Capítulo 27.5 - O Retorno de Johnny Goldo
Onde a cena se encaixava?
No começo do Capítulo 27, pouco antes de Lee e Hayley se depararem com o túmulo da feiticeira
Sobre o que falava?
Após desaparecer por quase 200 páginas, Goldo escapa da prisão em um barquinho à remo. O leitor acaba por descobrir que quem o ajudou a recuperar-se foi Hayley, o que mais tarde resultou no roubo das Pérolas Sagradas.
Qual o motivo de ter sido excluído do livro?
Com cerca de 900 palavras, o trecho estragava a surpresa do reencontro entre Auria e Goldo, além de parecer uma tremenda coincidência ele ser auxiliado justamente por Lee e Hayley. Eram três páginas que não acrescentavam grande coisa, sem contar que ninguém gosta do Goldo.
O Retorno de Johnny Goldo
As Histórias Perdidas - Cenas Deletadas
Em algum lugar perdido do oceano de Century, um pequeno bote a remo
fazia seu percurso sem que ninguém tivesse conhecimento de sua existência. Os
olhos profundos indicavam que dormira pouco, os braços doloridos demonstravam o
desgaste de alguém que passara por maus bocados; suas roupas estavam largas e
encardidas, o sujeito mais parecia um náufrago abandonado à deriva. Ele remava
calmamente e cantarolava canções antigas de piratas em seu próprio ritmo,
disperso do mundo e de tudo que o assombrasse, seguindo em direção de uma ilha marcada
pelo formato da letra S em seu mapa desenhado num pedaço de guardanapo.
Quando ele olhou para trás, uma enorme onda o pegou desprevenido e virou
seu barquinho. O homem só parou de se debater quando alcançou a costa, por
sorte era um excelente nadador. Ergueu o rosto e cuspiu água, balbuciando palavras
sem sentido. Quando enfim tocou a areia, enfiou a cara na no chão e abraçou a
terra.
— Finalmente...
Finalmente cheguei...
Apoiado apenas em um
pedaço de madeira improvisado, saiu caminhando em busca de um pouco de comida
para recuperar-se. Foi incapaz de continuar, suas pernas cederam e ele voltou
ao chão, ficando ali na beira do mar que tanto amava.
Viera de muito longe
para completar uma missão importante, não morreria tão perto de cumpri-la. Não
fugira da prisão para fracassar ali. Pensou em todos os erros que cometera na
vida e concluiu que não se arrependia de nenhum. Fora um bom pirata,
vivenciando aventuras inimagináveis e reunindo montanhas de ouro que não lhe
tinha serventia alguma agora. Fora tudo confiscado, não tinha um tostão no
bolso.
Quando toda a esperança
pareceu se esvair, uma pequena sombra de orelhas pontudas formou-se sobre ele.
— Lee, veja! Este homem
parece estar ferido, eu preciso ajuda-lo.
— Hayley, não podemos
ajudar qualquer estranho que encontramos no caminho. Veja como ele está
vestido, pode ser um fugitivo.
— M-mas ele está
ferido, eu preciso...
— Não, não precisa. Por
que deveríamos?
— Por que não?
— Você está começando a
falar que nem aquele menino ruivo...
Foi a última coisa que
o homem ouviu antes de desmaiar.
Aquele sabor salgado na
boca, a claridade atordoante, a sensação de estar nascendo de novo nunca antes
fora tão forte. Levantou-se ainda um pouco zonzo e olhou para os lados,
avistando um homem de óculos escuros e expressão séria junto de uma pequena raposa
adormecida em seu colo.
— Quem são vocês? —
perguntou o homem desconfiado.
— Por que não me diz
você primeiro? — retrucou Lee.
O sujeito coçou a
cabeleira emaranhada e depois a barba suja de areia. Apesar de ser um pirata, sabia
reconhecer quando fora resgatado da morte iminente.
— Perdoem-me a ousadia,
não estou acostumado a bons tratos... Meu nome é Johnny Goldo.
Lee balançou a cabeça
resposta, mas não lhe deu maiores informações.
— O que busca nestas
terras, