O Passado dos Personagens - Lee e Hayley (Parte 3)
Estava aprisionado em sua cama, e por algum motivo não conseguia sair. Os móveis estavam todos no mesmo lugar, mas sua visão era um emaranhado confuso de formas que se mesclavam umas nas outras, com exceção de uma massa negra esguia e uniforme que se destacava de tudo ao seu redor. Ele estava ali, parado, observando-o de longe com um par de olhos fundos e sem pálpebras; andava apoiado nas patas traseiras e tinha feições caninas, mas seu corpo não era revestido por pelos ou traços animalescos. Com um salto ágil, caiu exatamente ao lado da cama. Primeiro farejou seu rosto para certificar-se de que não havia ninguém acordado, mas um som ali perto o fez afastar-se acuado, desaparecendo na escuridão de onde surgira..
Lee levantou-se com um salto, sentindo
o suor escorrer pelo seu corpo. A cama estava desarrumada e Hayley roubara todo
o cobertor para ela, enrolada perto de sua perna onde dormia serenamente. Lee ainda respirava com
dificuldade quando os raios da manhã passaram por entre as persianas e iluminaram o recinto. Trabalhou sua mente para afastar o pesadelo e enfim conseguiu levantar.
Não passava das oito da manhã, o
céu continuava cinzento e uma cortina fina de geada cobria a grama rala nos
arredores. Lee vestia apenas uma calça de abrigo e regata quando saiu da cama e
foi esticar as pernas lá fora e alongar-se, depois se agasalhou melhor com um
gorro, moletom surrado e seus óculos escuros para que não fosse reconhecido.
Gostava de fazer caminhadas matinais, costumava andar 10km todos os dias de
manhã para aquecer, mas naquele dia decidiu que daria uma volta por fora da
cidade e tentaria quebrar o seu recorde de tempo até chegar em casa. Fazia tudo
sem suar. Depois de quase duas horas, voltou para preparar um café da manhã
reforçado — ovos com bacon, e quando o cheiro tomou conta da casa, Hayley
ergueu o narizinho e atiçou suas orelhas.
— Que cheiro gostoso — a feneca falou,
ainda sonolenta. — Qual o motivo do banquete?
— Estou com visita — respondeu Lee
com uma risada. — Você come essas coisas, ou tem algum código moral que a
impeça de comer carne?
— Eu adoro. E para ser bem sincera,
faz anos que não como, tudo que tenho são algumas frutas que pego dos pomares
vizinhos e outros alimentos que... encontro por aí — respondeu Hayley. — Sabe
me dizer que horas são?
— Quase dez horas — Lee fez uma
manobra com a panela fervendo em sua mão. — Você tem um sono bem pesado, sabia?
Pelo menos, admito que parece um bichinho de pelúcia dormindo, por isso eu nem
quis acordá-la.
Hayley corou e voltou a se enrolar
nos cobertores.
— Ainda é tão cedo, posso continuar
aqui...?
— Fique à vontade — o rapaz riu
indiferente. — Mas o que exatamente você está fazendo?
Hayley enfiava a focinho no travesseiro
que Lee usara enquanto se enrolava toda no lençol.
— É que a cama tem o seu cheiro.
— Às vezes você é bem estranha,
sabia?
Hayley continuou a observá-lo
trabalhar o tempo todo. Era a primeira vez que acordara com alguém ao seu lado,
e ainda por cima cozinhando algo tão delicioso que não se lembrava de ter
sentido cheiro igual. Estava acostumada a despertar aos chutes quando morava
nas ruas, mas ver um homem forte e musculoso com roupas casuais e avental
preparar-lhe uma refeição foi uma experiência completamente nova.
Lee terminou um dos pratos e pediu
que ela comesse logo antes que esfriasse. Hayley deu um pulo da cama e não
demorou em agarrar os ovos com bacon com suas próprias patas para depois
devorá-los. Ela percebeu que Lee a olhava de relance, e por isso sentiu
vergonha, somente então se dando conta dos talheres ao seu lado na mesa.
— Desculpe, eu devo ter parecido um
animal faminto agora. É que não consigo mais usar as ferramentas humanas
direito. Não é fácil controlar meu corpo nessa forma, acho que o que mais sinto
falta é de um polegar opositor... — ela disse encabulada.
— Sem problemas — Lee respondeu, apoiando-se
na bancada e indicando que comeria com as mãos também. — Sinta-se em casa.
Os dois se banquetearam e Hayley
repetiu mais algumas vezes até fartar-se. Ela se ofereceu para lavar as louças,
mas sempre acabava deixando alguns pelos nos pratos o que obrigava Lee a
limpá-los novamente.
De repente, uma coceira percorreu o
nariz do rapaz ele espirrou fazendo um barulhão, o que a fez rir.
— Não vai me dizer que você é
alérgico a mim? — brincou Hayley.
— Acho que é só um resfriado —
respondeu Peter. — Isso que dá ficar andando por aí nesse frio sem roupas
decentes.
— Ah, deixe-me fazer um teste em
você!
A feneca saltou até uma estante de
livros e puxou uma banqueta para pegar um livro que se lembrava de ter guardado
ali no último dia. Tratava-se de um livro sobre Curandeiros, como eram
conhecidos os usuários da magia branca naquele reino. Hayley esfregou as
patinhas e pediu para que Lee se sentasse em sua frente.
— Muito bem, você pode não saber,
mas além de ser uma criatura misteriosamente fofa e incomum, também tenho
poderes de cura.
— Duvido — respondeu Lee, cético
como era. — Vai ter que me mostrar.
Sentindo-se desafiada, Hayley
concentrou suas energias e a mana dentro de si, criando uma pequena esfera
azulada em sua mão. A esfera iluminou o recinto, ela a assoprou contra o nariz
de Lee que fechou os olhos e franziu o cenho por sentir algo completamente
estranho dentro de seu corpo. Poucos segundos depois parecia que seu resfriado já
havia passado e o nariz não estava mais entupido.
— Nossa, e não é que funcionou? —
disse a própria Hayley, impressionada. — Geralmente eu só utilizava em mim
mesma para curar feridas, mas... muitos tentaram capturar-me para utilizar-se
desses poderes. Eles me viam como um tesouro peculiar, uma experiência a ser
estudada.
Lee ouvia tudo atentamente. Foi
então que Hayley percebeu que o nariz dele ficava estranhamente avermelhado,
tão vermelho que parecia um morango. Ela começou a rir sem parar, e quando o
rapaz foi olhar-se no espelho percebeu como estava terrível — o resfriado
voltara duas vezes mais forte e agora ele mal conseguia respirar.
Por conta do incidente, Lee teve de
ficar dois dias inteiros na cama.
Hayley se oferecera para preparar o
café, almoço e janta; além de estudar algum feitiço para consertar o incidente
que ela própria cometera. Pelo menos Lee não se importou muito,
Os dois passaram os próximos dias
se conhecendo melhor, e a primeira conclusão que Lee chegou foi de que as
habilidades culinárias da feneca eram péssimas. Vez ou outra ele compartilhava
histórias sobre sua vida e suas vitórias no torneio de Bodoni, assim como sua vontade
de participar do Sellureville, o maior e mais importante torneio do reino.
Também contou sobre o incidente com Ronald Rollout e sobre como adquirira o
olho vermelho, as pessoas agora o consideravam um monstro, seu sonho teria de
sofrer uma rápida mudança no roteiro para adequar-se a esta nova realidade. Sempre
quisera ser um herói para o mundo, mas talvez o mundo não quisesse mais
recebê-lo. Não naquelas condições.
— Eu gostaria de ter histórias
legais como as suas para contar — disse Hayley, admirada. — As minhas são todas
trágicas, e ninguém gosta de ouvir histórias com finais tristes. Mas, sério, eu
jamais diria que você seria capaz de ferir alguém! Você parece ser um cara tão
bacana, é gentil e atencioso... E eu que não tenho absolutamente nada para
contar!
— Nossa, imagina se tivesse? Você fala
mais do que deve, também é desastrada e vive cometendo enganos — disse Lee num
tom sério que fez Hayley ficar entristecida, em seguida continuou: —, mas tem
um coração enorme. Não se pode simplesmente dar as costas a alguém que só quer
ajudar.
Eles se olharam e Hayley agradeceu
as palavras sinceras. Lee espirrou, sentindo que seu resfriado não passaria tão
depressa. Após um rápido intervalo de silêncio, uma voz de menina foi ouvida:
— Acho que você é a minha melhor
história.
Lee revelou um sorriso de canto
entre os lábios.
— É estranho pensar que eu posso
morrer a qualquer momento — ele teve de admitir, entrelaçando suas mãos e
sentindo que lá no fundo elas tremiam de medo. — Hoje o dia está horrível, frio,
nublado e chuvoso; do jeito que eu odeio. Tenho tantas expectativas e vontades,
mas é difícil simplesmente deixar tudo para trás e seguir uma aventura da qual
não tenho controle nenhum. Realizar sonhos é difícil...
— Pelo menos você tem um.
Hayley foi até perto de sua perna,
sentou-se no chão e encostou a cabeça em seu joelho.
— Hoje é um bom dia. Devíamos
aproveitá-lo.
— Como?
— Cuidando um do outro — disse ela
com a voz tranquila.
— Acho que estou começando a gostar
de dias assim.
i
Ao final da primeira semana, Lee
assustou-se com uma visita inesperada sentada no sofá de sua casa.
— Eu te dei a permissão de usar
minha cama?
— Mestre Hugh! — falou o rapaz,
tentando manter a compostura e jogando seu cobertor em cima de Hayley para
escondê-la.
— Se minha memória não me falha, eu
disse que você poderia ficar com a casa, mas seu lugar sempre foi aqui — ele
deu dois tapinhas no sofá em que estava sentado, depois riu e fez sinal para que
esquecesse tudo aquilo. — Só estou brincando, filho. Venha, precisamos
conversar lá fora, só não faça barulho para não acordar esse camundongo
gigante.
— Ah, você a viu... Não se
preocupe, a casa poderia pegar fogo que ela não acordaria...
Lee vestiu seu moletom surrado com
gorro, pois seu resfriado só estava começando a melhorar agora. A frente fria
se aproximava com ainda mais força, o inverno seria rigoroso naquele ano. Ambos
caminhavam lado a lado, Hugh trajado com sua jaqueta marrom, o cachecol velho
no pescoço e a boina na cabeça; seu hálito quente fazia formas no ar conforme ele
compartilhava os resultados que sua busca rendera na última semana.
— Existe uma pessoa capaz de
reverter sua maldição.
Peter Lee soltou um suspiro
aliviado, aguardando mais informações.
— E então? Como eu posso encontrá-lo?
— Trata-se de uma feiticeira que
mora na Ilha-S, localizada no sudeste da província de Century. Mas já vou avisando que ela
é uma bruxa terrível, dizem que ela é capaz de congelar sua alma e prendê-la num
jarro para que nunca mais ame alguém, seus feitiços quebram corações, e...
— É a sua ex-esposa, não é?
Hugh parou de falar e ficou quieto por
um instante, depois confirmou com a cabeça.
— Quer dizer que esse tempo todo de
investigação se resumiu a um encontro familiar?
— Não posso sequer me aproximar
dela, filho. Por motivos pessoais, claramente. Passei por vilarejos
afastados nas montanhas do norte de Bodoni e fiz alguns contatos, mas ninguém
me apresentou uma resposta adequada para a cura, e o tempo está contra nós, eu
precisaria de mais alguns meses para seguir com a pesquisa... Por ora esta é a
única solução que encontrei — explicou Hugh. — Todos recorrem à feiticeira
quando suas esperanças acabam. Sua especialidade são exatamente as maldições, e
além de ser uma pessoa formidável, você precisa provar um pouco de seus
biscoitos com gotas de neve. Infelizmente, eu não poderei acompanhá-lo nessa
jornada, mas seguirei com minhas pesquisas.
— Você disse que ela é boa com
maldições, será que ela também poderia curar a Hayley?
— Quem é Harley? O rato gigante?
— Ela não é um rato gigante, na verdade
é uma garota humana que foi amaldiçoada e está tentando recuperar sua forma
original.
Hugh abriu a boca em sinal de
surpresa, interligando algumas peças que começavam a se conectar. Apontou para
ele com o indicador e deu uma risadinha provocativa que só os tios chatos das
festas sabem dar.
— Bem que eu achei que você se
daria melhor com as mais novas, garanhão. Agora já posso fazer piadinhas sobre
namoradas!
— O quê?! Se você não percebeu,
somos de duas raças inteiramente diferentes! Eu sou um humano, e ela é um... sei lá!
Eu tenho quase um metro e noventa de altura, ela não passa da minha cintura! E
até agora não sei se ela se enquadra como um animal ou na raça dos monstros,
mas... Ei, pare de tentar confundir a minha cabeça.
— Ah, filho, muitas vezes nos apaixonamos
pelas pessoas mais improváveis... Os opostos se atraem, foi assim que conheci
sua mãe, e...
— Do que você está falando?
Hugh parou quando percebeu a gafe
que cometera.
— Desculpe, por um instante
confundi você com... Deixe para lá... Onde estávamos? — disfarçou o velho,
procurando mudar o assunto o mais rápido que pudesse. — Ah, sim. Obviamente,
também estive tentando informar-se sobre as consequências dos olhos vermelhos.
Por um acaso você tem sentido a aproximação de espíritos malignos? Coisas que
mais ninguém enxerga?
— Não. Ou melhor, não vejo nada.
— Esses demônios, ou espíritos
invisíveis, como quiser chamar, são responsáveis por mudar drasticamente a
atitude de pessoas. Se um deles assumisse o seu corpo, você poderia ferir
alguém que ama sem nem ter consciência disso. Não há nada confirmado, mas eu
acredito que os olhos vermelhos tenham alguma ligação com isso. Talvez seja
alguma criatura que o vinha seguindo nos últimos anos, fazendo-o agir com mais
raiva e violência do que o costume, e quando encontrou a brecha perfeita — um
momento de fraqueza espiritual e mental — ele apossou-se de você.
— Quer dizer que podemos retirá-lo
de mim? — perguntou Lee.
— Ninguém nunca conseguiu. Os
amaldiçoados morrem antes.
— Muito inspirador...
— E pesadelos? Você ou o
camundongo-fêmea sofrem de pesadelos?
— Se ela ao menos acordasse depois
de um. Embora eu tenha sido perseguido por um sonho frequente onde uma estranha criatura está me observando, e só o fato dele ficar ali me olhando me incomoda bastante...
Hugh concordou com a cabeça, mas
não respondeu. Lee pensou que ele estava para apontar algo importante, mas sua
mente parecia ainda estar com os biscoitos de neve de sua ex-esposa.
— Tente encontrar a feiticeira, ela
pode ser a solução para as duas maldições, tanto a sua quanto à da raposa
felpuda. Não há nada nesse mundo que ela não possa resolver — falou Hugh. — E se
for realmente visita-la, diga que o velho Burnout mandou um “oi”.
— Não vou mandar nada.
— Vamos lá, realize o último
desejo deste pobre senhor...
— Como pode confiar tanto nessa
mulher?
Hugh parou de andar. Respirou fundo
e soprou no ar, e seu hálito quente transformou-se em uma mulher de cabelos
esfumaçados e vestido longo. Ela dançava sozinha e exibia toda sua
sensualidade, até que a imagem se desfez levada pelo vento.
— Eu ainda a amo mais do que tudo
nesse mundo.
Hugh recebeu muito bem a nova companhia em sua pequena casa. Agora que o
verdadeiro proprietário estava de volta, o ambiente revelou-se muito mais
divertido e alegre. Hugh também não era um bom cozinheiro, mas tinha seus
truques na manga: ele transformava as labaredas de fogo em pequenas criaturas
incandescentes com vida própria, e elas, por sua vez, preparavam todo o almoço
sem que ele precisasse mover um dedo. Hayley adorou conhece-lo, e via no velho
homem a imagem de um pai que nunca teve. Suas histórias eram sempre cheias de
emoção, romance e aventura; e ele as contava como se tivesse feito parte de
cada uma delas.
— ...e então eu fiquei frente a
frente com o temível dragão, e para proteger os meus amigos, arranquei a cabeça
dele!
— Você arrancou mesmo? Isso é
demais! — Hayley perguntava incrédula, inflando o ego do velho. Lee fingia cochilar
ali perto com os braços cruzados, cansado das tantas vezes que ouvira a mesma história.
