bom tirar um
tempo para organizar os pensamentos, né? — disse Ralph.
Bill estava para
contrariá-lo quando Aedan chegou ao Soleil, chamando atenção de quem quer que
estivesse de passagem.
— Já fez o pedido?
— perguntou Aedan com as mãos no bolso, sempre impaciente, como quem mal chegou
e já espera a hora de ir embora. Ele fez um cumprimento rápido para Ralph que
prontificou-se em anotar. — Me vê um conhaque, garoto.
— A-acho que não
temos isso aqui, Aedan...
— Mas está escrito
aqui no menu.
— O Doppel disse
que bebidas alcoólicas fazem mal para as pessoas — respondeu Ralph. — E eu não
quero que isso faça mal para você. Serve um... choconhaque?
— Garoto, com esse
jeito prestativo você conquista qualquer uma! — comentou Bill. — Por que não te
chamei no lugar dele, hein?
— Ah, então vocês
estão naquele tal de “Grande Encontro”? — perguntou o menino.
— Quer trocar de
lugar? Ainda dá tempo. Eu realmente não faço ideia do por que ainda estou aqui
— respondeu Aedan.
Ralph pareceu meio
sem jeito diante da situação.
— Bill, sem querer
me intrometer na sua vida nem nada, mas... e a Tootie?
O gatuno ajeitou a
franja num gesto esnobe.
— Hah! Tootie? Nem
me fale... Eu não aguento mulheres naquela fase, se é que me entende. Algumas
se tornam irritadiças, outras choram por qualquer bobeira e a Tootie é uma
junção dessas. Ela veio com ideias de que não dou atenção o suficiente, que ela
não consegue controlar seus poderes porque é incapaz, de repente vieram as
crises de negatividade que começaram até a me afetar, então demos um tempo,
sabe? Estou precisando conhecer gente nova, isso faria bem a todos nós.
— Acho que você
deveria ter ficado do lado dela até que esses problemas passassem — respondeu
Ralph.
Bill deu uma batida
leve na mesa e esticou os dois braços.
— Tá vendo? É por
isso que não o convidei. Esses encontros são para gente grande, Ralph, você não
entende nada disso.
— Conhaque, por
favor. — Aedan repetiu.
Ralph revirou os
olhos e os deixou para levar o pedido.
Por algum milagre,
Lesten chegou pouco depois. Devia estar tão entediado que não encontrou nenhum
motivo para justificar um atraso maior.
As três garotas
vieram nos próximos minutos, elas eram amigas e esperaram a companhia uma da
outra para entrar, pois estavam nervosas e muito ansiosas. Uma delas
era uma humana de rosto alongado e nariz arrebitado onde os óculos de aro quadro pendiam, seu nome era Wanda e estava na Pequena Colina a passeio; a segunda chamava-se Latasha, uma gecko de pele amarelada que falava
mais do que a boca e morava na Ilha dos Geckos localizada no norte de Pequena
Colina; a terceira era uma tótines chamada Désirée, ela tinha cabelos
curtos com mexas loiras e seu sorriso era contagiante.
— Désirée? Uau,
qual a origem? — perguntou Bill, tentando iniciar uma conversa.
— Significa
“desejada” em uma língua antiga — ela respondeu meio acanhada. — Difícil é
soletrar para as pessoas quando preciso.
— Tu trabalha aqui
na ilha? — Lesten continuou.
— Sim, eu trabalho
na agência de entregas de Pequena Colina. Meu poder é correr bem rápido, faço entregas no reino todo! As agências costumam contratar apenas geckos alados ou monstros que voam pela fácil mobilidade, então sou uma das poucas tótines no ramo. Sou uma carteira!
— Então tu tem
muito dinheiro guardado, né? — O lagarto começou a rir. — Hah, hah. Sacou?
Carteiro, carteira?
Conseguira arrancar
uma risada discreta de Désirée, o que já era um sucesso.
— E você, Sr. Lagarto, trabalha
por aqui também?
— Eu dou meus pulos
— respondeu o lagarto. Era a forma dele de dizer que estava desempregado.
As outras duas
estavam muito mais interessadas em Aedan que mantinha a feição séria e o olhar disperso. Camisa de marca, calça jeans, cabelo bem penteado e barba
aparada, ele tinha pose de homem maduro na casa dos trinta, daqueles com vida
feita e casa própria — era
difícil conter os suspiros quando o viam passar.
