Capítulo 6
Os lagartos bípedes
que se esgueiravam pelo convés não estavam acostumados a receberem visitas.
Na última vez que
Auria vira um gecko pessoalmente ela tinha acabado de completar quinze anos e chegar
à Vila das Pérolas com uma de suas irmãs, ela avistou uma família de lagartos ser
expulsa após armar uma confusão sem medidas no mercado local por conta de meia
dúzia de laranjas. Por sorte, nunca temeu tais criaturas, de fato as achava intrigantes.
Eram guerreiros habilidosos quando brandiam uma arma — fosse espada, lança ou machado,
contanto que se mantivessem longe de magias sobrenaturais, ou terminariam explodindo
um arsenal inteiro.
Com porte mais
avançado e desenvolvido que os humanos, os geckos vestiam armaduras dos pés à
cabeça, como um reforço para sua pele resistente. Não cuspiam fogo como dragões,
mas alguns voavam, e eram tão cheios de suas estranhezas particulares que nunca
descobriram tudo sobre a própria espécie e suas origens ancestrais. Eram
desconfiados por natureza, tinham olhares expressivos e uma boca enorme, seus
dentes pontudos eram substituídos quando os antigos estragavam. Eles não
chegavam à altura de um humano, eram pouco menores, sendo que a maioria andava
meio encurvada. Suas cores variavam entre verde, carmesim, amarelado e azul
celeste; cada um demarcado por colorações e manchas que o tornavam singular.
Grande parte da
população humana pregava a rivalidade entre as raças. No passado, se algum
desconhecido tentasse adentrar o território sagrado dos geckos poderia dar
início a uma guerra. Geckos nunca foram famosos por sua boa educação, mas eram
esforçados e obstinados. A raça era dividida em outras espécies que envolviam
parentesco com crocodilos, salamandras, serpentes ou até lagartixas. Auria
ouvira dos marinheiros no porto que os lagartos eram seres rudimentares e arcaicos,
quem sabia o que poderiam fazer com os invasores?
— Ralph, eles
estão nos encarando, devem estar prontos para nos jantar — disse Auria.
Os geckos se
assustaram e recuaram ao ouvir a voz da mulher. Demonstravam um sinal de
surpresa equivalente, entreolhando-se confusos.
Por fim, o
primeiro homem-lagarto falou:
— Eles estão
armados. Será que vão nos atacar?
— Agora que os
vejo mais de perto não me parecem tão assustadores — afirmou o segundo.
— Eu nem sabia
que falavam a mesma língua que nós — respondeu o terceiro lagarto, causando
certo alarme entre os marinheiros presentes no convés.
Ao ver que todos
se compreendiam, Auria tentou tomar a frente, mas cada passo fazia com que os geckos
recuassem intimidados. Eles reuniam-se confusos e investigavam os humanos dos
pés à cabeça.
— Eu pensava que
as fêmeas tinham mais pelos na cabeça — comentou um gecko azulado. — Seus
dentes são tão pequenos... Como será que caçam?
— E eles vestem roupas.
Achei que andassem pelados, como aqueles na praia — afirmou outro.
— Humanos são
tão... tão... estranhos.
Aqueles geckos não
tinham contato com o restante do mundo. Limitavam-se a levar a carga para o
navio e partiam levando suprimentos sempre que o navio atracava à costa. Alguns
que nasciam na ilha chegavam a passar uma vida inteira sem deixar a metrópole e
por isso não conheciam nada do vasto Reino de Sellure.
Os lagartos
curiosos estudavam os visitantes de longe até que Ralph ousou pronunciar-se:
— Olá,
companheiros! Eu sou Ralph, da Espada de Madeira. Esta é minha companheira
Auria, ainda-sem-título. Vim de Helvetica e fui criado por uma família de geckos
no Vale dos Ventos.
— Um humano
criado em nossa cultura? — indagou um dos lagartos.
Dois membros do
convés aproximaram-se e pediram que seus conterrâneos abaixassem as armas. Melodia
estava estirada no chão e Ralph demonstrou que sua espada era de madeira, não
havia perigo algum. Auria recuou assustada com os lagartos que se aproximavam
aos montes, surgindo das paredes e até mesmo das partes mais altas. Eles não a
tocavam, mas vasculharam suas mochilas e pertences.
— Um humano meio-lagarto não se vê todos
os dias — disse um gecko. — O que é você? Um geckumano?
— O rei Ronem
Romenor, que construiu a Fortaleza da Pedra Azul, era um humano. E ele foi o
responsável por criar uma das maiores e mais belas cidadelas de nossa espécie,
de volta aos tempos que nossas raças ainda honravam as alianças — respondeu o
primeiro imediato do navio.
— Ele está certo
— disse um dos geckos azuis. — Nunca vamos nos esquecer das velhas alianças.
Chamem o capitão!
Os geckos empurraram
seus convidados para a cabine onde estava sentado um lagarto de mais idade, podia-se
notar pelas escamas desgastadas e descoloridas. Usava roupas de marinheiro que
se assemelhavam muito à dos próprios humanos, acompanhado de um chapéu branco e
um magnífico cachimbo entalhado com folhas de louro e com o aroma singular de
trufas e nozes.
Ele ergueu-se com
dificuldade e caminhou de um lado para o outro enquanto ordenava que os demais marujos
arrumassem a bagunça no depósito. A parcela de mercadorias perdidas no acidente
com os caixotes era insignificante, em troca haviam ganhado hóspedes e pareciam
gostar daquilo. Auria se escondia dentro de sua jaqueta cada vez que o velho
lagarto chegava perto para analisá-los.
— Vocês
garantiram uma oportunidade única para alguns dos marinheiros desta embarcação
— ele falou com uma longa e experiente voz. — Deve ser a primeira vez que alguns
conversam com um humano. E agora entendem que vocês não são tão aterrorizantes
e feios quanto dizem. — O velho soltou uma gargalhada rouca, era possível ver
todos os músculos de seu pescoço de réptil se contraindo.
O lagarto deu
uma tragada em seu cachimbo e soltou uma baforada no rosto de Auria, que
conseguiu enxergar uma língua gigantesca entre os dentes que faltavam em suas
mandíbulas.
— Eu sou o
Capitão Borkum — falou com a voz áspera. — O que buscam em nossas terras?
— Estou em busca
de uma equipe, gente forte e determinada com o intuito de sair em uma missão.
Desejo recrutar guerreiros na Ilha dos Geckos para uma causa maior. Quer entrar
no meu time?
— Estou muito
velho para essas coisas, meu rapaz... Mas aprecio sua determinação, Ralph, da
Espada de Madeira. Imagino que venha das terras do sul, não? Há anos não deixo
a Grande Ilha para ver o mundo lá fora... Bons tempos quando eu e meus amigos
velejamos nos mares de Sellure em busca de grandes aventuras! — o capitão coçou
seu pescoço onde havia uma cicatriz antiga. — Imagino que no centro da ilha você
tenha dificuldades em encontrar um guerreiro disposto a segui-lo em uma missão.
Nossos soldados estão fora, na guerra, como bem deve saber.
— Não é possível
que não tenha sobrado ninguém — afirmou Auria.
— Bem, bem... Se
procurarem a marinha local talvez eles possam indicar algum guerreiro autônomo
que ainda atue por estas bandas. Ou um mercenário, mas neste caso vocês teriam
que consultar seus serviços.
— Pretendo
procurar, capitão. Agradecemos a informação.
— Pelo menos o
senhor vai nos dar uma carona até a costa, certo? — indagou Auria. Ela ainda achava
que seria jogada pela prancha.
— Vocês já estão
em minha embarcação, o que posso fazer? Não esperavam que eu os prendesse com
cordas no mastro, certo? Quem sabe eu deva tirar alguns membros para palitar os
dentes, como os costumes antigos.
Auria recuou intimidada.
