Capítulo 17.5 - Bill e Tootie
Todo livro precisa sofrer inúmeros cortes antes de ser publicado. Faz parte do processo de revisão do próprio autor rever quais capítulos são realmente importantes para o andamento da história, detalhes que só encontramos depois que o livro já foi finalizado. Com isso, o blog traz as Cenas Deletadas como um extra aos leitores mais curiosos.
Onde a cena se encaixava?
Este capítulo acontecia entre o 17 e o 18, logo após os protagonistas deixarem o Deserto Elmud e alcançarem o Pântano Enferrujado, tanto que gosto de defini-lo como aquele clássico filler entre arcos. Ele foi resumido a alguns poucos parágrafos de transição que ainda podem ser encontrados no livro, nas páginas 157 e 158.
Sobre o que falava?
Trata-se da primeira e única interação real de Tootie e Bill, de sua amizade na infância e um possível romance. É também visto um pouco mais da personalidade dela ao lado dos protagonistas, uma vez que Tootie ainda se sentia muito insegura de encarar o mundo.
Qual o motivo de ter sido excluído do livro?
O capítulo consta com cerca de 3200 palavras e era provavelmente o favorito do autor dentre as "Cenas Deletadas", tanto que foi o último a ser cortado. Uma vez que o relacionamento entre os dois primeiros guardiões da Ordem não acrescentava muito para a trama principal, acabou que toda e qualquer interação entre Bill e Tootie precisou ficar de fora.
Bill e Tootie
As Histórias Perdidas - Cenas Deletadas
A caminhada seria longa
e demorada de volta a Bausonne, por isso o grupo fez uma parada no vilarejo
conhecido como Pequena Terra, onde os aldeões acreditavam que a Grande Árvore no
centro da vila era um presente de Araya, a divindade da vida. Uma nascente aflorava
a leste do Deserto Elmud e mais tarde se unia ao leito do Rio do Horizonte para
desaguar no mar, suas águas alimentavam todo o povo nos arredores, auxiliando
viajantes que iam e voltavam do deserto, oferecendo aos moradores de Pequena
Terra um humilde negócio baseado em fontes termais na encosta da montanha.
Tootie cobriu-se com um
manto para ocultar sua identidade, há muito tempo ouvira os conselhos de sua
senhora de que ela deveria precaver-se do mundo. Ela não sabia até onde havia
perigo em ser reconhecida como uma guardiã da Ordem do Selamento, pois quando
decidira se manter reclusa do mundo há oito anos os tótines ainda eram caçados
por mercenários e usados como experiência por conta de sua magia. Tootie
observava tudo admirada, via uma mistura de povos excêntricos tão diferentes de
quase uma década atrás, a sociedade em Sellure vinha caminhando para se tornar
mais inclusiva. Ela apreciava cada curiosidade e especiaria nas barracas dos
mercadores locais como uma criança que descobre que o mundo é muito maior do
que o quintal de sua casa.
— Como era a sua vida
antigamente, Tootie? — perguntou Ralph. — Digo, você disse que ficou muito
tempo naquelas ruínas. Quem cuidou de você? Você tinha amigos?
— Eu fui adotada pela
minha mestra, a Srta. Cléo. Ela foi a mulher mais linda e formosa a pisar
nessas terras, mas vivia dizendo que o mundo aqui fora era perigoso e devia ser
evitado. Ela me tratava como um tesouro e lutou bravamente para que eu me
mantivesse sã e salva todo esse tempo. Não carrego lembranças agradáveis deste
mundo...
— Então nós vamos fazer
você mudar de ideia — disse Auria com entusiasmo.
As duas saíram às
pressas para que tivessem um dia só de
mulheres — já estava há tempos
cercada apenas de hormônios masculinos, estava no limite com as piadinhas
infames de Lesten e precisava de uma companhia feminina para conversar.
A primeira parada foi
em um restaurante para provar da especiaria local, muitos frutos e saladas
variadas cultivadas com a água abundante oferecida pelo rio. Tootie fartou-se
como há tempos não fazia, Auria tentava puxar assunto e sentia que aos poucos
poderia conseguir fazê-la se soltar mais.