O grupo fez o
pedido de duas porções de batatas recheadas com bacon e cheddar, alguns
hambúrgueres e cervejas com mel na caneca para acompanhar. Enquanto a comida
não chegava, continuaram compartilhando de seus interesses, aspirações e
experiências pessoais.
— Me fala sobre
vocês — disse Wanda em tom sério, tomando um pouco de seu drink. — Vocês são daqui? Com o que trabalham? Quanto ganham? Ainda moram com os pais?
— Eu sou dono de
uma das lojas mais famosas da região — falou Bill. — Desde cedo aprendi a
transformar utensílios velhos em produtos de qualidade que podem ser de grande
serventia aos necessitados.
— Em outras
palavras, ele rouba coisas e revende pelo dobro do preço — disse Lesten que
arrancou muitas gargalhadas das garotas. Bill ficou vermelho de raiva.
As horas passavam
depressa, todos queriam conhecer um pouco mais sobre a vida um do outro, seus
sonhos, medos e aventuras inesperadas no Reino de Sellure.
— E você, bonitão?
O que faz da vida? — perguntou Wanda dirigindo-se à Aedan.
— Tu tá falando com
o Lendário Guardião das Pérolas Sagradas e Líder da Ordem do Selamento, mano! —
confrontou Lesten.
Fez-se um silêncio
na mesa.
— ...e isso
significa?
— Significa que
ele... é um cara super bacana? — continuou o lagarto.
As garotas
começaram a rir sem parar.
— Ai, William, seu
amigo é tão engraçado! — disse a gecko fêmea.
— William? Quem é
William? — perguntou Lesten.
— Eu sou o William,
sua mula. William Von Altenburg. Bill é só um apelido para os íntimos.
— Você é um dos Altenburg? — Désirée perguntou,
incrédula. Ela também era um tótines e sabia por tudo que sua raça havia
passado há oito anos quando foram perseguidos. A Família Altenburg foi o centro
dos holofotes.
— Olha, eu...
prefiro não falar sobre isso. — Bill teve de ser sincero e logo
emendou outro assunto. — E respondendo a pergunta do nosso amigo lagarto,
não escolhemos nossos apelidos. Minha mãe me chamava de Bill, tem um valor
sentimental.
— Na real, tu não
tem cara de William. Eu gosto mais do apelido que eu te dei: Texugo da
Discórdia, isso sim é irado.
As garotas voltaram
a rir do outro lado.
— Por que um
texugo? — perguntou Wanda.
— Tu não contou que
consegue se transformar em um texugo, mano? — perguntou Lesten.
— É um guaxinim!
Será que não dá pra perceber a diferença? Texugos são fedorentos e
horripilantes, os guaxinims por sua vez são criaturas astutas, inteligentes e
sagazes — disse o gatuno. — Garotas... há muita coisa mais interessante,
por que é que uma de vocês não diz...
— MOSTRA PRA GENTE?
— As três imploraram quase que ao mesmo tempo.
Por este e outros
motivos, Bill mantinha escondidos os detalhes de sua vida pessoal. Toda garota
amava seus truques de transformação, mas haviam alguns detalhes que ele
preferia não compartilhar com qualquer uma. Seu passado como Altenburg era
uma parte da qual ele ansiava por esquecer e poucas pessoas compartilhavam do
trauma. Pegou-se
pensando em como Tootie era a única que ele permitia acariciar sua pelagem
quando se transformava em guaxinim, amava espreguiçar-se em seu colo enquanto
ela fazia carinho em sua cabeça até adormecer.
Sentiu uma tremenda
saudade dela. Até carregava um pingente em formato de trilobita na carteira,
Tootie fizera para ele havia alguns meses para trazer boa sorte. Ela adorava
fazer artesanatos e só presenteava as pessoas que lhe eram queridas.
Quando se deu
conta, estava com a mão na carteira, acariciando o pingente. Foi então que percebeu
que algo mais faltava... esquecera completamente o selo mágico que funcionava
como um cartão de crédito para acessar seu dinheiro, logo, não tinha como pagar
a conta.
Chartlatão do jeito
que era, Bill levantou-se discreto e falou:
— Com licença,
senhoritas, preciso me retirar por um minuto.
— Por quê? Tá com
dor de barriga? — perguntou Lesten e elas riram de novo.
Ótimo, pensou Bill, pelo menos o lagarto vai mantê-las entretidas.