Os dias se prolongaram e a longa temporada de inverno chegou — eles viviam de forma simples,
compartilhando interesses e auxiliando um ao outro no que podiam. Hugh ensinou
Hayley a controlar melhor seus poderes, e encontrou uma explicação para seu
cansaço extremo: sempre que ela fazia uso de magia branca, um pouco de sua
própria energia era drenada, por isso tais poderes deveriam ser usados com
cautela e responsabilidade. Hayley aprendia com velocidade, era tão habilidosa
e dedicada em sua área quanto Lee em seus treinos. Há meses ele não tinha
notícias dos torneios em Bodoni, mas chegara aos seus ouvidos que seu título de
campeão fora revogado e seu nome aparecia em diversos cartazes de foragido; aos poucos tais memórias foram
abandonando sua mente, e até Wendy parecia vir de um lugar muito distante em
suas lembranças.
Em uma tarde fria os três decidiram sair juntos para fazerem compras. As
ruas estavam cheias de gente bem vestida por conta do frio delicioso que fazia
lá fora, era um dia perfeito para passar em um bar e tomar um bom chocolate
quente com direito a fondoue de
chocolate. Bodoni fazia frio grande parte do ano, não tanto quanto a província
de Perpetua e sua neve permanente, mas os dois extremos do reino eram
conhecidos pelas temperaturas amenas. No passado, Bodoni recebeu o apelido de “região
das neblinas” por sempre ter uma camada espessa que cobria a cidade ao
alvorecer.
Lee vestia sua blusa e colocou o capuz junto dos óculos escuros. Queria
estar irreconhecível, ainda via muitas autoridades nas ruas, mas se conseguisse
se misturar à multidão não haveria problemas. Hayley andava hesitante entre os
dois homens, preferindo esconder-se atrás dele sempre que alguma criança
curiosa a encarava por muito tempo.
— Ei, Lee...
— O que foi, Hayley?
— Eu queria ir embora logo... Nem
todos os humanos gostam de mim.
Lee ficou pensativo, e talvez fosse
verdade, Hayley andava sobre duas patas como gente, seria difícil escondê-la
com aquelas orelhas enormes e o focinho alongado. Foi Hugh quem teve a ideia de
entrar em uma loja de roupas e acessórios, comprou vestes para crianças que a
cobriam de seus pés até a cabeça, além de um enorme chapéu onde poderia
esconder as orelhas da pequena. Levou também um pente para tentar ajeitar os
pelos da feneca de modo que se parecesse com fios loiros, e gostou do
resultado. Estava bem convincente.
— Isso é horrível — Lee a analisou
com cuidado. — Alguma vez você já comprou roupas na sua vida?
— Sua opinião é quase
insignificante para mim nesse momento, meu jovem — respondeu Hugh com uma
risada, agachando para ficar na altura da pequena. — Como se sente?
— Me sinto uma capivara gorda
ambulante — admitiu Hayley, que já se desacostumara a usar roupas. — Sério,
elas coçam muito. Como vocês conseguem usar essas coisas por tanto tempo?
— Se quiser voltar a viver entre
humanos, vai ter que se acostumar — respondeu o velho.
Os três voltaram a andar pelo
centro de Bodoni, e dessa vez sem chamar muita atenção. Diante de tantas raças
e criaturas diferentes que existiam naquele mundo, Hayley poderia ser apenas
mais um viajante incomum. O maior problema de encontrar um animal com o poder
da fala seria enquadrá-los em uma raça inteiramente nova, capaz de opinar,
dialogar e sentir; a caça passaria a ser expressamente proibida em todos os
lugares. Da mesma forma que as quatro raças se respeitavam mutuamente, a
inserção dos animais neste meio mudaria completamente a geração que viria a
seguir.
Lee caminhava depressa, quando Hayley
foi ficando para trás, teve de correr e segurar sua mão para que não perdesse o
ritmo. O rapaz olhou para ela, mas não ligou. Hugh, que os vinha acompanhando
de longe, não pôde deixar de fazer um comentário:
— Sabia que eu tenho uma filhinha
também? Hoje ela deve ter o seu tamanho.
— Sério? Então ela tem muita sorte
de ter um pai como você — respondeu Hayley.
— Eu gostaria que isso fosse
verdade, mas como pode ver, estou aqui, longe dela e incapaz de acompanhar seu
crescimento em uma das fases mais importantes de sua vida... Eu a vi dar seus
primeiros passos e formar suas primeiras palavras, mas estarei longe quando ela
tiver dificuldade em sua lição de casa, ou quando não conseguir dormir de noite
por medo do escuro, ou encontrar seu primeiro namoradinho... Não poderei fazer
piadas com nada isso.
— E você... não pode voltar a
vê-la? Não pode retornar para a sua família?
— Não, querida. Não posso. Não até
que algumas coisas sejam resolvidas.
Hayley correu em sua direção e
abraçou sua perna com força. Hugh parou de andar e cedeu completamente ao gesto
de carinho, ficando de joelhos para envolve-las com seus braços quentes como os
de um pai que renova todas as suas energias.
— Não fique triste, tá bom? — pediu
Hayley. — Eu posso ser sua filha.
— Puxa, olha só o que vocês estão
fazendo comigo, chorar cancela os efeitos do meu poder — disse o velho homem
com um sorriso. — Eu estou longe de meus filhos de sangue, mas também estou
feliz por ter ganhado novos.
— Eu sei que esse é um momento
bonito e tudo mais, mas podemos continuar andando? — perguntou Lee. — Tipo,
vocês estão parados no meio da calçada e atrapalhando o movimento de todo
mundo.
— Você está com inveja porque não
está envolvido no nosso abraço — disse Hugh. —Venha aqui, seu menino invejoso e
sentimental, sempre tem espaço para mais um!
Hayley teve o dia mais feliz e
diferente de sua vida desde que perdera a memória. Ganhou até mesmo uma boneca
para substituir a criatura sem cabeça que ela levava em sua caixa de
brinquedos. Eles só deixaram a cidade quando já estava escurecendo, um grupo de
jovens passava por ali, Hayley prendeu a respiração quando passava perto deles,
pois pressentia que eles falavam mal a seu respeito. Aprendera a temer
grupinhos como aquele, que eram exatamente o tipo de gente que praticava
maldades com ela quando estava indefesa. Lee segurou sua mão — ou pata, como
preferir — e Hugh fez o mesmo do outro lado. Eles seguiram de cabeça erguida, ainda
que a voz das garotas cochichando baixinho chegasse até seus ouvidos aguçados:
— Viu só aquele casal? Mas ele é
tão alto, e ela tão baixinha...
— Não percebeu que são de raças
diferentes? Deve ser um humano e um monstro... — respondeu a outra com ares de
censura. — Essa coisa de espécies se misturando perturba o
equilíbrio.
Peter Lee não chegou a ouvir a
conversa, mas Hayley ouvira como se estivessem ao seu lado. Abaixou a cabeça e
pensou sobre si mesma, sobre quem era e o que se tornara. Estava começando a
gostar muito daquela gente que a aceitara de tão bom grado, mas sempre que
pensava em humanos era pega pela incerteza. Por algum motivo eles se revelavam
cruéis quando menos se espera.
— Às vezes eu penso que fui
amaldiçoada a ficar sozinha no mundo — murmurou Hayley, rompendo o silêncio.
— "É melhor ficar sozinho com seus
pensamentos do que com outras pessoas que o façam sentir-se vazio" — citou Hugh.
Hayley concordou com a cabeça, e
tentou mudar seus pensamentos de forma pensativa. Queria acreditar que estava
com as melhores companhias do mundo.
Em uma época tão fria, tudo que
gostaria era de ficar no calor e no aconchego da pequena casa ao pé da
montanha. Hugh fazia com que a temperatura ambiente fosse sempre agradável, e
ele teve ainda de comprar dois colchões para que houvesse espaço. No fim do dia
todos ficavam juntos e amontoados no sofá, sair para passear era um evento
novo, mas os três concordavam que preferiam aproveitar a companhia mútua sem
precisar interagir com pessoas de fora ou se esconder no mundo. Ali, naquele
lugarzinho esquecido, ninguém os desapontaria e eles não precisariam de nada,
além de si mesmos.
ii
Alguns meses se passaram desde que
Hayley se mudara de sua caixa de papelão embaixo da ponte até sua nova moradia.
Numa manhã fria de inverno, Hugh ordenara
Lee a ir até as montanhas do norte de Bodoni, próximo à Floresta dos Cheiros,
para recolher a lenha da melhor árvore que só crescia lá. Lee partiu muito
contra sua vontade, mas apostou que conseguiria fazer a tarefa em menos de quatro
horas. Neste meio tempo, Hugh e Hayley ficaram a sós na casa. O velho
aproximou-se da lareira vazia, encheu-a de papelão velho e disparou fagulhas de
suas mãos que imediatamente acenderam o fogo. Eram chamas misteriosamente
quentes e aconchegantes, que não demoravam em se alastrar e jamais perdiam o
controle. Hayley adorava seus feitiços. Hugh enfim ajeitou-se perto do fogo e
afundou no sofá.
— Você deve estar se perguntando o
porquê de eu ter mandado o garoto treinar nas montanhas. Bem, eu só queria um
momento para conversarmos algumas coisas em particular.
“Peter Lee é um jovem dedicado, mas
às vezes precisa de um empurrãozinho para continuar seguindo, ou ele se acomoda
facilmente, ainda mais com você por perto. Se dependesse dele, vocês passariam
o inverno inteiro dentro dessa casa. Ele adora um bom relacionamento e uma
companhia agradável, há muito do romance antigo em seu coração de menino.”
— Ele é muito dedicado mesmo —
respondeu Hayley. — Eu me sinto segura perto dele.
— E ele a protege como se fosse a
irmãzinha mais nova dele.
Hayley concordou com a cabeça, mas
não disse nada. Hugh olhou bem para a criaturinha sentada no chão em sua
frente, brincando com o fogo como uma criança curiosa que enxerga nas chamas
uma capacidade de purificação que outros não são capazes. Ele respirou fundo e
coçou a barba, tocando em um assunto um tanto quanto delicado:
— Só que você está se apaixonando
por ele, não é?
Hayley ainda encarava o fogo bem de
perto quando ouviu a pergunta. Sua cabeça estava longe, então nem soube como
responder ao certo. Ela abaixou as orelhas e parou de brincar, pensando em como
transformar tantos pensamentos em palavras que continuavam presas em sua
garganta.
— O Lee é bonito, alto
e forte; gosto do cabelo dele, dos lábios dele, do sorriso de canto sem mostrar
os dentes, das mãos grandes e do peitoral definido. Quando estou com ele, eu
tenho pensamentos indecentes, quero trocar carícias, abraça-lo e andar de mãos
dadas. Eu só queria que ele não pensasse que eu sou tão criança e inocente
quanto parece que sou... Ele deve me achar tão pura, mas eu iria preferir não
ser colocada em um pedestal onde mais ninguém possa me alcançar.
Hugh riu de sua poltrona.
— Falando assim você até parece uma
menininha de verdade, e não uma alma enfeitiçada. Talvez o rapaz a considere assim
por ter medo de te perder, ele acaba de sair de um relacionamento duradouro, às
vezes isso é difícil de lidar. Dê tempo ao garoto.
— Então... Não tem nada a ver com
nós dois sermos de raças diferentes?
— Eu me apaixonei pela Rainha do
Gelo, enquanto eu sou um autêntico Guerreiro do Fogo. Quer algo mais
controverso do que isso? — Hugh falou num tom divertido. — Ouça, querida. Ouça
o que seu coração está dizendo.
— Eu só gostaria
de viver com ele para sempre...
— Viver com humanos
é estranho. Posso ter esta forma como você me enxerga agora, mas eu sou um
tótines e também compartilho de uma aparência mágica. Vivi com humanos os
últimos anos, e cada dia que passa eu os acho mais e mais estranhos; cheios de
suas incertezas e dúvidas, mas com uma força de vontade imensa para alcançar
seus sonhos mais impossíveis — disse Hugh. — Se este é o seu sonho,
ficar com ele para sempre, então lute por isso. Ainda deve existir um pedacinho
da determinação humana dentro de seu coraçãozinho de camundongo.
— Mas eu sou um feneco — corrigiu
Hayley.
— Não faço nem ideia do que seja
isso — Hugh caiu na risada.
Lee voltava das
montanhas de madrugada, abrigado dos pés ao pescoço entre casacos de pele e
botas felpudas. Estava cansado e com sono, retornava daquela viagem frustrante
e no caminho sempre se deparava com monstros famintos. Alguns já eram até
velhos conhecidos e só apareciam para atrapalhá-lo e atrasar no retorno. O mais
maçante o frio de quase cinco graus, não chegava a cobrir o chão de neve, mas a
sensação térmica era ainda inferior e seus passos deixavam para trás um rastro
por cima da geada.
Pelo menos teria Hayley
quando voltasse. E isso já era o suficiente.
Ele estava no alto do
penhasco perto da casa de Hugh quando notou uma estranha cortina de fumaça
negra esgueirar-se nas alturas. Parecia ser fogo, mas tinha de ser muito forte
para superar o vento. De fato, quando forçou a visão percebeu tratar-se de um pontinho
verde incandescente. Temeu pelo pior. Ajeitou a madeira em suas costas e
começou a correr. Suas suspeitas eram colocadas à prova, largou as toras e correu
o mais depressa que pôde, mas quando chegou tudo já ardia em chamas. O fogo verde
se alastrava para todos os lados, se tentasse entrar ali teria algumas
queimaduras muito sérias para lidar.
Lee entrou em
desespero. Tinha força, mas ela de nada lhe servia numa hora como aquela.
Ajoelhou-se no chão ao imaginar que Hugh e Hayley ainda estavam lá dentro, as
únicas pessoas que realmente importavam em sua vida.
— Não,
não, não!! — berrou em plenos pulmões.
Estava prestes a entrar na casa
quando a porta foi aberta, e dali de dentro Hugh saiu carregando a pequena
feneca em seus braços, toda encolhida entre cobertores para que não fosse
ferida pelas chamas misteriosas. Lee arregalou os olhos, Hugh estava intacto,
sem nenhuma queimadura ou ferimento. Ela estava desacordada de tanta fumaça que
inalara.
— Alguém ateou fogo na casa
enquanto dormíamos — disse Hugh de forma breve,
— Fico feliz que você tenha
conseguido sair inteiro — falou Lee, incrédulo.
— Acho que todos esses anos tomando
café fervendo me deram resistência — brincou o velho. — Mas eu não sou capaz de
controlar estas chamas. Elas são ferozes, isso não é natural e nem obra de algum ser vivo. Eu poderia facilmente consumir
as labaredas de uma floresta inteira, mas aqui está um tipo de fogo que nunca
vi antes, por isso a fumaça sobe negra e transforma o céu em escuridão.
Lee olhou para os lados à procura
do causador daquela tragédia. Não via nada além da noite, mas imerso
nas trevas surgiu um par de olhos que brilhavam às cegas. Havia um monstro ali
de quase dois metros, grande o bastante para ser do tamanho de um lobo adulto, com o focinho longo e feições animalescas, sem pelo algum cobrindo o corpo desnudo. Ele andava apoiado nas pernas
traseiras, mas não era um animal; seus braços eram finos, conectando mãos finas com garras longas e pontiagudas. O monstro ficava olhando para ele o
tempo todo, como se fizesse questão de que soubesse que ele os estava
observando, vigiando, acompanhando há muito tempo.
— Você está vendo aquilo, Hugh? —
perguntou Lee.
O velho olhou para a noite e forçou
a vista desgastada.
— Do que você está falando?
Os olhos vermelhos de Peter Lee
arderam em chamas. O rapaz retirou as vestes pesadas e começou a caminhar em
direção da sombra que continuava parada, imóvel. Hugh chamou-o, mas Lee não
respondeu, começou a correr contra o monstro e ergueu o punho para acertá-lo na
cabeça, mas a criatura desapareceu e ressurgiu logo atrás do rapaz, arranhando
suas costas e abrindo uma ferida mortal.
Hugh não conseguia enxergar a
criatura, mas sabia que algo atacava o seu pupilo. Lee caiu no chão agoniando,
mas logo se levantou e berrou novamente:
— Onde está? Não tem coragem de me
enfrentar?
Não
estou aqui por você, disse a criatura de olhos famintos. Onde está a criança?
Somente Lee era capaz de ouvi-lo.
Independente dos motivos, jamais entregaria Hayley.
— Você nunca a terá. Eu vou acabar com
você agora mesmo!
Não
importa. Vocês podem continuar fugindo do Lobo, mas o Lobo é paciente. Um dia o
Lobo alcança.
Lee tentava acertá-lo com socos e
chutes normais, mas nada poderia fazer frente às criaturas do mundo inferior.
