sábado, 22 de julho de 2017

Capítulo 7.5 - Besouros Selvagens [Cena Deletada]

Todo livro precisa sofrer inúmeros cortes antes de ser publicado. Faz parte do processo de revisão do próprio autor rever quais capítulos são realmente importantes para o andamento da história, detalhes que só encontramos depois que o livro já foi finalizado. Com isso, o blog traz as Cenas Deletadas como um extra para os leitores mais curiosos.

Esse pequeno trecho não foi revisado e nem sofreu grandes ajustes desde sua versão inicial. A cena foi retirada do Capítulo 7, após a chegada dos protagonistas na Ilha dos Geckos, entre o roubo dos pertences de Auria e o encontro com Lesten.

No trecho, vemos apenas a presença de insetos gigantes que habitam a Ilha dos Geckos, um dos monstros mais primitivos de Sellure. Há também outras cenas que envolviam besouros no livro, provavelmente isso se deve a certo fascínio do autor por essas criaturas, mas quase todas foram retiradas.


BESOUROS SELVAGENS
As Histórias Perdidas - Cenas Deletadas

Ralph lutava para acompanhar a desbravadora que parecia mais irritada do que de costume. Como se não bastasse estar em território inimigo, ainda tinha de lidar com ladrões que levaram suas armas e equipamentos tão preciosos.
— Há selva para cada canto que olhamos, como essa espécie miserável consegue viver em um local tão pouco industrializado? — a moça reclamava golpeando algumas árvores na tentativa de encontrar algo para comer, mas sem sucesso.
— Bem, cada um vive com o que precisa. Geckos preferem não interferir na natureza, ela é importante demais para eles. Se continuarmos destruindo nosso mundo a temperatura vai mudar, e isso vai afetar a todos. Por isso os Geckos criam trilhas e seguem mais o olfato do que a visão, é melhor do que sair destruindo tudo — explicou o companheiro, acompanhando sua amiga.
— Ei, está sentindo esse cheiro? — disse Auria, franzindo o cenho. — É gostoso.
Ralph sentiu a barriga roncar.
— Você também está com fome? — ele sorriu para ela que concordou, começando a procurar a fruta que exalava aquele aroma tão bom.
Auria encontrou algumas frutinhas silvestres, de folha estranhamente arredondadas e frutos amarelados, com um caroço duro em volta. Ela colheu alguns e cheirou-os, apaixonada pelo aroma. Jogou uma para Ralph e abriu outra para provar. Eles comeram o que havia dentro enquanto sentavam-se de pernas cruzadas e descansavam da longa caminhada que já se estendia por algumas horas.
— Hm, o cheiro é melhor do que o gosto — Auria falou de boca cheia, um pouco descontente com o fruto. — Essa coisa é horrível.
— Talvez seja porque o cheiro vinha de outro lugar...
Ralph parou de comer no momento em que viu algo subindo nas costas da mulher. Ele lentamente agarrou sua espada de madeira, o que fez Auria erguer uma das sobrancelhas.
— O que pensa que está fazendo?
— Não se mexa. Tem um besouro gigante nas suas costas.
Provavelmente o garoto esperava um enorme alarde por parte da moça, mas Auria manteve-se parada. Com a ponta da espada, Ralph pegou o bichinho para examiná-lo com certo ar de interesse. Adorava insetos.
— Que droga é essa? É de comer?
— Isso é um Besouro do Cheiro, que por sinal vem dele — Ralph o identificou. — Eles atraem suas presas com esse aroma. Nós costumávamos estudá-los nas aulas de sobrevivência onde eu morava. Deve haver aos montes nessa ilha. Conheci um velho senhor que os cultivava como produtos comestíveis.
— Hm. — Auria murmurou entediada, apoiando seu cotovelo sobre o joelho enquanto encarava o pobre inseto mais de perto. — E é bom?
— Eu nunca experimentei. Você quer? — Ralph o esticou para a mulher que fez uma careta e afastou o bichinho. — O cheiro é gostoso, né? Não é a toa que ele atrai um montão de presas diferentes.