As fontes termais da
Pequena Terra eram famosas em todo o reino e só perdiam para as casas de banho
da Ilha-S que eram aquecidas na temperatura ideal por um vulcão inativo. Com o
entardecer se aproximando, ter um local para descansar após uma longa e
exaustiva viagem pelo deserto era mais do que necessário para livrar-se das
impurezas e da areia que entrara em locais de suas roupas que sequer imaginavam
que fosse possível.
— O que acha de
descansarmos um pouco? — perguntou Auria entretida com a ideia.
— Seria ótimo. Fazia
muito tempo que eu não andava tanto — falou Tootie. — Nós vamos dormir na rua?
— Claro que não,
bobinha. Alugamos dois quartos em uma pousada, mas não temos hora para voltar. Eu
sempre quis vir para a Pequena Terra com minhas irmãs, mas nunca sobrava tempo.
Vamos visitar as casas de banho agora, pode ser?
Tootie concordou, mesmo
que achasse aquela ideia bem estranha. Começou a tirar o seu vestido no meio da
praça quando Auria avançou em cima dela para impedi-la.
— Que raios você está fazendo?
— Você não disse que
íamos tomar banho?
— C-claro que não! É em
um lugar fechado, homens e mulheres ficam separados, mas também tem a opção
mista. As fontes daqui são aquecidas e funcionam como uma sauna.
— É que eu costumava
banhar-me no oásis perto das ruínas, nunca precisei me preocupar muito com
privacidade — Tootie sorriu acanhada, mas parecia intrigada com a oferta. — Bem,
por favor, mostre-me como funcionam essas fontes!
As duas fizeram seu
caminho até uma construção em madeira chamada Eterna, lá elas alugaram uma hora
na banheira natural entre as rochas por onde descia uma cascata de água quente.
Tootie estava bem acostumada a temperaturas excessivas, mas chegou a sentir um
calor quando se deparou com o corpo de atleta de sua companheira. Ela tinha um
corpo invejável.
O vapor chegava a
embaçar a visão, suor escorria pelo corpo da guerreira que se despia dos trajes
de viagem e da jaqueta. Mesmo que não houvesse mais ninguém presente, Auria
reparou nos olhares sobre ela o que a fez sentir-se envergonhada.
— Nossa. — Tootie
murmurou baixinho. — Eu queria ter um corpo como o seu...
— Sério? Como fiquei
três anos presa na academia, acabei tendo muito tempo para pegar firme nos
exercícios. Eu sempre tive a impressão de que exagerei demais.
— Jamais, Srta. Mercer!
Você tem seios fartos e quadris largos, já eu sou miúda e insegura, sinto que
posso dobrar ao meio se ventar demais...
— Bem, devo concordar
que tem suas vantagens e desvantagens. A maioria dos rapazes com quem saí me
achava meio... sei lá, dominante demais. Eles se sentiam pequenos e
insignificantes perto de mim, e você sabe como os homens são, querem estar
sempre no controle da situação — falou Auria com um sorriso. — Sabe, acho que é
por isso que aprendi a gostar de caras mais meigos, eles são gentis comigo e me
ajudam a aceitar eu mesma.
— Você é linda em todos
os sentidos, como minha senhora Cléo era — falou Tootie. — A única diferença é
que ela tinha cabelos bem longos.
— É, eu também tinha
até um tempo atrás. Ainda estou me acostumando.
As duas riram e entraram na banheira, ficando ali sentadas por várias
horas enquanto relaxavam os músculos e eliminavam as impurezas. O tempo avançou
devagar, era por volta das cinco da tarde quando o céu sob suas cabeças foi
coberto por um manto alaranjado que enfeitava toda Sellure. Tootie ainda
acariciava os cabelos de Auria como se fizesse uma massagem terapêutica.
— É tão bonito...
— Quer que eu lave seu
cabelo também? — perguntou Auria.
— É melhor não.
— Por que não? Vamos
lá, você ainda nem molhou sua cabeça, tente dar um mergulho!
— Não posso também.
— Não quer ou não pode?
Tootie, estamos só nós duas aqui. Não há segredos entre mulheres.