Estava perdendo o controle, sua raiva era tamanha que não poderia mais
controla-la. A sombra atacava na furtiva, acertava-o pelas costas, praticamente
brincava com sua preza. Lee caiu de joelhos no chão quando sentiu algo cortar
seus calcanhares, como se uma chuva de canivetes o perfurassem e imobilizassem
no chão. Ergueu o rosto com dificuldade e teve tempo de ver o monstro caminhar
em direção dos panos onde Hayley jazia desacordada.
— E-eu não posso deixa-lo
leva-la...
O monstro olhou para trás. Seus
olhos sem pálpebras enxergaram nele uma fonte de vida imensa, um jovem tão
imerso na violência e na crueldade que era só questão de tempo até que
espíritos fossem atraídos aos montes em sua direção. Lee bateu no chão com o
punho e seu corpo começou a mudar de forma até dobrar o tamanho, suas roupas se
rasgaram e sua face tornou-se deformada. Os dentes ficaram à mostra como os de
um crânio, seus músculos saltaram para fora e os dedos de suas mãos também
se transformaram em garras. Era a primeira vez que deixara todas as energias negativas
de seu corpo tomar posse, Hugh lera que todo amaldiçoado com os olhos vermelhos
tinham uma forma demoníaca adormecida em seu corpo. Os olhos de Lee se tornaram
vazios como os de um crânio, ele ergueu o braço retorcido e mergulhou contra a
sombra, cortando-o ao meio. A criatura urrou e se dispersou na escuridão, seus
olhos como lanternas em uma noite vazia.
Lee se transformara em um monstro
de verdade. Ele arfava com dificuldade, não tinha controle do que havia se
tornado, mas certamente não era daquele mundo. Do outro lado, Hugh carregava
Hayley entre os braços e erguia uma única mão contra a nova ameaça que se
formava.
— Filho, pare com isso
imediatamente.
Lee virou-se para ele e viu ali apenas
um homem velho e cansado — mas não o distinguiu de um verme que deveria ser
eliminado. Ergueu o braço para arrancar sua cabeça, e neste instante uma
explosão de fogo saiu das mãos de Hugh e explodiu bem diante da criatura que caiu
no chão berrando de dor, os dentes à mostra num sinal de possessão. Uma gota de
suor escorreu pelo rosto de Hugh.
— Filho, volte para nós — ele ainda
conseguia falar com a voz mansa, como um pai que suplica ao filho que volte
para ele. — Este não é você.
O monstro ergueu-se, e com
velocidade avançou em sua direção. Nada parecia ser capaz de detê-lo, e Hugh
sabia muito bem que a única forma de combater monstros descontrolados era
impossibilitando-os de continuar. Lee fez uma investida, Hugh escorregou para o
outro lado e procurou deixar Hayley em segurança longe da batalha e do fogo na casa.
O velho arrancou um pedaço de ferro com suas próprias mãos e o transformou em
brasas, como uma espada de fogo. Quando o monstro atacou novamente, Hugh golpeou
a perna esquerda da criatura onde ele já parecia mancar devido ao ferimento
causado pelo Lobo, fazendo-a cair de joelhos no chão.
— Peter Lee, você é mais forte do que essa
maldição, mais forte do que qualquer criatura que deseje exercer controle sobre
você. Revele o prodígio, o guerreiro, o campeão; liberte-se e venha cuidar
daqueles que realmente precisam de você!
O monstro virou-se para Hugh com
uma fome voraz. Sua mão negra transformou-se em uma lança e ele veio cercado de
ódio, perfurou o peito de Hugh, atravessou até o outro lado e o prendeu no ar.
O velho cuspiu sangue, sua boina caiu e seu cachecol foi levado pelo vento. A
cor vermelha agora cobria sua barba e a camisa da mesma cor.
Num gesto desesperado, ele segurou
na cabeça do monstro e causou uma explosão de fogo tão grande que a terra
tremeu. O monstro berrou, contorcendo-se até perder totalmente o controle e desaparecer
no escuro, deixando para trás apenas um frágil e indefeso humano.
iii
Hayley despertou com o céu cinzento
e o sereno em seu rosto. Não sabia quantos dias estivera desacordada, ou teriam
se passado apenas algumas horas? Ao seu lado via o que restou da pequena e tão
adorável casa onde fora acolhida, além de Hugh Burnout envolto em uma poça de
sangue para seu desespero.
— O q-que aconteceu aqui? — berrou
a feneca, correndo para socorrê-lo. — Senhor Hugh, senhor Hugh!
Ela tinha tantas lágrimas nos olhos
que não conseguia enxergar, tentava utilizar os poderes de cura que vinha
aperfeiçoando, mas nem mesmo isso parecia adiantar, o machucado em seu no peito
era profundo demais e estava além das habilidades de qualquer curandeiro em
Sellure. Não havia nada que pudesse fazer além de prolongar o inevitável.
O velho mal conseguia abrir a boca
para dizer alguma coisa, e pela primeira vez ele pareceu sentir frio — um frio
mortal. Com a mão trêmula, ele apontou para os destroços da casa e suplicou:
— Caixa... embaixo da cama... por
favor.
Hayley compreendeu a mensagem e
correu para o local quase irreconhecível. O chão ainda estava quente e suas
patinhas ardiam em contato com as brasas deixadas para trás, mas ela localizou
a cama onde passara tantas noites quentinhas junto de Peter Lee. Escondido
debaixo de duas toras havia uma pequena caixa vermelha, completamente intocada
pelo fogo.
Ela correu e trouxe a caixa de
volta para Hugh que demonstrou um olhar de alívio por saber que seu objeto mais
precioso não fora destruído. Ele ainda tinha dificuldade com as palavras, mas
conseguiu formar frases o suficiente para compartilhar seu último desejo.
— Leve... para minha esposa... minhas
crianças... todos juntos...
— Sim, sim, com toda certeza eu
farei isso — Hayley também se esforçava para conter as lágrimas. Hugh apontou
para Lee, que continuava imóvel no chão.
— Diga para ele... ser uma boa
pessoa, ouviu...? Ele não é um monstro, é um rapaz bom... vocês foram como meus filhos, prometam-me que
irão realizar seus sonhos... um vai cuidar do outro, e vocês estarão sempre
juntos... encontrem a feiticeira, revertam a maldição... tenham uma vida
perfeitamente... normal... longe das estranhezas do mundo... longe do perigo...
A voz de Hayley vacilou, e por um
breve instante ela quase permitiu que a esperança desaparecesse de dentro de
si.
— E se a feiticeira não conseguir?
Hugh sorriu, encarando o céu
cinzento.
— Só diga a ela que estarei
esperando no Unferis... onde todas as almas se reencontram.
O brilho branco de seu poder de cura desapareceu, escapando por entre suas patinhas felpudas. O corpo de Hugh
ficou gelado e não houve mais motivos para rir e nem alegrar-se.
Lee continuou imóvel por várias
horas, e Hayley sentiu-se completamente sozinha de novo. Ela tinha apenas uma caixa
vermelha em suas mãos, e sua curiosidade pediu que a abrisse: encontrou ali
centenas de cartas lacradas das mais diferentes datas. Hugh escrevia para seus
filhos havia pelo menos oito anos, mas nunca enviou nenhuma carta para eles por
medo de que o rastreassem e descobrissem onde viviam as pessoas mais
importantes de sua vida, ou por simplesmente julgar que ainda não era hora.
Talvez a hora nunca chegasse.
“Ao meu
grande filho.
À minha
doce e amada filha.
À minha
amorosa e mais do que perfeita esposa, Isadora.”
Desolada, Hayley não ousou abrir
nenhuma delas, mas chorou até não poder mais, lágrimas muito além do que
qualquer dor física que já sentira até então. Ela esfregava seus olhos como se
deles saíssem a própria chuva, e mesmo assim ninguém podia ouvi-la.
Foi naquele dia que Hayley decidiu
que seu sonho seria o de nunca mais deixar um amigo ou até mesmo desconhecido
sofrer. Seu sonho seria realizar os sonhos dos outros, e ela iria até o fim
somente para entregar aquela pequena caixinha ao seu destino, mesmo que aquilo custasse
a sua vida.
Quando Lee finalmente abriu os
olhos Hayley encheu-se de alívio, pensava que nunca mais os veria, mas dessa
vez compreendeu o perigo que representavam os olhos vermelhos. Ele parecia
lembrar-se de tudo que fizera, embora não tivesse controle nenhum de seu corpo.
Ela lhe contou que usara um feitiço
para que Lee não sentisse dores, mas o rapaz quase perdera o movimento da perna
esquerda. Parecia que alguém tinha levado uma parte de si. Lee agora fitava o
vazio sem expressão alguma, frustrado consigo mesmo por não ter sido capaz de
controlar os monstros que viviam dentro dele, até porque sem uma das pernas
nunca mais conseguiria lutar, nunca.
— Hugh Burnout é um idiota por
desejar que eu continue batalhando para entrar no Sellureville e ser o maior
lutador do mundo, agora faço jus ao título que me deram nos tempos de
iniciante: Canhão de Vidro. Bato como ninguém, mas quebro em mil pedaços quando
levo uma surra. Esse corpo humano... é uma merda.
— Não se preocupe, você vai
aprender a conviver com ele, dentro de seis meses acho que já conseguirá andar,
e inclusive....
— Não importa, Hayley — ele a
interrompeu. — Não importa mais.
Lee virou a cara e Hayley imaginou
que ele deveria estar muito bravo por ela não ter sido capaz de curar Hugh
quando ele mais precisou. Os dois ficaram sentados um ao lado do outro no
sereno da chuva quando ouviu-se um gemido, e para sua surpresa, Lee tampava o
rosto com uma das mãos, envergonhado por não ter sido forte o bastante e
impedido as lágrimas de caírem.
— Eu não posso mais. Eu não
consigo. Deixei morrer a única pessoa que se preocupava comigo, devia ter sido
eu no lugar dele. Não aguento mais essa maldição, Hayley, faça ela parar... Faça ela parar!
Lee apertou seus olhos com tanta
força que poderia tê-los estourado ali mesmo se não fosse pela feneca que
correu e segurou seu rosto. Era a primeira vez que eles ficavam tão perto um do
outro, Lee podia enxergar todos os detalhes e a pelagem cor de areia dela, mas
os olhos, por algum motivo, ainda pareciam ser os olhos de uma humana.
— Pare de dizer bobagens, Peter
Lee! Seu mestre não viveu o suficiente para dizer suas últimas palavras a você,
mas ele as passou para mim: Você não é um monstro, você é um bom rapaz, e vai
realizar todos os seus sonhos, está me ouvindo? Você será eternamente
responsável por mim, e eu serei por você. Nós dois vamos enfrentar isso juntos,
e nós vamos vencer, porque todos nesta terra são vencedores!
Após erguer a voz o mais alto que
pôde, Hayley sentou-se no chão e voltou a chorar.
— Eu achei que ao seu lado eu
poderia estar segura, mas no fim das contas eu só trouxe azar e consequências...
Me desculpe, nem sei direito o que estou dizendo!
Hayley estava tão imersa em seu
próprio lamento que não reparou quando Lee arrastou-se para seu lado e a
abraçou. Sentado, eles ficavam quase da mesma altura. A feneca chorava como
gente, ambos perderam alguém muito estimado, mas tinham de ser fortes o
bastante para continuar lutando.
— Eu não quero passar por isso
nunca mais — suplicou Hayley, aninhando-se em seus braços. — Eu nunca mais
quero perder alguém...
Lee preferia ficar quieto, mas
sabia que precisava dizer algo.
— Não vai — foi a primeira promessa
que lhe veio à mente, e ele odiava fazer promessas. — Eu não vou deixar.
Desculpe por me desesperar.
Os dois enterram Hugh
ali mesmo, próximo às cinzas da casa destruída, onde era seu lar. A fumaça
negra se extinguira, o vento varrera muitas das lembranças, deixando para trás
apenas as consequências. Quando Lee se pegou pensando no “Para Sempre” de
Wendy, nunca imaginou que acabaria preso a alguém por obrigação, sendo que na
realidade cuidar de Hayley era como adotá-la como sua outra cara metade, alguém
que entre tantas incertezas e dificuldades na vida, encontrou aquele que tinha
a mesma vontade de vencer e continuar seguindo em frente.
— Ei, Lee — falou Hayley. — Meus
livros de contos de fada estavam todos ali dentro.
— Pois é. Acho que agora não estão
mais.
— Um dia vou tentar escrever uma
história, cheia de cavaleiros e heróis, monstros e dragões, amor e sexo, e,
principalmente, finais felizes. Alguém precisa de um final feliz nessa vida.
Lee deu um sorriso de canto sem
mostrar o dentes, descansando a cabeça na parede de pedras entrepostas e
observando o céu cinzento e frio que por um instante pareceu-lhe a única
lembrança que tinha dos dias claros e quentes do verão.
Minha reação:
ResponderExcluirhttps://2.bp.blogspot.com/-rCUm-ocDwIA/V60MqkFIS0I/AAAAAAAAKZ4/L76ZrK-5Z0Q3WOGpnUXGiWNXEV9I-1MZgCPcB/s1600/jsjsjs.png
Apesar de ter quase chorado, tecnicamente a desgraça me fez amar ainda mais a Hayley e gostar mais do Lee. :3
Estou sem palavras para analisar a porra do que acabou de acontecer... Por isso só vou dizer o típico:
Muito bom o especial! Eu quero ler mais! (apesar de não ter entendido algumas palavras) kk
Eu vou ser fã dos livros da Hayley, aquela raposa safada...
Fico feliz que tenha aprovado essa conclusão da história do Lee e da Hayley! Mandei para minha irmã ler e ela também disse que quase chorou, se com um especial simples de três capítulos eu tive essa proeza, então estou no caminho certo! kkkkkkkk Costumo dizer para as pessoas que quando consigo causar essas diferentes sensações no leitor significa que atingi a minha meta, se vocês terminassem de ler esse capítulo sem sentir absolutamente NADA, então eu teria falhado completamente como escritor. Gosto de fazer as pessoas rirem e chorarem, se apaixonarem e sofrerem pelos personagens, tudo isso faz parte dos sentimentos que quero passar com meu livro, muito mais do que simplesmente escrever palavras bonitas.
ExcluirEste especial teve mais de 7000 palavras, seria o equivalente a umas 15 páginas no Word, no meio de tanta coisa imagino que algumas palavras mais abrasileiradas tenham confundido a sua cabeça kkk Bom, mas o importante é que você gostou e já posso considerar o primeiro especial um sucesso, ele irá abrir portas para outros que virão e ainda me ajudou a melhorar alguns pontos falhos no roteiro do livro, por exemplo, eu não imaginava que a galera iria gostar do Hugh, nessas horas me ajudou muito ter postado o especial aqui e lido os tantos comentários de vocês!
Obrigado por ter me apoiado neste início da jornada, vou continuar dando o meu melhor e trazendo novidades sempre que possível :)
No capitulo anterior eu disse que eu achava a relação entre Hayley e Lee de pai e filha,agora estou tão confuso que vou deixar a foto de um Fakemon muito interessante de Pokemon Quartz : http://lparchive.org/Pokemon-Quartz/Update%2042/6-PKMNQUARTZ_36.png
ResponderExcluirIsso vai fazer uma conexão muito boa no livro,estou ansioso para ver a reação do Ralph quanto a isso,ele é um garoto inocente e que até o primeiro livro (Pelo que foi revelado) foi feliz , já a Hayley e o Lee são opostos disso
'' — Ei, Lee... ''
https://www.youtube.com/watch?v=Q6m6kVwCeo0
The Shipp Intesifies! kkkkkkkkkkk O meu intuito é sempre deixar isso muito aberto, quero que o livro tenha diversas opções de casais e que os próprios leitores digam qual combina mais. Eu tenho os meus preferidos na cabeça, mas dependendo de como for a repercussão de cada um tudo pode mudar. Lee e Hayley para mim era um romance absoluto, depois de escrever esse especial minha visão sobre eles mudou, e não faço ideia de como isso vai repercutir depois que o livro for lançado.
ExcluirEsta parte do passado é realmente muito importante para o livro, quem for atento vai conseguir perceber inúmeras conexões, inclusive o desfecho da pequena caixinha que o Hugh deixou para trás. Na verdade nem tudo será solucionado, digamos que ainda haverá um novo especial, e dessa vez falando sobre Hugh e os filhos dele, e este por sua vez também se conetará com o passado do Lee. No fim das contas, tudo se conecta!