O capitão do navio bateu a mão na mesa com força, sua gargalhada rouca ecoou
por toda a cabine.
— Fiquem
tranquilas, crianças — disse Borkum. — Mas mantenham um olho atrás assim que pisarem
em nossa ilha. Nem todos confiam em vocês, por isso sugiro que também não
confiem plenamente em nós.
i
Duas longas
horas se passaram até que o navio fizesse seu percurso rumo à Ilha dos Geckos. O
transporte de alimentos e instrumentos era frequente naquela época do ano, e
apesar de não ser a capital da província, a Grande Ilha como seus habitantes
chamavam era um dos pontos mais populosos de Sellure.
Ao chegar ao
cais, Ralph e Auria puderam deparar-se com uma verdadeira metrópole. Com uma
avançada capacidade criativa e adaptativa, geckos revelavam-se inventores com
ideias sustentáveis de sobra para distribuir. Uma enorme estátua feita de
minério antigo podia ser vista sobre o rochedo como um símbolo de boas vindas.
Ralph reconheceu a figura no mesmo instante, pois se tratava de um lagarto com
duas enormes asas negras nas costas, descendente da linhagem dos dragões. Era a
imagem de Tokay, um dos três guerreiros lendários de Sellure.
Cabanas de palha
eram construídas aos montes na costa, abrigando um dos pontos de maior movimento.
Bares, restaurantes, lojas e barracas que vendiam bugigangas para os turistas que
pagavam os olhos da cara num simples artesanato feito de conchas — não era tão diferente
das cidades litorâneas que conheciam.
No quesito de
moradia, as casinhas erguiam-se uma em cima da outra, feitas com produtos
primários e madeira de incrível resistência. Alcançavam as alturas e se interligavam
por cabos e teleféricos de uma maneira muito prática para locomover-se. Alguns
dos geckos nem desciam para o chão, preferiam pular e escalar de uma construção
a outra. Geckos sabiam como equilibrar o planeta e tinham noção de que quanto
mais o devastassem, mais colaborariam para sua própria destruição. Diferenças
climáticas, por menor que fossem, afetavam seu progresso, por isso eles procuravam
expandir seu poderio sem afetar o ecossistema. Os humanos pouco se importavam,
quanto mais obtinham poder sobre as demais raças, mais se gabavam de sua
superioridade.
Uma cadeia de
montanhas rodeava as pontas da ilha, erguendo-se como garras de uma criatura
feroz pronta para proteger sua cidadela. Tudo era muito verde numa mistura de
avanço e natureza harmoniosa. A praia era limpa e movimentada, cercada por
coqueiros e palmeiras que contornavam até onde os olhos alcançassem. A ilha era
um dos lugares mais belos da grande Sellure.
Os marinheiros
começaram a descarregar seus produtos do navio. O capitão aproximou-se de Ralph
com o cachimbo em mãos e explicou-lhe como funcionavam algumas das regras na
ilha, só por precaução.
— Se me permite
um conselho, marujo, pelo que venho observando, você é do tipo bem excêntrico,
então se mantenha longe do perigo, ouviu bem? Siga pelo oeste e evite transtornos.
— Pode deixar,
capitão!
— Também fiquem longe
do centro. Nosso povo é hospitaleiro e bem-humorado, mas evite o inesperado. Vi
brigas violentas começar por conta de um viajante que acabou onde não devia em terras
estrangeiras.
— Mais uma vez
agradeço pelos conselhos, meu senhor — disse o rapaz.
— Que os ventos
os acompanhem diante deste mar celestial e que nunca faltem boas notícias em sua
aventura.
Eles agradeceram
a ajuda dos amistosos geckos e desembarcaram sem chamar muita atenção. Pularam
do navio e foram escondidos por baixo da ponte no cais, até chegarem a uma área
longe o suficiente do ciclo e do movimento intenso.