Auria começou a fazer
cócegas na garota que ria sem parar. A água quente a transbordava para fora, a
pequena guardiã se contorcia e ria tanto que acabou enfiando a cabeça na água e
emergiu diferente. Auria parou no mesmo instante que a puxou para fora, os
olhos fixos em algo que preto que flutuava pela banheira. Tootie levou a mão até
sua própria cabeça e notou estar sem cabelo — sua peruca molhada boiava como se
fosse um guaxinim morto.
Tootie cobriu boca e tentou
um soluço, sua risada se transformou em decepção e ela pareceu prestes a cair
no choro.
— Não conte para
ninguém. P-por favor, não conte.
— Eu nunca contaria. — Auria
tentou passar-lhe segurança. Tootie colocou de volta sua peruca, mas não voltou
a sorrir. — Tootie, eu... desculpa, eu não fazia ideia. Não fique envergonhada
por isso. Sério, quem precisa de cabelo para ser bonita?
— É fácil para você
dizer isso! — Tootie levantou-se de repente, demonstrando indignação mesmo com
aquele jeitinho inseguro e acuado. — Olha só para você, para o seu corpo de
amazona, seu rosto lisinho, até sua cor da pele! Você é o padrão de como toda
mulher deve ser!
— Isso não é verdade. Nunca
se compare com outras pessoas, cada mulher é única em seu próprio estilo. Eu
costumava ter cabelo longo, mas eu nem sabia se essa era uma escolha minha, eu
só me vestia exatamente como todas as outras mulheres que conheci. Quando o
doido do Ralph chegou e o cortou, eu me senti... livre, livre de padrões. A
vida toda tentei ser como minhas irmãs, mas sempre me mantive escondida na
sombra delas. Você não precisa se comparar a ninguém...
Tootie escondeu o rosto
com as mãos e Auria a trouxe para perto de seu ombro, onde a fez repousar em
silêncio, tranquila e serena, ouvindo sua respiração abafada e chorosa.
— Comece treinando essa
sua cabecinha, ouviu? Sei que não nos conhecemos há muito tempo, mas ninguém
aqui vai te ferir. Só queremos o seu bem.
Quando as duas
finalmente relaxaram, um barulho suspeito foi ouvido no banheiro ao lado. A
casa de banhos era separado por uma parede de rochas muito grossa, ninguém
poderia entrar ali que não fosse voando. Como estavam desarmadas, seria
impossível lidar com um ataque surpresa. O brilho tornou-se mais intenso entre
as frestas da parede, foi quando um pedaço dela literalmente descolou como se
fosse feita de papel e, para a surpresa mútua, ali estavam Ralph e Lesten só de
toalha.
— Oi, meninas — falou
Ralph empunhando Lignum em uma das mãos.
— Viu só, eu falei que
era a fêmea! Eu reconheceria a voz dela em qualquer lugar — disse o gecko
contente, como quem ganha uma aposta. — Agora tu me paga aquela coxinha que
prometeu.
— O que vocês dois idiotas fazem aqui? —
Auria berrou.
— Estamos nos
divertindo como você mandou, só que não tem mais nada para fazer nessa cidade —
respondeu Ralph. — E a propósito, será que vocês poderiam ficar com a Lignum?
Estamos em um banheiro só de meninos, e ela é menina. É meio constrangedor.
Auria puxou seus amigos
pela toalha para fora do banheiro para que eles explicassem à gerente do local
por que havia um buraco entre a ala masculina e feminina.
Enquanto isso, Tootie
permaneceu sozinha dentro da banheira. Permaneceu submersa até o pescoço,
ouvindo a discussão e o movimento lá fora. Ela não se deu conta dos movimentos
furtivos que se aproximavam, dessa vez com claras segundas intenções, e
surpreendeu-se quando sentiu algo esbarrar em seu ombro e sussurrar baixinho:
— Eu te procurei por
toda parte, sabia?
O susto foi tão grande
que Tootie acertou um murro no invasor que despencou para dentro da banheira.
— Quem é você e o que
quer de mim?
Ela viu bolhas em
resposta. Quando o corpo inerte começou a flutuar, ela percebeu que se tratava
de um guaxinim.
— Calma, calma! Já
levei mais soco de mulher na última semana do que em toda minha vida — disse o
animal ofegante, tentando se recompor. — Não se lembra de mim?
— Eu me lembraria de um
animal falante tarado — Tootie falou com a voz firme, mudando a expressão de
forma drástica. — A menos que você seja...
O corpo do animalzinho
alterou de forma até transformar-se no de um humano. Tootie não o reconhecera
de imediato, mas alguns traços continuavam ali — o rosto fino, a feição
assustada, o medo; e também o jeito malandro, procurando sempre a melhor
oportunidade de dar um susto, cantar uma dama e surpreendê-la.
— Willian Von
Altenburg! — Seu nome soava ainda mais bonito pelos lábios dela. — Bill, é você
mesmo?
Ele fez que sim com a
cabeça, ainda com o nariz dolorido demais para responder.
— E-eu quase não o reconheci,
está tão diferente, mais maduro — disse a moça com um sorriso preocupado. —
Como é que entrou aqui...?
— Ninguém nunca repara
nos guaxinins — falou o gatuno de repente. — Você também não se parece em nada
com aquela garotinha que fazia espetáculos ilusórios nas ruas. Quanto tempo
isso já faz?
Bill não costumava
tirar sua máscara para muitas pessoas. Ele a encarava com olhos cinzentos e
observadores, ambos trocando lembranças e pensamentos antigos que terminavam em
sorrisos bobos e acanhados. Os tótines podiam transformar-se em seres e
criaturas sobrenaturais, mas nenhum deles escondia como eram apaixonados pela
visão humana, provavelmente uma das obras mais incríveis já criadas.
Bill aproximou-se dela
e ajeitou a peruca que estava torta na cabeça. Tootie sorriu de forma
encabulada e arrumou o cachecol encharcado no pescoço dele com o mesmo carinho.
— Continua bonita —
Bill sussurrou baixinho.
Bill estava para dizer
algo mais quando ouviram um barulho vindo da entrada, Tootie enfiou a cara do
rapaz dentro da água e o fez ficar submergido quando Auria apareceu de relance
na porta do banheiro e sorriu para ela, pedindo desculpas pelo ocorrido.
— A gerente ficou
furiosa. Acho que nós vamos demorar um pouco aqui, Tootie... Não quer esperar
lá fora?
Ela fez que sim e
imediatamente vestiu suas roupas, saindo da casa de banho com um guaxinim
afogado no colo sem que ninguém estranhasse.
i
Bill e Tootie se
distanciaram dos demais e fizeram uma pausa num pequeno parque para crianças longe
do movimento, onde pudessem conversar em paz. Havia muito a discutir, da mesma
forma que estavam contentes por reverem um ao outro também estavam muito
nervosos, oito anos haviam se passado desde os acontecimentos envolvendo as
Pérolas Sagradas e a Ordem do Selamento. Bill sentou-se em um dos balanços e
começou a ir para frente e para trás.
— Sei que já perguntei
isso um milhão de vezes, mas... como é que você está? — indagou Bill, sem
saber como começar uma conversa.
— Estou bem. — Ela
também não fazia ideia de como interagir com pessoas.
— Isso é bom.
Seguiu-se um silêncio embaraçoso.
— Decidiu finalmente
sair de seu esconderijo, não é? — brincou Tootie.
— Olha só quem fala — Bill
riu de forma debochada. — Você é quem sempre sonhou em construir um esconderijo
para guardar seus tesouros.
— Mas naquela época
escondíamos apenas brinquedos e comida, não eram tesouros de verdade. Eu ainda
faço esculturas de areia, e devo dizer que é uma das poucas coisas da qual
tenho muito orgulho. Elas ficam parecendo reais.
— Uau, então você se
aprimorou. Nos últimos anos, acho que só vivi me escondendo... não tenho mais
um lugar para voltar. Meu último esconderijo foi pelos ares por causa desses
aventureiros que você está acompanhando.
— C-como assim? Eles
estão fazendo de você um escravo? — indagou Tootie. — Se quiser, nós podemos
unir forças e derrotá-los!
— Claro que não, sou eu
quem estou seguindo eles. Não devo nada a ninguém.
A moça concordou com a
cabeça. Ssentou-se ao seu lado no balanço e, por um instante, os dois sentiram
como se conhecessem tudo sobre o outro, mas já fazia tanto tempo que não se
viam, será que continuavam sendo as mesmas crianças que um dia brincaram
juntos, enfrentaram os problemas de frente e compartilharam sonhos impossíveis?
— Eles parecem ser
pessoas boas, mas ainda sou tomada por dúvidas... — falou Tootie. — E se
estivermos sendo enganados, como sempre acontece?
— Não tenho certeza de
nada — Bill falou, vinha pensando no assunto há dias. Enquanto conversavam, ele
tirou do bolso uma laranja que roubara no mercado e começou a descascar. — Não
consigo deixar de ter um pé atrás. Sou um sujeito precavido, a vida nas ruas me
ensinou a não confiar tanto. Mas temos de concordar que, se eles nos quisessem
mortos, já o teriam feito.
Um silêncio ligeiro
pairou e só se podia ouvir o som da natureza, dos pássaros voltando aos seus
ninhos e do vento soprando leve. Era por volta das sete da noite e a cidade
dava os primeiros sinais da vida noturna. Foi quando Tootie decidiu perguntar:
— Lembra-se daquela
história de que as Pérolas Sagradas realizavam desejos?
— Ouvi outra versão
onde um Mago Supremo é convocado, é cada ideia louca que aparece.
— Você acredita em
alguma delas?
— Quem sabe? — Bill
murmurou, oferecendo a laranja para a moça que a abocanhou como um passarinho
em sua fruta favorita. — Eu os sigo porque continuo intrigado com um pensamento
que não sai de minha cabeça...
— E qual seria?
Bill voltou a olhá-la
com um semblante fechado.
— Você se lembra do tal
de Dr. Erlenmeyer? Foi ele quem capturou nossos amigos e, bem... destruiu
nossas famílias.
Tootie jamais o
esqueceria. Aquelas lembranças ainda a assombravam.
— Foram tempos
difíceis... ainda não sei como conseguimos sobreviver.
— Desde então, fomos
obrigados a nos esconder e proteger essas pérolas. Nós literalmente perdemos
metade de nossas vidas por causa disso! — falou Bill com certa amargura. — E
agora, dizem que ele está de volta, tentando reuni-las. E há mais gente
tentando.
O gatuno ergueu o
indicador sinalizando sua suspeita.
— Essas malditas
pérolas acabaram com nossas vidas! Eu queria me livrar delas, eu preciso, mas como saber se estamos
fazendo a coisa certa? — Bill questionava-se. — Pode ser que estejamos indo
direto para uma armadilha, como da outra vez.
— Eu sempre me
perguntei por que protegeríamos um tesouro com nossas vidas se nem mesmo
sabemos o que ele representa — respondeu Tootie. — Os motivos nunca me foram
tão claros. Será que só fazemos o que fazemos porque fomos criados dessa
maneira?
O gatuno voltou a
balançar calmamente. Se naquele instante sentia-se pleno e livre, era porque no
passado já passara por experiências que o fizeram valorizar aquela liberdade.
— Eu não quero mais ser
um guardião — falou Bill. — E, não sei você, mas vou continuar acompanhando
esses jovens porque quero que eles encontrem os demais membros da atual Ordem
do Selamento e coloquem um fim nessa maldita história das pérolas. Eu só quero
compreender qual lado devo seguir.
Relembrar sofrimentos
não era a melhor forma de retomar o assunto com alguém que não se via há tanto
tempo, mas aquela era sua realidade.
— Olha esse clima
tenso... Desculpe-me por isso, Tootie. Eu só queria saber se...
— ... você pensava o
mesmo. — Tootie completou a frase, como se lesse seus pensamentos. — Eu também
desejo descobrir o segredo das pérolas. E eu gosto dessa gente, eles foram
bondosos e gentis comigo, como poderíamos dar as costas a quem nos tratou tão
bem? Vivi minha vida inteira sem ter esperanças de um futuro melhor, e pela
primeira vez, sinto que algo implora para que eu continue seguindo.
Juntos eles continuaram
observando o lua que se revelava tímida no céu. As estrelas preparavam sua
parte no teatro, os lampiões na rua recebiam o óleo que queimava enquanto os
dois velhos amigos se deleitavam com a companhia um do outro.
Bill virou-se de
repente em direção da garota e Tootie fez o mesmo, os dois se encararam e riram
constrangidos. Foi Tootie quem falou primeiro:
— Estou feliz em vê-lo,
Bill. Você
sempre me fez sorrir quando mais precisei.