Logo, Auria teve uma ideia.
— Me ajude a encontrar mais alguns desses. Vamos montar uma armadilha!
— Não vai funcionar — disse Ralph, meio pensativo.
Auria desconfiou.
— Como pode dizer isso sem que eu nem tenha comentado minha ideia?
— O capitão contou que deveríamos evitar essa parte da floresta, esqueceu? Não estamos lidando com nenhum bicho, quem roubou a gente deve ter passado por aqui o mais depressa que pôde, veja como os rastros são manchados... Alguém estava bem apressado.
— Ou fugindo de alguma coisa —  Auria concluiu.
Ralph colocou o besouro no chão e examinou-o atentamente.
— Há besouros que possuem chifres e os que possuem mandíbulas para cortar e dilacerar suas presas. Já ouvi boatos até mesmo de besouros que carregavam uma lança no lugar do chifre, de tão grandes que eram! Imagina como seria ver um desses gigantes? Seria o monstro mais surpreendente de todos.
Auria percebeu que havia todo o tipo de insetos diferentes ali, e alguns deles pareciam realmente ameaçadores com suas presas. No Reino de Sellure, insetos enquadravam-se na raça dos monstros, porque alguns eram tão grandes que poderiam destruir cidades inteiras. Suas carapaças eram blindada e alguns suportavam até oitenta vezes o seu peso. Se o ambiente permitisse, seu exoesqueleto continuaria a crescer até que ultrapassassem qualquer barreira de tamanho comensurável.
Ralph parou de falar quando notou que agora eram eles que estavam sendo observados.
— Ei, Auria. Está ouvindo isso?
— Algum sinal do ladrão? — indagou a garota.
— Não, não. Bem maior.
— Então do dia para a noite você decidiu virar um especialista em vida selvagem?
— Eu gosto de insetos, acho que aprendi a entendê-los muito bem. E sei muito bem quando estamos em desvantagem, abaixe-se!
Auria parou, voltando a olhar para seu companheiro com as sobrancelhas franzidas. Os dois esconderam-se atrás de algumas pedras quando um enorme besouro apareceu, carregando nas costas um casco tão duro e resistente que musgo e plantas pareciam nascer ali. Faltava uma de suas patas e sua carapaça era como uma armadura marcada por cicatrizes. Os pequenos besouros do cheiro que ali habitavam ajudaram a confundir a criatura que logo deu meia volta e voltou a seguir floresta à dentro.
— Você viu aquilo?! Eu quero um desses de estimação! — Ralph falou, extremamente empolgado.
— Isso explica porque essa região da ilha era tão pouco movimentada — sussurrou Auria, apreensiva.
Os viajantes notaram como seria assustador enfrentar uma criatura daquelas, caso o inimigo decidisse por usar insetos ao seu favor. Os dois imediatamente começaram a correr para bem longe dali, apertando o passo e perdendo a trilha somente para dar o fora da floresta.
— Qual o problema das pessoas que tentam comer besouros? — gritou Auria de forma eufórica. — E se eles se revoltam e decidem se vingar? Nem em mil anos eu conseguiria enfrentar um monstro desses!
— Dizem que eles têm gosto de banana, né? — Ralph riu, ainda correndo até que suas pernas não aguentassem. — Isso porque você ainda não viu um Besouro Gigas, e também o Besouro Bomba! Isso sim é de colocar qualquer exército para fugir! Será que são comestíveis também?
Os dois correram pela floresta na medida que a selva desaparecia e o barulho ensurdecedor da relva ficava mais baixo. O cheiro já não era tão forte, e Ralph e Auria perceberam que estavam por fim deixando o território daquelas monstruosidades que tentavam devorá-los para o almoço. Por sorte eles percorreram uma grande rota, e agora estavam no extremo leste da ilha.
— Eu odeio esse lugar — arfou Auria, exausta.



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