Capítulo 10.5 - Recepção Reptiliana [Cenas Deletadas]
Todo livro precisa sofrer inúmeros cortes antes de ser publicado. Faz parte do processo de revisão do próprio autor rever quais capítulos são realmente importantes para o andamento da história, detalhes que só encontramos depois que o livro já foi finalizado. Com isso, o blog traz as Cenas Deletadas como um extra para os leitores mais curiosos.
Onde a cena se encaixava?
Esse pequeno trecho pertencia ao Capítulo 10.
Sobre o que falava?
Os protagonistas aproveitavam um passeio no centro da Ilha dos Geckos quando se esbarram com alguns lagartos que não veem os humanos com bons olhos. O trecho demonstra um pouco da cultura dessa raça tão exótica e reforça a ideia de que Auria é contra preconceitos e não leva desaforos para casa.
Os protagonistas aproveitavam um passeio no centro da Ilha dos Geckos quando se esbarram com alguns lagartos que não veem os humanos com bons olhos. O trecho demonstra um pouco da cultura dessa raça tão exótica e reforça a ideia de que Auria é contra preconceitos e não leva desaforos para casa.
Qual o motivo de ter sido excluído do livro?
Diminuir a quantidade de páginas.
Diminuir a quantidade de páginas.
RECEPÇÃO REPTILIANA
As Histórias Perdidas - Cenas Deletadas
Era bem cedo quando
Ralph despertou. Não fazia nem um dia que haviam chegado à Ilha dos Geckos e
era triste ter de despedir-se dela tão depressa. Desceu a escada rumo à
recepção para verificar a disponibilidade de um navio que voltasse para o
continente, e o único que faria uma travessia até Myriad só chegaria após as
duas da tarde, logo, teriam de esperar.
Optou que fariam uma
rápida visita ao centro e comprariam mantimentos para a viagem. Aquele era o
lar do grande Tokay Asa Negra, e Ralph adoraria ver a estátua de seu ídolo de
perto. Esperou que seus amigos acordassem para dar uma volta no centro, mas
foram necessários quase quarenta minutos para tirarem Auria da cama. Quando a
colocavam sentada, ela caía para o outro lado, abraçando os cobertores finos com
cheiro de maresia.
— Cara, eu sou
preguiçoso, mas essa fêmea deve ser algum tipo de urso pra hibernar desse jeito
— completou Lesten.
Após longas tentativas,
eles puderam finalmente sair da pousada e visitar as famosas feiras que vendiam
produtos frescos e todo o tipo de iguarias únicas dos lagartos. Pequenos dentes
eram vendidos em colares, escamas e pedras brilhantes eram comercializadas
assim como muitos outros produtos manufaturados. Ralph aproveitava a visita,
sentia-se em casa junto do povo que idolatrava, Auria sentia-se observada e não
tirava as mãos no bolso, como se fosse uma completa estranha e dessa vez não
pelo seu cabelo ou aparência.
— Ei, fêmea, já viu
briga de besouros? — Lesten a chamou, entretido em uma barraca. — Tu captura o
besouro e o coloca para enfrentar outro, o primeiro que conseguir erguer o
oponente com seus chifres é o vencedor. Existem campeonatos só para essa
modalidade no reino todo!
Ralph e Auria chegaram
para observar o evento, mas perceberam que lentamente alguns geckos
levantaram-se e saíram do lugar, afastando-se descaradamente. Ralph não ligou
para o ocorrido, mas a guerreira se importava, e muito. Da mesma maneira que o
povo das Vila das Pérolas não gostava dos homens-lagartos, aparentemente alguns
geckos sentiam o mesmo.
— Ralph, vamos
embora... — ela tentou arrumar uma desculpa. — O barco logo vai chegar.
— Temos tempo até lá —
Ralph falou, entretido com a briga de besouros.
Auria continuou a
observar o movimento nas ruas. Uma família de lagartos atravessou para o outro
lado da calçada ao ver os humanos em suas terras, como se a simples presença
deles fosse assustadora. Ela aguardava pacientemente quando dois geckos altos
passaram e acabaram trombando em seu ombro. Auria virou-se furiosa,
principalmente pelo fato de que os sujeitos não pediram desculpa, e logo buscou
satisfação.
— Ei, tome mais cuidado
— ela ajeitou sua jaqueta.
Os geckos pararam e
olharam para trás, caminhando em sua direção. Eram criaturas amistosas e
sorridentes quando alegres, mas podiam tornar-se ameaçadoras quando revelavam
as presas e seus olhos se dilatavam. Auria era uma mulher alta, mas aqueles
dois deviam ter quase dois metros.
— Eu ando por onde eu
quiser, porque estou onde eu deveria estar — falou o gecko de maneira rude. —
Mas e você? O que faz onde não é bem vinda?
Ela não se intimidou
com os sujeitos. A briga estava para se intensificar quando ela sentiu alguém
segurar seu braço e chama-la.
— Auria, vem cá, você
tem que ver o tamanho desse besouro! — disse Ralph contente.
Os dois geckos riram e
deram meia volta, mas não antes sem caçoarem:
— Pensem bem antes de
invadir o território dos outros, suas pragas.
O sangue da mulher chegou a ferver.
— Acredito que vivamos
em um reino livre e sem limitações, vocês não têm direito algum de julgar qualquer raça ou cultura.
— Temos todo o direito
de reclamar de visitantes inconvenientes. Foram vocês que se envolveram com um
incidente na costa ontem à tarde, não foram? — disse o gecko alto. — Eu deveria
ter imaginado, humanos estão sempre aprontando, deveríamos vetar o acesso de
vocês à nossa ilha para sempre!
A briga começava a
chamar muita atenção e a última coisa que gostariam no momento era ser o centro
das atenções. Notando que a situação fugia de seu controle, Lesten colocou-se
em frente aos dois sujeitos e os encarou. Os grandalhões mostraram os dentes e
suas pupilas se dilataram, enquanto Lesten só levou a mão até a bainha de sua
espada e a deixou bem visível.
— Por que vocês não vão
brincar com os seus amiguinhos? Esses são os meus humanos — grunhiu num tom
sarcástico — arranja os seus
Eles perceberam que
Lesten era um guerreiro e foram afastando-se devagarinho, acuados pelo
inconveniente. A visita rumo ao centro teria que ficar para outro dia.
— Vamos embora logo,
galera — disse Lesten, enciumado. — Foi-se a época em que esse povo era
receptivo...
0 comentários:
Postar um comentário