— Eu sou o ladrão da
equipe, mas é você quem sempre rouba o meu coração, não é mesmo?
Os dois voltaram a se
encarar e, quando sentiram uma forte conexão em seus corações, uma lança foi
atirada com força e acabou fincada exatamente na árvore ao lado perto da cabeça
de Bill. O gatuno voltou sua atenção para a estrada onde viu Ralph, Auria e
Lesten correrem atrás dele, o gecko berrava furiosos, prestes a cuspir fogo com
toda sua ira.
— Te achei, texugo da discórdia! Tu levou
toda a grana e ainda por cima nos abandonou naquele deserto amaldiçoado!
Bill virou-se depressa
para Tootie e deu-lhe um beijo rápido na bochecha, fazendo um breve sinal de
“até logo” com a mão enquanto se transformava em um guaxinim e escalava a
árvore para fugir de seus agressores.
Oito anos se passaram,
mas ele continuava sendo o dono do seu coração.
Mano, tu sabe que eu sou frouxo com " romances“ assim, como esse da Tootie e do Bill, né? Porra, too cute.
ResponderExcluirFoi interessante ver aqui essa cena excluída, ela incrementa mais nas relações dos personagens, mas tipo, é... Eu vou dizer aqui, não leve a mal, mas acho que foi bom tu deixar ela pra ser um extra aqui. Ela me lembra um Support, sabe? É o tipo de conteúdo que amo, mas que tem que ser mostrado apenas de relance na história principal.
Mas bem, comentando sobre aspectos aí do capítulo. Foi bom ver ali uma interação no começo entre a Tootie e a Auria, era algo que realmente elas precisavam. Vemos ali uma transmissão de experiências, essas até recentes, por parte de Auria pra dar animo e vigor pra Tootie, seja ali enquanto elas transitavam ali pela cidade ou ali na casa de banho, na conversa sobre corpos e cabelos.
A relação entre Bill e Tootie que é abordada ali também revela muita coisa sobre o passado de ambos, como um pouco mais da figura ali do nosso ladrão durante um certo período e meio que o ofício que Tootie já exerceu pelas ruas. Interessante observar que eles se conhecem por um período bem longo, e que pouco mudaram os sentimentos de um pelo outro, aparentemente. Será que os próximos livros e capítulos especiais trarão algo sobre isso?
Mas bem, por fim, temos ali no capítulo algumas cenas pra dar uma relaxada ao estilo mais clássico, como Ralph e Lesten quebrando coisas ali nas termas e o Lesten indo se vingar do nosso guaxinim ladrão ao fim do capítulo.
Foi bem legal ver isso, é espero ver mais coisas assim. Até depois, Canas!
Pô, é sempre bom te ver de novo aqui no blog, Napo! Lembro que você tinha comentado que até gostou dos membros da Ordem, mas que eles não tinham sido tão bem explorados no livro pra ter uma opinião final. Bill e Tootie são dois secundários que adoro, mas também foram os que mais sofreram com os cortes. Aos poucos vou ir postando todos esses capítulos que cortei deles, eu também sentia que de todas as opções esse aqui era o que tinha mais cara de Support. Sem contar que essa coisa de banheiras e casas de banho é tão cara de anime, eu sentia que a cena era a que mais destoava do restante do livro.
ExcluirEu amo essa cena da Auria com a Tootie, faz bem para ela ter uma presença feminina para compartilhar e mostrar que aos poucos ela está se sentindo mais segura consigo mesma. Eu poderia ter explorado muito mais de Pequena Terra, mas acho que isso vai ter que ficar para outro Support haha
Cara, os capítulos do passado da Ordem estão quase prontos, eu escrevi 4 de 5, mas talvez precise estender para 6 kkkkk Em dois deles tem bastante destaque para o Bill e a Tootie e eu mostro um pouquinho de como eles se conheceram, mal posso esperar para mostrar a vocês.
Valeu mesmo por vir comentar, saudades dos tempos que você, a Shii e o Donnel lançavam altas teorias sobre o livro que ainda estava tão longe de ser lançado haha Isso sempre me motivava a continuar trabalhando esse background para expandir esse meu universo. Grande abraço!