quarta-feira, 20 de setembro de 2017

Capítulo 10.5 - Recepção Reptiliana [Cenas Deletadas]

Todo livro precisa sofrer inúmeros cortes antes de ser publicado. Faz parte do processo de revisão do próprio autor rever quais capítulos são realmente importantes para o andamento da história, detalhes que só encontramos depois que o livro já foi finalizado. Com isso, o blog traz as Cenas Deletadas como um extra para os leitores mais curiosos.

Onde a cena se encaixava?
Esse pequeno trecho pertencia ao Capítulo 10.

Sobre o que falava?
Os protagonistas aproveitavam um passeio no centro da Ilha dos Geckos quando se esbarram com alguns lagartos que não veem os humanos com bons olhos. O trecho demonstra um pouco da cultura dessa raça tão exótica e reforça a ideia de que Auria é contra preconceitos e não leva desaforos para casa.

Qual o motivo de ter sido excluído do livro?
Diminuir a quantidade de páginas.


RECEPÇÃO REPTILIANA
As Histórias Perdidas - Cenas Deletadas

Era bem cedo quando Ralph despertou. Não fazia nem um dia que haviam chegado à Ilha dos Geckos e era triste ter de despedir-se dela tão depressa. Desceu a escada rumo à recepção para verificar a disponibilidade de um navio que voltasse para o continente, e o único que faria uma travessia até Myriad só chegaria após as duas da tarde, logo, teriam de esperar.
Optou que fariam uma rápida visita ao centro e comprariam mantimentos para a viagem. Aquele era o lar do grande Tokay Asa Negra, e Ralph adoraria ver a estátua de seu ídolo de perto. Esperou que seus amigos acordassem para dar uma volta no centro, mas foram necessários quase quarenta minutos para tirarem Auria da cama. Quando a colocavam sentada, ela caía para o outro lado, abraçando os cobertores finos com cheiro de maresia.
— Cara, eu sou preguiçoso, mas essa fêmea deve ser algum tipo de urso pra hibernar desse jeito — completou Lesten.
Após longas tentativas, eles puderam finalmente sair da pousada e visitar as famosas feiras que vendiam produtos frescos e todo o tipo de iguarias únicas dos lagartos. Pequenos dentes eram vendidos em colares, escamas e pedras brilhantes eram comercializadas assim como muitos outros produtos manufaturados. Ralph aproveitava a visita, sentia-se em casa junto do povo que idolatrava, Auria sentia-se observada e não tirava as mãos no bolso, como se fosse uma completa estranha e dessa vez não pelo seu cabelo ou aparência.
— Ei, fêmea, já viu briga de besouros? — Lesten a chamou, entretido em uma barraca. — Tu captura o besouro e o coloca para enfrentar outro, o primeiro que conseguir erguer o oponente com seus chifres é o vencedor. Existem campeonatos só para essa modalidade no reino todo!
Ralph e Auria chegaram para observar o evento, mas perceberam que lentamente alguns geckos levantaram-se e saíram do lugar, afastando-se descaradamente. Ralph não ligou para o ocorrido, mas a guerreira se importava, e muito. Da mesma maneira que o povo das Vila das Pérolas não gostava dos homens-lagartos, aparentemente alguns geckos sentiam o mesmo.
— Ralph, vamos embora... — ela tentou arrumar uma desculpa. — O barco logo vai chegar.
— Temos tempo até lá — Ralph falou, entretido com a briga de besouros.
Auria continuou a observar o movimento nas ruas. Uma família de lagartos atravessou para o outro lado da calçada ao ver os humanos em suas terras, como se a simples presença deles fosse assustadora. Ela aguardava pacientemente quando dois geckos altos passaram e acabaram trombando em seu ombro. Auria virou-se furiosa, principalmente pelo fato de que os sujeitos não pediram desculpa, e logo buscou satisfação.
— Ei, tome mais cuidado — ela ajeitou sua jaqueta.
Os geckos pararam e olharam para trás, caminhando em sua direção. Eram criaturas amistosas e sorridentes quando alegres, mas podiam tornar-se ameaçadoras quando revelavam as presas e seus olhos se dilatavam. Auria era uma mulher alta, mas aqueles dois deviam ter quase dois metros.
— Eu ando por onde eu quiser, porque estou onde eu deveria estar — falou o gecko de maneira rude. — Mas e você? O que faz onde não é bem vinda?
Ela não se intimidou com os sujeitos. A briga estava para se intensificar quando ela sentiu alguém segurar seu braço e chama-la.
— Auria, vem cá, você tem que ver o tamanho desse besouro! — disse Ralph contente.
Os dois geckos riram e deram meia volta, mas não antes sem caçoarem:
— Pensem bem antes de invadir o território dos outros, suas pragas.
O sangue da mulher chegou a ferver.
— Acredito que vivamos em um reino livre e sem limitações, vocês não têm direito algum de julgar qualquer raça ou cultura.
— Temos todo o direito de reclamar de visitantes inconvenientes. Foram vocês que se envolveram com um incidente na costa ontem à tarde, não foram? — disse o gecko alto. — Eu deveria ter imaginado, humanos estão sempre aprontando, deveríamos vetar o acesso de vocês à nossa ilha para sempre!
A briga começava a chamar muita atenção e a última coisa que gostariam no momento era ser o centro das atenções. Notando que a situação fugia de seu controle, Lesten colocou-se em frente aos dois sujeitos e os encarou. Os grandalhões mostraram os dentes e suas pupilas se dilataram, enquanto Lesten só levou a mão até a bainha de sua espada e a deixou bem visível.
— Por que vocês não vão brincar com os seus amiguinhos? Esses são os meus humanos — grunhiu num tom sarcástico — arranja os seus
Eles perceberam que Lesten era um guerreiro e foram afastando-se devagarinho, acuados pelo inconveniente. A visita rumo ao centro teria que ficar para outro dia.
— Vamos embora logo, galera — disse Lesten, enciumado. — Foi-se a época em que esse povo era receptivo... 



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