sexta-feira, 18 de março de 2016

Capítulo 1


“Nem sempre a vida segue como planejamos”, ouvira certa vez. Quando você for adulto vai entender.
O embalo foi forte o bastante para acordar o garoto que descansava a cabeça em uma das paredes gastas do vagão. Os trilhos enferrujados seguiam seu caminho contínuo pelos quais a locomotiva de ferro era conduzida. Era por volta das sete da manhã e todos repousavam em profundo silêncio. Enquanto os passageiros aguardavam a chegada do trem ao seu destino, Ralph ainda fantasiava. A mente estava perdida em cenas que passavam depressa na janela, abriu o vidro, respirou fundo e fechou os olhos. Ainda não tinha certeza se teria consciência e maturidade o suficiente para assumir as responsabilidades que batiam à sua porta, mas estava disposto a tentar.
Há horas estava sentado no mesmo lugar, o nervosismo em migrar para uma região desconhecida e iniciar seu treinamento mitigava diante das palavras de sua mãe de que tudo daria certo. Na primeira vez que saiu de casa para cursar os estudos, sua família lhe alertara sobre a necessidade de encontrar amigos para seguir na jornada da vida. Quando perguntou como faria para reconhecê-los, a resposta foi que era impossível — então devia ser como cair de paraquedas perto de alguém. A definição de amizade que tinha até então era a de que amigos surgiam de repente, preenchendo um pedaço que faltasse no outro. Acreditava que quando encontrasse as pessoas certas, saberia. Logo, sua ideia era de que amigos trocavam peças uns com os outros. Cada pessoa tinha um quebra-cabeça incompleto dentro de si, por isso devia viajar até completá-lo. Havia quem o completasse antes do tempo, outros levavam anos para descobrir que usavam uma peça errada. Alguns nunca conseguiam.
Ao seu lado, em um dos bancos, estava apoiada uma espada de madeira como se fosse uma pessoa. Era sua única companheira desde que aquela longa viagem começara.
— Aqui estamos. Nem dá pra acreditar, parece que passou tão rápido — murmurou.
Ralph rumava para a região de Myriad, uma das oito grandes províncias do Reino de Sellure. Vivera toda a infância no Vale dos Ventos, um vilarejo centrado na zona rural de Helvetica esquecido pelo tempo.
Durante toda a vida, Ralph cultivou memórias felizes e acolhedoras. Não teve um passado triste ou melancólico, nem precisava usar suas dificuldades como desculpa para seguir em frente. Pensava com frequência em seu lar. Era o tesouro mais precioso que carregava em suas memórias — gostava dos campos verdes e dos grandes moinhos, mas ansiava pelo que Sellure ainda tinha a lhe mostrar.
Despertou de seus devaneios quando o trem oscilou sobre os trilhos desgastados. Devia ser antigo, mas não o bastante para se tornar uma relíquia, uma vez que a tecnologia vinha aos poucos se alastrando pela região. Acabara de completar quinze anos, a idade em que os adolescentes deixavam suas famílias para começar os estudos e servir sua nação, uma distinção inigualável.
Estava tão ansioso. Sonhara com aquele momento a vida inteira, poderia ser a chance de descobrir de uma vez por todas a resposta da grande pergunta que o passado era incapaz de responder e o presente estava prestes a descobrir: o que o futuro me reserva?
Quando um velho de uniforme borrado passou ao seu lado, Ralph apontou para a janela e perguntou:
— Olá, caro senhor, pode dizer se já estamos chegando?
O velho lançou um olhar rápido para o garoto, mas manteve-se em silêncio e continuou com sua faxina, como se não tivesse a permissão de falar com os visitantes. Porém, vendo que ninguém os observava, chamou-o com um assovio baixo.
— Estaremos na estação dentro de meia hora. Aproveite a paisagem, Myriad é uma das províncias mais antigas e exóticas de nosso belo Reino de Sellure.
— Que boa notícia, mal posso esperar para me inscrever e começar a treinar. Esperei por isso o ano todo, ou melhor, talvez toda a vida — disse Ralph, contente.
Esse menino sorri bastante, o velho pensou consigo mesmo. Assistia pessoas entrar e sair do trem todos os dias, embora nunca mais voltasse a vê-los.
O faxineiro retomou a varredura dos corredores do vagão. Ralph apoiou-se na parte traseira de seu assento e virou-se para estender a conversa.
— Desde muito novo eu sonhava em ter uma aventura só minha, enfrentar os vilões, ser um guerreiro honrado... Quero ajudar as pessoas como puder e me tornar um herói!
— E o que você faria se descobrisse que na verdade a vida não é tão divertida quanto parece? — o faxineiro retrucou num tom baixo.
Para sua surpresa, Ralph sorriu e fez um cumprimento com a cabeça.
— Eu a farei ser legal comigo.
O velhinho também sorriu e por fim retomou seu trabalho.