Quando o Ralph encontrar o Lee e a Hayley terá se passado quase 2 anos desde esse incidente. O Lee já terá se acostumado mais com sua perna manca e os dois terão iniciado sua viagem atrás da feiticeira. É um encontro bem legal, principalmente por causa disso que você comentou do Ralph ter uma visão sempre alegre do mundo enquanto os outros já sofreram bastante. Mas acredito que eles possam se ajudar e aprender um com o outro, ou eles não iriam simplesmente seguir um moleque doido com uma espada de madeira por aí kkkkkkk
" — Trata-se de uma feiticeira que mora na Ilha-S, localizada na província de Myriad. Mas já vou avisando que ela é uma bruxa terrível, dizem ela é capaz de congelar sua alma e prendê-la num jarro para que nunca mais ame alguém, seus feitiços quebram corações, e...
ResponderExcluir— É a sua ex-esposa, não é?"
Cara, essa doeu! Do jeito que você descreveu a mulher, e o jeito que Lee respondeu a Hugh, eu não pude deixar de rir, e embora a ex-mulher de Hugh tenha sido uma feiticeira, coitada dela man!
Prosseguindo, cara, essa parte 3 tá cheia de referência, hein? Se bem notei, você colocou diversos fatos que podem dar dicas do futuro...
Novamente mudando de assunto, Canas, sobre a relação de Peter Lee e Hayley, como já dizia mestre O'Donnel (<- piada péssima, não discuta): ...agora estou tão confuso que vou...etc,etc e etc.
Bem, por fim queria pedir se você gostaria de conferir um conceito inicial de algo que planejo fazer, e tá aí o link do blog daquela história que planejo fazer, não é nada extravagante, mas não tá lá muito lixoso:
https://earthpowerssaga.blogspot.com.br/
Bem, té mais!
Ah, ainda veremos se essa feiticeira é mesmo uma feiticeira maligna ou não! E para ser bem sincero, não pude aproveitá-la no livro, então só poderei apresentá-la em um especial aqui do blog que seria uma continuação desse do Lee, pois nesse eu mostrarei o passado do Hugh e qual é a sua conexão com a jornada principal do Ralph.
ExcluirCara, tem muitas referências mesmo, todas as três partes na verdade contém pequenos trechos que farão mais sentido para quem leu o livro, mais tarde eu atualizarei esses detalhes principais na ficha dos personagens junto de um resuminho, então vai ficar fácil de olhar na frente e pensar: Caramba, agora isso faz sentido! kkkkkk E agradeço a vocês por terem opinado na relação Lee x Hayley, isso com certeza influenciará em projetos futuros!
Poxa cara, e que maneiro que você decidiu fazer um blog para suas histórias agora! Vivo tentando convencer a galera a criar um para nos ajudarmos nessa jornada, eu dei uma passada bem rápida por lá, mas ainda não parei para ler o conteúdo já postado. Em breve apareço por lá para comentar! Depois vê se consegue bolar um button para fazermos uma parceria, gosto de deixar esses blogs com um conteúdo semelhante reunidos e vivo acessando diariamente para dar uma olhada nas novidades kkkk Mal posso esperar!
Tentarei fazer um button e tals, mas posso demorar, pois sou péssimo em construção de blogs.
ExcluirE cara, o que comentei da feiticeira foi nem o fato de ela ser má ou não, é que a descrição do Hugh me lembrou aqueles caras que reclamam de suas mulheres, tipo: "Aquela bruxa de coração frio! Nem ao menos me deixa blá,blá,blá..." Sacas?
Miriad ,Miriel ,Ilha - S ,eu sinto cheiro de referencia( Eu to ligado que um dos antagonistas é baseado nos Grimleal,então se eu errar essa,não faz diferença )
ExcluirEu não sou um Mestre,sou apenas um Aprendiz ,quando você joga jogos como FE e le fanfics de Pokemon,você aprende como analisar Shippings
Um novo blog de historias com base medieval para eu acompanhar ,isso me lembra a fase de uma antiga poeta
'' Bem loco,impolganti ''
Se precisar de ajuda com um button eu posso te ajudar, Sir. Sou eu que tomo conta de todos os templates dos blogs da Aliança, então alguma coisa devo ter aprendido kkkk Aí se quiser me manda um e-mail mais tarde com suas ideias e algumas imagens para eu tentar montar um button em formato de GIF.
Excluirkkkkk Ah, sim. Na verdade ainda nem deixei claro o motivo deles terem terminado, se o Hugh fala isso da ex-esposa com ironia ou se realmente achava que ela era uma bruxa. Mas vai ser legal ir descobrindo isso, espero conseguir começar a escrever a história deles o quanto antes.
Este meu universo realmente tem muita influência de Fire Emblem, Donnel, mas num geral são ideias mais simples kkkkk Os Antagonistas não chegam nem perto de uma organização como a Grimleal, eles são intitulados a "Ordem do Selamento", mas têm propósitos bem mais pacíficos kkkk É que o pessoal só começou a conhecer FE agora, mas foi um dos jogos da minha infância!
Quantos mais blogs com historias do pessoal, melhor! Bem vindo ao ''clube'' Sir! kkk
ExcluirEu também ando a tirar o juízo a alguns amigos para criarem blogs onde podem escrever e falar de seus projetos, quem sabe se algum dia não criamos por ai um género de ''Aliança'', sei lá, para reunir pessoas e ajudar/apoiar nos vários projetos de alguma forma.
7000 palavras, equivalente a umas 15 páginas no Word?
Canas, qual o tipo de letra e o tamanho que usa (tanto nos especiais como no livro)? Só por curiosidade kk Já que isso influencia muito o espaço usado. Eu uso o tamanho 12 e o óbvio tipo de letra Times New Roman kk comigo 7000 palavras da para umas 11 paginas...
Eu sinceramente estou cansada de ver Bruxas com o habito de serem totalmente malignas, mais uma daquelas coisas para mim repetitivas, comuns e tão chatas como os Elfos, Anões ou Orcs sendo raças humanas principais dos universos... Ainda bem que já esta a melhorar a situação, e as Bruxas aos poucos não são assim tão más nas historias...
Eu ultimamente ando a ler muita coisa sobre Magia e Bruxaria na vida real, dá umas ideias bem interessantes, e conhecer elas sem um ''toque de Cristianismo'' mudou por completo a minha visão sobre aquela arte que elas fazem. Não é só feitiços nem maldições, é falar com o próprios deuses, entidades espirituais entre outras coisas, eu achei isso muito fantástico! Mas é pena que a maioria das pessoas ainda é ignorante no assunto e não sabe ao certo como são as bruxas verdadeiras (são praticamente humanos normais, e não voam em vassouras, entre outras coisas), por um lado ainda bem que poucos acreditam ou não pesquisam, porque assim seria todas as pessoas com maldições umas as outras...
E já agora... Ela é Bruxa ou Feiticeira? Os nomes são usados para a mesma coisa basicamente porque todos confundem, mas quando vamos estudar o significado vemos que são coisas um pouco diferentes tipo... Bruxos fazem magia e acreditam em Deuses e talvez praticam alguma religião... Feiticeiros apenas fazem magia, feitiços, maldições e não acreditam em deuses, acho que a diferença básica é esta. Tecnicamente é a mesma coisa e só interessa que eles praticam Magia, mas é que eu fiquei confusa agora kk.
Gostei muito da ideia de uma Aliança para esse tipo de projetos, e para ser bem sincero já pensei sobre isso diversas vezes kkkkk Na verdade é a mesma forma como a própria Aliança Aventuras sempre funcionou, são um grupo de amigos com um interesse em comum e que ocasionalmente se ajudam em suas histórias! :)
ExcluirDei uma olhada no capítulo aqui e ele tinha 7284 palavras, Shii. Times New Roman 12, totalizando 17 páginas. Teria ficado em torno de 11~12 páginas se eu não usasse o espaçamento de 1,5 cm entre as linhas kkk Por isso que o pessoal computa mesmo pelo número de palavras, até porque em cada formato o número de páginas varia bastante de autor, a forma em que trabalho e tudo o mais. Tem gente que escreve pelo InDesign, que é um formato mais profissional de edição de livros. Eu gosto bastante do Zen Writer, já ouviu falar? É um programa que serve para escrever enquanto fica tocando uma musiquinha tranquila no fundo :3
Olha, eu não fazia ideia dessa diferença entre bruxa e feiticeira! Agora que entendo mais esse critério, posso afirmar que a ex-esposa do Hugh é uma feiticeira, a única vez que utilizei a palavra "bruxa" no capítulo foi quando o Hugh estava falando dela, mas justamente para dar o sentido de que ela era muito malvada kkkkkk Não sei se tenho alguma bruxa mesmo no livro, todos meus personagens usuários de magia estão mais para Magos e Feiticeiros, mas não participam diretamente de alguma religião como você citou. Acho que é a mesma diferença entre Fantasmas e Espíritos, sei que os fantasmas são geralmente pessoas que deixaram algo incompleto nessa vida e costumam ser tímidos e esquivos; enquanto os espíritos gostam de assustar e aprontar, e muitas vezes com maldade. São coisas realmente interessantes!