Ambos
continuaram seguindo pelas calçadas desenhadas do litoral. O caminho pela costa
estava pouco movimentado, o mar encontrava-se manso e uma brisa leve soprava em
seus rostos. Alguns geckos que passavam olhavam para os visitantes com
indiscrição, achavam os humanos intrigantes com todas suas vestes pesadas e os
pelos na cabeça.
— Qual o perfil
de guerreiro que estamos procurando? — Auria perguntou. — Você está pensando em
contratar um mercenário para protegê-lo? Porque, para ser sincera, eu não acho
que essa sua espada de madeira vai servir. E eu nunca feri ninguém.
— Eu quero
alguém engraçado. — Ralph foi sucinto. — Estou precisando dar risada.
— Mas como
saberemos se encontramos a pessoa certa?
Ralph parou e
virou-se para ela, encarando seus olhos esverdeados de baixo para cima.
— Sei lá... Acho
que a mesma coisa que senti quando vi você.
Auria corou
envergonhada e deu um forte empurrão no ombro do amigo.
— Ah, você até
que é fofo de vez em quando, sabia?
Ela o empurrou
com tanta força que Ralph tropeçou em um amontoado de cordas, saiu rolando pelo
píer de madeira e caiu no mar. Ela arregalou os olhos e saiu gritando na mesma
hora.
— Será que você
só sabe se meter em encrenca?!
Foi até a beirada
e olhando para baixo desejou que o pobre coitado ainda estivesse vivo. Tirou
sua jaqueta de couro e seus demais pertences, apertou o cinto e ficou apenas de
camisa branca e shorts. Deu um belo salto,
caindo direto na água salgada do oceano. Ela mergulhou e buscou Ralph que
engasgava e engolira tanta água a ponto de desmaiar. Trouxe-o em segurança até
a areia da praia, onde ambos se deitaram de barriga para cima.
— Você não sabe
nadar — Auria concluiu.
— Não é que eu
não sei nadar, eu odeio água — Ralph
respondeu, estremecendo só de lembrar-se da sensação. — Os geckos com origem
próxima aos crocodilos são exímios nadadores, mas eu sou do lado terrestre. Eu
fiz de tudo para aprender, mas não deu... É uma longa história.
— Você não é um gecko,
Ralph, é um humano! O mínimo que precisa fazer é seguir a evolução e aprender a
nadar.
— Nunca tive
ninguém para me ensinar, mas se você tiver interesse...
Auria deu uma
olhada ao redor para certificar-se de que ninguém os observava, tirou sua camiseta
molhada na tentativa de secá-la e ficou apenas de top.
— Importa-se?
— Fica à
vontade, estou mais preocupado em sobreviver — Ralph respondeu ainda ofegante.
Sua calça estava
pingando, o sabor salgado do mar misturava-se ao seu suor, ela devia estar
passando muito calor debaixo de todas aquelas roupas. Auria tinha um corpo
atlético, três anos no curso a fizeram ficar mais encorpada do que qualquer
outra garota que acabava de chegar para iniciar os treinos. Aos olhos de Ralph,
continuava deslumbrante.
Quando a moça voltava
ao píer para buscar sua mochila e roupas secas, deparou-se com um imprevisto.
— Era só o que
me faltava...
— O que houve?
— Esses lagartos desgraçados roubaram as minhas coisas,
eu sabia que não eram assim tão amistosos quanto imaginei! — Ela bateu os pés, inconformada.
— A minha jaqueta preferida estava lá e a Melodia também!
— Você devia ser
mais cuidadosa... — Ralph
começou, mas quase foi agredido. — Q-quero dizer, isso só aconteceu
porque você precisou me ajudar, então eu prometo que vamos encontrar. Geckos
são famosos por pedirem coisas emprestadas e nunca devolvê-las, convivi tempo o
suficiente com eles para saber disso.
Olhando para o
chão, eles notaram que as pegadas que se formavam na areia eram recentes. Não
estavam nem um pouco dispostos a perder aquela oportunidade.
— Sinto que estamos
prestes a iniciar uma caçada. Vamos atrás de alguns répteis asquerosos.