i

O tempo se arrastava, não havia nada para fazer no trem. Ninguém conversava e poucos pareciam dispostos a fazer novas amizades naquele ambiente tão estranho. As respirações desmotivadas e os suspiros pesarosos denunciavam uma marcha sem retorno. Ralph olhava cada passageiro, tentando entender o que se passava em suas mentes. Alguns desviavam o olhar, outros fingiam que não era com eles. Uma garota que não parava de roer as unhas chegou até mesmo a se incomodar.
— O que você está olhando?
— Você parece triste. — Era possível notar só pela forma como ela mexia as mãos.
— Só estou um pouco assustada. — Ela desviou o olhar. — Ei, você tem uma espada de madeira bem legal. Foi você quem fez?
— É presente de um amigo. Ele ficaria feliz se soubesse que guardei até hoje — respondeu Ralph, mas logo a garota se calou e ele teve de se conformar com o silêncio.
Um rapaz terminou de beber seu refrigerante de cor azulada e jogou a garrafa no chão. Ralph levantou para jogá-la no lixo quando o velho faxineiro passou e fez seu trabalho. O garoto do refrigerante reclamou alto, como se tivesse a necessidade de resmungar para alguém:
— Vai demorar muito para essa lata velha chegar? Já estou ficando de saco cheio em ficar enfurnado aqui. Que demora!
— Estamos indo para a Vila das Pérolas, um dos principais centros de recrutamento de Sellure. Paciência é uma virtude nos treinos que você fará parte — respondeu a menina.
— Não precisa lembrar. Foi péssimo ter de deixar minha família e meus pertences em Helvetica. Por ora só quero sair daqui, não aguento esse cheiro de gecko impregnado nas poltronas, estão sentindo? — argumentou, chamando a atenção de Ralph que despertou seus instintos ao ouvir alguém falar “gecko”.
— Irei certificar-me de livrá-los do cheiro depois que vocês saírem — o faxineiro falou num tom ríspido, mas o rapaz nem notou a ambiguidade da frase.
O burburinho recomeçou. O assunto despertara o interesse mútuo.
— Você ouviu? — uma moça comentou. — Há geckos por aqui também.
O jovem no banco de trás se pronunciou:
— Tomara que esses répteis façam uma passagem rápida pelo porto e não fiquem para bagunçar tudo como sempre fazem.
— Será que estão indo para a guerra? — disse outro, virando a cara para a janela. — Espero que de lá não voltem.
Ralph sentiu-se constrangido. Os geckos sempre tiveram uma rixa intensa com os humanos, falavam e se comunicavam com a mesma língua e mesmo assim não conseguiam se entender. Viviam debaixo do mesmo céu e estrelas, o que os tornava tão diferentes? Há quem não acreditasse na amizade sincera entre um humano e um lagarto.
Uma última cambaleada e precisou equilibrar-se em uma das paredes para não cair de seu banco. Pegou a espada de madeira no chão e olhou para os lados, era possível ver a Estação Pérola bem próxima do oceano, os trilhos desciam a colina para enfim retomar seu caminho e desaparecer no horizonte.
Ralph imaginava o que faria assim que chegasse a sua nova casa. Primeiro, entraria com o pé direito em seu novo lar. Uma nova fase teria início e ele ainda não sabia se estava preparado para algo tão importante.
Concluiu que nunca estaria. Mas teria de encarar do mesmo jeito.