Canas, ia ser ótimo se pudesse ajudar com os buttons! Agradeço bastante se puder fazer este imenso favor. :D
ExcluirDonnel, vou avisar porque não quero decepções, mas não será uma aventura medieval. Será algo mais como um contemporâneo, mas com elementos de magia, ficção e etc, mas sem perder o fato de que não ocorrerá somente em um plano material, podendo assim ter regiões de períodos de tempo diferentes.
Shiny, aliança? Que tal... Hummm... "Aliança das Mil Linhas"? Ou até algo tipo "Os Escritores Dos Dedos Doloridos"? "Clube dos Sete (faltam quatro)"? Parando a piada (que foi péssima), a ideia parece bem legal. Tem muita gente que faz histórias bacanas e tem medo de compartilha-las com outros. Mudando de assunto, não sabia que havia tal diferença entre bruxas e feiticeiras! Esses pequenos detalhes fazem a diferença, muito obrigado por compartilhar esta informação com a gente Shiny!
Eu achei os antagonistas baseados nos Grimleal por causa dos olhos,que parecem os detalhes da roupa do Robin com '' Tactician/Grandmaster '' e a do próprio Grima ,meu maior objetivo no livro vai ser encontrar todas as referencias do mundo de FE
ExcluirComo seria uma aliança com esse tipo de projeto,se vermos a Aliança Aventuras,todas as Fanfics/Historias se passam no mesmo universo ,agora,uma aliança cheia de universos diferentes ,não sei como seria
Eu não acho que Orcs ,Elfos,Anões, Bruxos e outros personagens medievais repetitivos,e sim a forma que eles são usados,porque não botar Orcs como protagonista e não como um ser burro que só presta para ser esmurrado pelo protagonista no inicio da historia,ou o Elfo como um humano suber-sabio é não um ser traicoeiro e não muito forte ,mais é aquele negocio ,pra que mexer no time que ta ganhando (Não é mesmo filmes com Jornada do Heroi ? )
Por acaso essa foi uma boa observação senhor das pacas! Tanto sobre a Aliança como sobre os Orcs, Elfos...
ExcluirEu acho que essas raças estão repetitivas não só da forma como são usados, mas também sobre a sua presença nos universos, eu não tenho grandes coisas contra, apenas acho que quem usa estão sem criatividade, e fica meio cansativo de os ver sempre, na Mitologia existem milhões de outras criaturas que podiam ser bem interessantes como raças humanas, que tem potencial, e praticamente a maioria dos universos de fantasia escolhem esses... Eu sei que quem os usa é porque gosta deles, mas eu amo dragões e estou me sacrificando na fogueira para não encher a minha historia com eles, porque... Quero que vejam meu universo como algo completamente novo e não como uma cópia de outros universos cheios desses bichinhos, se é que entende...
Sobre isso da Aliança pode ser um problema, mas talvez é fácil resolver, tipo... Olhe para Pokémon, tem os jogos Spin Off, baseados em Pokémon mas que não são a mesma coisa e não tem relação com os jogos da serie principal, a Aliança seria basicamente isso, um conjunto de blogs baseados no mesmo propósito, partilhar historias. Talvez precisamos de opinião de outras e mais pessoas sobre o assunto...
Porque não Aliança Da Fantasia, Aliança Era uma vez, Aliança do Fantástico, Aliança dos Contos, Aliança Contadores de Historias...
Ok... Eu sou péssima com nomes...
Sobre isso dos Bruxos, Feiticeiros, eu acho que Magos também são diferentes desses, mas agora não tenho certeza.
Já agora... os Dragões, Drakes e Wyverns, estão classificados como sendo todos Dragões mas tecnicamente não o são.
Já os Long Dragons (Dragões asiáticos), são mesmo classificados como dragões. Acho eu...
Master of http://globorural.globo.com/edic/277/balaio_12.jpg , ótimo ponto sobre as raças! Tipo dragões, normalmente são postos como seres inabaláveis, que destroem continentes ou então como grandes sábios, que nada sentem. Mas você imaginaria um dragão como um bicho inocente, com sentimentos humanos, aprendendo como é o mundo, descobrindo as coisas do cotidiano, que está vivenciando novas experiências como o amor, que se envergonha, e que como nós, também tem medo, zelo por suas amizades e etc? Pois é, teve alguém que sim. Embora não lembro o nome da novel, teve um autor que escreveu algo mais ou menos neste estilo. Pena que não lembro que blog traduzia. ;-;
ExcluirOutro exemplo também são os protagonistas de web novels chinesas, que para o ocidente seriam bem diferentes do que estamos acostumados. Aqui nós só vemos heróis cheios de glória ou tragédia, mas lá os protagonistas não são gente cheia de misericórdia. Você vê, como por exemplo em Against the Gods ou em Battle Through The Heavens que os nossos "heróis" matam sem piedade nem dó, tendem a ser exagerados em certos casos, chegam a roubar itens de grandes autoridades e também desafiar e ter inimizades com diversas pessoas ou seres de maior poder. Além de claro, serem gênios no "cultivo" (entenderão caso leiam).
Mas resumindo, é como disse O'Donnel, por que não um Orc protagonista ou um elfo ser um humano super-sábio? Ou indo mais longe, por que um goblinn não seria o protagonista de uma história onde ele é o dono de uma casa de chás? Ou um Troll ser protagonista de uma história onde ele busca ser o maior ferreiro de todo o continente?
É porque o medo de inovar as ideias é grande, como já falaram, não se mexe em time que está ganhando.
Aliança do Fantástico, gostei do nome, soa muito bem. Só falta como diz o outro fazer o blog e perguntar quando começa. E pensei numa coisa, poderia ser um conjunto de blogs, cada um para um tema, tipo: Fantástico Medieval, Fantástico Steampunk e etc.
ExcluirE Shiny, o que colocou sobre os dragões que eu me lembre está correto, só posso acrescentar que existe um ser chamado Imoogi, da mitologia coreana se não me engano, que embora pareça um dragão, ele é considerado um falso dragão lá. Sim, um falso dragão.
Poxa, falando em qualquer coisa de ideia ou blog, que tal um de nós começar uma história, e do ponto que esse parar, por bloqueio ou por limite de palavras, o outro continuar e assim por diante?
ExcluirSe eu fizer uma historia um Orc/Troll/Goblin vai estar entre os protagonistas,isso com toda a certeza,os outros eu nunca tive tanto interesse em trabalhar
ExcluirAliança do Fantástico,que conta a historia do Balão magico que é super fantástico que deixa o mundo bem mais divertido,e as pessoas envolvidas são felizes por isso elas estão ali e querem viajar nesse balão ?
Dragões sempre são legais ,porem ter um dragão como ser mitologica é muito cliche,eu odeio cliche ,eu gosto de coisas novas e ideias novas
Hey Donnel, então por que não tenta? Como diz o outro,
Excluir"- Façamos então do Orc... Um herói! - falou o rei aos súditos.
O povo aplaudia o grande guerreiro que estava ao lado de seu governante. Não humano, mas humanoide, de pele verde, grande porte, cabelos raspados e face com diversas cicatrizes, além de um olhar de mau. Este era Durgogg Ferion, o Orc, herói do reino...
Mas... Como isso ocorreu?"
Cabei animando e escrevendo um pequeno prólogo. :P
Mas bem, essa do Balão Mágico foi prosa... Só mestre O'Donnel, senhor das pacas e dos Montes Zueira, localizado no meio da Cordilheira dos Memes, ao norte do Vale da Prosa e ao sudeste dos Campos das Piadas.
Donnel, perguntinha básica. Tu parece gostar de novels (vi um comentário seu sobre Strike the Blood, que tô caçando até hoje a novel online, porque o anime é incompleto e modificado), então, você chegou a ler Overlord (Suseranoo)? Se sim, posso dizer que deve cheio de personagens estranhos a sua própria forma. Afinal, uma Succubus virgem que cheira a cama de um rei caveira não é normal né?
ExcluirStrike the Blood foi,uma pesquisa de um personagem chamado ''Christoph '' e '' Nagisa '',Overlord eu escutei sobre em um video sobre Animes baseados em RPG
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