Auria puxou o
braço de seu companheiro para que seguissem as pegadas que se formavam. Partiam
na busca por seus pertences roubados, sem perceberem que adentravam fundo na
selva densa ao norte da ilha. Logo os répteis asquerosos seriam o menor de seus
problemas.
Adorei os Geckos! :3
ResponderExcluirMas, este Capitulo, em comparação com os outros, não está, muito pequeno? kkk
Geckos! Minha raça principal, me acompanhando desde que eu era pequeno. Chegou a hora de finalmente apresentá-los ao mundo kkkkkkk De lá para cá sofreram algumas modificações, antes eram apenas bichinhos fofos, mas creio que a essência de serem curiosos e irritantes foi mantida.
ExcluirSe compararmos com os dois últimos, sim, ficou curtinho. Na verdade, essa era a média de palavras que eu queria manter nos capítulos, algo em torno de 2500. Acho que o Capítulo 1 e o 3 tiveram esse tamanho também, enquanto os outros ficaram entre 4300 e 4800. Mas esses que ficaram maiores foi porque eu acabei juntando dois capítulos, às vezes porque eu precisava de um novo desfecho e em outros casos porque parecia apenas enrolação. Mas provavelmente a média de palavras por capítulo do livro seja de 3500.
O importante é contar o que deve ser dito, né? No caso desse, eu queria apenas introduzir os Geckos como uma raça inédita e falar um pouco sobre a cultura :)
Canas, desculpa o atraso, mas é que eu fiquei absorvido em algumas novels e cheguei a ficar bastante tempo sem acompanhar tudo.
ResponderExcluirMas bem, interessante este capítulo, fiquei pensando se devo desenhar o capitão do navio ou não... Mas espero que o caldo engrosse agora, se bem me entende...
Eu já estava estranhando a sua demora, companheiro Sir! kkk
ExcluirEsse capítulo foi bem transitório mesmo, agora que estou trabalhando com o formato de livros estou tentando não me prender muito ao estilo de fanfics que eu usava com começo, meio e fim. Na época de Sinnoh, eu tentava trazer um acontecimento inédito a cada capítulo sem a necessidade de abrir um gancho pro próximo (com exceção dos capítulos finais e dos arcos de batalha como A Grande Criação. Ainda sinto orgulho deles kkk)
Olha, o capitão do navio foi um personagem só de passagem, tanto que ele nem tem nome. Não sei se voltaremos a vê-lo, mas se quiser mostrar como o imaginou seria muito bacana!
LOOOOOOOOVE the way you described the geckos man, just how unique and wild these fellers are, how they even haven't tapped into their full potential while still being around far longer than humans! It really is a fantastic way of opening up this world and giving it this depth that makes series like LOTR so damned epic. Well done, bravo sir.
ResponderExcluirLove as well the end and how it sets up more action, and even showing off some of Auria's goddess body. Hehehehe, I'm with Ralph here, lucky litte feller. ^0^
Dude, those geckos are so important to me! They are the first creatures I ever created (sort of, they were based on a race of Zelda Oracle of Ages called Tokays hehe), but I felt like they were mine. For a 10 years old child, it was the first sign of a different world, something of my own.
ExcluirIf I'm still drawing to these days, it's because of them. Long before the waifus, eveything I used to draw as a child were those lizards. I'm happy to finally share them with the world!
I think we deserve an art showing more of Auria's body, don't you? ( ͡° ͜ʖ ͡°)
That's so cool and amazing dude! The fact that you started that early just shows that you were MEANT to tell this amazing story man, and from what I can see, people all over the world are gonna be just as amazed and blown away. Perhaps like Zelda, you'll help inspire a little fella one day to tell their story. ^0^
ResponderExcluirHehehhe, well I'm damn glad to meet them man. Now all we need are the gecko waifus, and it'll be the best of both worlds.
YES. YES WE DO DAMNIT. I NEED MY SELLURE WAIFU.