ii

O apito soou, todos se levantaram ainda desordenados. Ralph esperou para não ter de enfrentar o trânsito de passageiros ansiosos enquanto refletia: bem, minha vida antiga acaba agora. Pegou sua espada de madeira e estava de pé para sair do trem quando o faxineiro o chamou:
— Ei, menino. Não está esquecendo nada?
Ralph olhou para os lados, pensando se de fato esquecera alguma coisa.
— Hm? Ah, desculpe, que falta de atenção a minha.
Ele voltou e deu um forte abraço no velho.
— Obrigado, meu senhor, por não me deixar esquecer.
Era aquilo que estava costumado a fazer quando ia para a escola e cumprimentava sua mãe. A imagem dela ainda era nítida em sua mente: “Não está esquecendo nada?”, e Ralph jamais se esquecia de abraçá-la, porque sempre havia motivos para agradecer.
O velho continuou a encará-lo com uma feição estática de surpresa. Não sabia ao certo por que Ralph fizera aquilo ou como devolver a bondade, mas por algum motivo ficou feliz. Era o primeiro abraço que recebia em muito tempo.
Ralph tinha esse estranho poder — contagiava as pessoas ao seu redor com felicidade. Transmitia o bem-estar para aqueles a sua volta, até mesmo as pessoas mais frustradas não conseguiam esconder um sorriso ao seu lado.
— Bem, hm, eu ia dizer que estava esquecendo sua mochila.
— Nossa, que cabeça a minha! — respondeu com a mão na testa, agradecendo pelo lembrete.
— Hah, hah. Estou de olho em você, garoto. — E deu-lhe uma piscadela.
Ralph pegou sua pequena mochila e foi embora. Até quando um jovem inocente como ele conseguiria virar-se sozinho no mundo? A academia se provaria intensa. Quando entrasse no exército sua situação não tenderia a melhorar e a vida não seria nem um pouco mais amigável.
O velho retirou um pequeno livreto do bolso, fez anotações e por fim o guardou. Do lado de fora do trem, Ralph acenou para ele de um jeito meio desengonçado. O velho só pôde rir ao concluir que aquela criança estava pronta para encarar a vida e o mundo à sua própria maneira.
Cresça e torne-se grande, meu jovem, mas nunca deixe de pensar como você pensa hoje. Com o coração, garoto, com o coração.

quinta-feira, 17 de março de 2016

Arte #04 - Ralph e Auria


Quando Auria foi criada, ela não passava da mocinha indefesa que espera ser resgatada. Hoje a história mudou, e é Ralph quem frequentemente precisa contar com seu auxílio para proteger-se. A relação desses dois melhorou muito, lembro-me que em meus primeiros rascunhos eu fazia os dois morando juntos, quero dizer, por que raios dois jovens morariam na mesma casa?! E, lá no fundo, nenhum gostava realmente do outro. Era como se morassem em uma república para estudos e tivessem que se suportar.

Ah, vai saber, nunca entenderei algumas dessas ideias antigas minhas...

Esta imagem pode ser encontrada no menu "As Histórias Perdidas", aqui consta a versão com fundo transparente.


Arte #03 - Meus Amigos


Esta imagem pode ser encontrada no menu "Especiais", aqui consta a versão com fundo transparente. Além da aventura que é o principal elemento de minhas histórias, sempre gostei de expor a Amizade de meus personagens. É um gênero que amo trabalhar, vemos uma conversa estranha num momento inesperado de nossas vidas, e de repente, quem diria que aquela figura estranha receberia o título de Melhor Amigo!

Arte #02 - Preparados para a Batalha!


Esta imagem pode ser encontrada no menu do "Guia de Informações", aqui consta a versão com fundo transparente. É interessante notar que a equipe só se completa após a metade do livro e, mesmo assim, por um período muito curto. Eles se unem uma única vez para derrotar um inimigo em comum, mas será que saberão fazer o melhor uso de suas habilidades para derrotá-lo?

Arte #01 - A Equipe de Ralph


Esta foi a primeira imagem liberada de Ralph e seus amigos, de volta ao Aventuras em Sinnoh em Junho de 2015, e mesmo que tenha sido postada apenas nessa data, foi em Julho de 2014 que ela começou a ser planejada.

A produção do livro ainda estava no começo, muitos dos personagens sequer tinham aparecido na história e, de certa forma, esse desenho foi responsável por formular personalidades, trejeitos e estilos. Eu ainda buscava quem seriam os outros dois fora a trindade principal (Ralph, Auria e Lesten), Lee e Hayley já formavam uma dupla antiga, mas, como numa guilda, às vezes acabavam saindo em missões paralelas para resolverem seus próprios problemas e não apareciam com frequência. Por enquanto temos 5 personagens na equipe, e esse número certamente vai aumentar! Às vezes nem eu tenho controle disso, os personagens simplesmente vão aparecendo e desenvolvem uma química tão forte que eu não poderia deixá-los de lado.

Abaixo você confere o primeiro rascunho dos personagens. E não é que nesses últimos anos eles já sofreram grandes mudanças?




sexta-feira, 11 de março de 2016

Too Bad! Dessa vez foi "QUASE"!

Jovens aventureiros! Trago boas e más notícias. A boa é que o livro recebeu sua PRIMEIRA PROPOSTA DE UMA EDITORA! É pra glorificar de pé, minha gente!
A má é que não estarei fechando contrato. Por ora.

Primeiramente, eu gostaria de agradecer todos que têm apoiado este projeto, não desistam de acreditar nele, e prometo que também vou continuar dando o meu melhor. Apesar de ter sido uma experiência muito bacana ver que uma editora tem interesse na publicação de meu livro, algumas burocracias no contrato me fizeram dar um passo para trás (se fosse há alguns anos e eu não tivesse maturidade o suficiente para ler e entender um contrato, eu poderia estar encrencado). Conversei com pessoas muito importantes para mim e decidi adiar. Não está na hora. Lá para frente posso ter problemas que exigirão muito de mim, e isso vai me desgastar além do que sou capaz de suportar.

Uma bela vantagem é que agora tenho uma boa noção sobre orçamentos de gráficas, serviços, tempo de produção dentre outros fatores que eu não fazia ideia. Já estou de olho em outras duas editoras que pretendo estar enviando meu original nos próximos meses. Minha última revisão está andando muito bem, mas sinto que faltam alguns toques profissionais para refinar o texto, então é minha obrigação procurar entregar o meu produto da melhor forma aos clientes. A história do Ralph demorou 10 anos para sair do rabisco e tornar-se o livro que desejo compartilhar com vocês, não adianta forçá-lo a sair, não quero desperdiçar esses personagens tão queridos para mim.

Não tenho como trabalhar numa continuação sem antes ter um feedback sobre o que vocês gostaram e o que merece mais atenção, mas posso e vou continuar trazendo desenhos, tirinhas, curiosidades e incluirei os capítulos extras que tanto desejo fazer, só para dar um gostinho do que está por vir. Às vezes não estamos numa fase boa, e nem sempre as coisas dão certo como planejamos, mas temos de continuar seguindo, não é? Agradeço a todos pelo apoio, dessa vez foi "quase", mas sei que lá para frente ainda estaremos rindo muito disso tomando um licor 43 e assinando meu mais novo lançamento!


sábado, 5 de março de 2016

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

domingo, 14 de fevereiro de 2016

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