Assim que Bill se
retirou do Soleil, a mesa mergulhou num silêncio momentâneo onde cada um
refletiu pelo real motivo de estarem ali. Lesten sentia-se muito sozinho nos dias
de semana agora que Auria voltara a prestar o curso na academia da Vila das
Pérolas, ela estava tão atrasada que precisou tirar o mês das férias para
adiantar as matérias que faltavam; Aedan sempre ouvia Elice dizer que ele
precisava arrumar uma namorada logo, dessa forma ela teria alguém com quem
brincar; as três garotas só queriam conhecer algum cara interessante, também
sofriam pressão de seus familiares e amigos que impunham a ideia de que seria
bom que arranjassem um bom partido o quanto antes, ou acabariam sozinhas.
— O quão ridícula é
essa ideia de que precisamos nos comprometer antes dos trinta, não? — disse Aedan
em voz alta. — Casar, comprar uma casa, ter filhos...
— Eu estava
pensando na mesma coisa! — disse Désirée. — Sabe, por que não
podemos curtir a própria companhia? Não precisamos de ninguém para nos fazer
felizes, e cada um tem o seu tempo. Não me entendam mal, rapazes, vocês são uns
amores...
— Acho que todos
nós nos sentimos meio sozinhos de vez em quando — comentou Aedan. — Logo
preciso voltar para casa. Tenho uma criança me esperando ansiosa para maratonar
desenhos a madrugada toda.
— Você tem filhos?
— perguntou Désirée.
— Minha irmãzinha.
Mas devo concordar que por conta da diferença de idade é como se fosse uma
filha.
— Oh, isso é tão
fofo de sua parte, as garotas gostam de caras maduros com família — disse Latasha.
— Não há nada melhor do que um homem que gosta de ficar em casa e curtir um
pouco de carinho!
Aedan revelou um
sorriso sincero e fez um aceno de despedida.
— Senhoritas, lembrem-se,
não se sintam pressionadas a nada. Tenham uma boa noite.
Assim que o guardião
de fogo se retirou, ele arrancou mais alguns suspiros. Se fosse com ele, qualquer
uma certamente toparia levar um relacionamento duradouro adiante.
Lesten foi deixado
a sós com as três garotas. Fazia tanto tempo que ele não saía em um encontro
que já se esquecera o que fazer, para ele era fácil ser brincalhão e fazer
piadas entre amigos, bastava ser ele mesmo — mas agora que era o foco da
atenção, as três pareciam esperar alguma forma de serem entretidas.
— Tô achando que
aquele hamburgão não me caiu bem... eu vou... dar uma saída... rapidão.
Lesten disparou
para longe da mesa e no caminho deu um puxão no avental de Ralph que estava
ocupado atendendo um casal. Quando os dois se encontraram na cozinha, o lagarto
suava frio só de falar.
— Mano do céu, me
leva pra casa.
— Por quê? —
perguntou Ralph.
— Sei lá, é muita
pressão! Que ideia de girico essa do Bill de arrumar um encontro, eu nem tô
procurando fêmeas! É tão diferente quando estou contigo ou com a Auria, vocês
me dão espaço e me aceitam como sou, mas em frente a desconhecidos eu me sinto
só um idiota desempregado que mora de favor na casa do amigo tentando provar
que tem uma vida decente! Já não tenho mais nada legal pra contar sobre minha
vida!
— Ora, Lesten —
disse o garoto. — Se for para você encontrar um parceiro bacana, essa pessoa
deve enxergar tudo isso dentro de você e amá-lo mesmo assim. É disso que o amor
é feito, reciprocidade.
— Eu nem sei o que
reciprocidade significa, mas deve ser maneiro — respondeu o gecko. — Tu tem só
quinze anos, mas é cheio de sabedoria.
Os dois espiaram
por cima do balcão e viram que as garotas já estavam bem impacientes.
— Vá e seja sincero
com elas — falou Ralph. — Não tem problema sair de um encontro sem nada
marcado, o importante é que vocês tenham curtido a noite, pelo menos um pouquinho,
né?
Lesten concordou e
foi até a mesa das garotas explicar-lhes a situação. As três não pareceram
constrangidas, tinham gostado do papo e a comida no Soleil era muito boa.
O problema era que
Bill não voltava e, tecnicamente, ele é quem deveria pagar a conta. Quando as
três perceberam que ele também não voltaria, decidiram rachar a contra entre
elas.
— Foi mal, meninas...
Não tenho grana nem pra pegar o trem, é foda ser desempregado — disse o gecko.
— Acho que estraguei o encontro de vocês.
— Não, imagina —
respondeu Désirée. — Você foi gentil em nos acompanhar até o fim, os outros
dois nem isso tentaram.
Assim que as
garotas deixaram o Soleil, Lesten decidiu acompanhá-las até a estação. Ele faria
o caminho de volta para o topo da colina andando mais tarde, Wanda e Latasha
haviam se despedido de sua amiga, mas Désirée morava na vila e por isso não
precisou do Trem das Águas. Ela levava duas sacolas e uma mochila pesada nas
costas.
— Posso te ajudar a
carregar isso aí? — perguntou Lesten em uma tentativa de se redimir.
— Ah, não precisa,
nem está tão pesado — ela agradeceu, mas Lesten acabou pegando do mesmo jeito.
— Não quero que
pense que eu acho tu não tem força pra carregar, tá?
— Claro que não —
ela riu. — Nem toda garota se incomoda com gentileza. É raro hoje em dia, mas
atitudes como essa ainda têm o poder de cativar.
Lesten estava
aprendendo a gostar da companhia de Désirée. Apesar de se desentender com
humanos no início de sua jornada, vinha aprendendo como respeitá-los e
compreendê-los. Ela era uma tótines de aparência comum como qualquer outra, mas tinha um
sorriso contagiante e sempre falava de tudo com tanta empolgação, era
maravilhoso passar alguns minutos com ela, mesmo que fossem poucos.
Désirée não quis contar que teria chego em sua casa em cinco minutos se tivesse usado seus poderes para correr, mas estava gostando muito da companhia do lagarto, tentou andar o mais devagar que pôde para estender ao máximo aquele sentimento gostoso. Lesten a deixou na frente de sua casa. Acabara fazendo o trajeto oposto
da colina, mas se divertira um bocado.
Uma pequena luz se
acendeu na varanda, por onde três crianças vestidas de pijama apareceram na
janela e acenaram para ele. Foi a vez de Désirée ficar toda vermelha, movendo
os braços de forma frenética num indício de que eles deviam sumir dali o quanto
antes.
— Olha só, tu
tem vários irmãozinhos — comentou Lesten.
— E-eles não são
meus irmãos... — Désirée remexeu-se constrangida. — ...são meus
filhos.
— Ah. — O lagarto
balançou a cabeça.
— Sei que deve
estar achando estranho uma mulher como eu ter três filhos e ir para um encontro
com as amigas. Mas é que meu marido morreu na guerra e desde então sou mãe
solteira. Wanda e Latasha vivem dizendo que achar um cara decente me ajudaria
com as despesas em casa, mas não quero me aproveitar de um cara que pague a
conta e me leve pra sair... o principal continua ser encontrar alguém com quem
nos sintamos bem, não é? Ah, droga, devo estar parecendo uma esquisitona
desesperada agora.
— Na real, quem sou
eu para achar alguém esquisito? Eu sou uma lagartixa gigante — disse Lesten, só
para ouvi-la dar risada de novo. — Eu acho que tu é uma guerreira por tomar
conta deles e se preocupar tanto com sua família.
— É... O lanche é
para eles — disse Désirée olhando para sua sacola.
— Se quiser uma
companhia qualquer dia desses, conta comigo. Pelo menos eu sou engraçado.
— Ha, ha. Com
certeza irei — despediu-se a mulher antes de entrar em sua casa. — Boa noite,
Lesten. Durma bem.
Como não sabia ser
discreto, teve que perguntar:
— Quantos anos tu
tem?
— Isso vai ter que
ficar para o próximo encontro. — Ela tocou na ponta do focinho de Lesten que
ficou estático, afinal, seria aquele um convite para que se repetisse mais
vezes?
ii
Quando Bill voltou
para a Fortaleza Abandonada já passara das duas da manhã, ele ficara pelo menos
uma hora perambulando nos arredores, sem coragem para entrar. Chegou exausto ao
seu aposento, tirou a camisa, o cinto da calça e os sapatos, despencando de cara
na cama como quem quer um abraço. Sentia-se sozinho e vulnerável, toda aquela
ideia de encontro não combinava com ele.
Estava mergulhado
no seu próprio silêncio quando ouviu alguém bater à porta. Não precisou
responder, pois Tootie entrou na ponta dos pés vestindo sua camisola e pantufas
de Dinorros.
— Oi. Onde esteve?
— ela perguntou com seu jeitinho atencioso. — Senti sua falta.
Tootie podia ter
escolhido ir embora, mas preferiu sentar-se ao seu lado na cama. Ela apoiou a
cabeça de Bill em seu colo e acariciou seus cabelos, estava claro que seu
companheiro tivera um dia difícil e ela queria contribuir de alguma forma. Eles
eram amigos de longa data e, mesmo com alguns desentendimentos, conheciam demais
um ao outro para que uma simples briga os separasse.
— Você é boa demais
para mim — Bill murmurou bem baixinho.
E assim ficou até
adormecer.
Na manhã seguinte,
era Bill quem balançava na rede entediado quando foi interrompido por um
lagarto bípede cheio de entusiasmo.
— Aí, William,
quando é que vai rolar o próximo encontro? — perguntou Lesten.
— Não vai rolar
encontro. E não me chame de William.
— Poxa, que pena.
Me diverti pra caramba ontem! No caminho de volta tive a chance de conhecer
melhor a moça das cartas, e que mulher! Acho que estou apaixonado.
Bill encarou o
lagarto com um semblante incrédulo.
— Sério isso?
Pensei que estivesse furioso comigo por deixar vocês pagarem a conta.
— Ih, rapaz, no meu
coração não tem espaço pra odiar ninguém por mais de duas horas. E eu já tô ligado
que tu é mão de vaca. Essa ideia dos humanos de organizar encontros é meio esquisita — disse coçando a cabeça —, mas curti experimentar coisas novas.
— Relacionamentos
são complicados... Quanto mais o tempo passa, mais você conhece os defeitos da
pessoa — comentou Bill.
— Mas tu pode
conhecer os defeitos de antemão, e mesmo assim continuar gostando, né?
— Faz sentido. Eu estava aqui pensando — falou Bill, que na mesma hora sentou-se e pareceu
fervilhar de novas ideias — e se na próxima chamássemos o Ralph, porque aquele
garoto só pode ter mel. Nós deixamos o Aedan bem longe porque ele atrai toda
atenção só para ele. Esse é o problema de ter amigos bonitos demais, eles
ofuscam a gente. Na próxima será um jantar à luz de velas perto do cais com direito a música ao vivo e
rodízio de frutos do mar, o que me diz?
Lesten já era
presença garantida na próxima tentativa do Grande Encontro, mas só se Désirée
fosse também. Enquanto isso, Elma e Tootie observavam o falatório dos rapazes
da varanda.
— Ele não toma
jeito mesmo — comentou a ferreira.
— O Bill tenta usar
essa máscara de patife para impressionar os outros, mas eu sei que
por dentro ele é só um rapaz carente que precisa de um pouco de afeto —
respondeu Tootie com um sorriso. — Eu tomaria conta dele.
— Quer saber de uma
coisa? Vocês dois combinam — disse Elma com uma risada calorosa.
Canas, amei! Isso daí é uma coisa maravilhosa! Man, sinceramente, espero que vire canônico Lesten e Désirée. Espero mesmo.
ResponderExcluirAchei muito bom a lista de ocorrências. Pra mim ficou simples e divertido. Um tipo "clássico", de certa forma. Por algum motivo me lembrou Black Clover, mas não vem ao caso.
Realmente Canas, cumpriu sua missão. Você foi promovido! Agora, é 2º tenente! Parabéns!
Diga aí, Sir! A moça das cartas vai aparecer sim, ela terá inclusive algumas pequenas aparições no segundo livro porque também trabalha nessa ilha onde eles estão alojados né, então é provável que se esbarrem vez ou outra kk
ExcluirEu me baseei em Black Clover mesmo cara kkkk Quando você pediu uma ideia para o Support, eu não queria colocar só o Lesten dando em cima de garotas e quis tentar desenvolver outros personagens no meio, mas fiquei um tempão pensando como faria desde que você mandou a sugestão. Acabei usando a ideia do encontro pra ficar mais dinâmico, sem contar que o Bill é um dos antagonistas da Ordem e é muito divertido trabalhar com ele.
E uma curiosidade: Você pode perceber que a maioria dos Supports fala dessa região chamada Pequena Colina, isso porque ao final do primeiro livro é onde se situa a base deles!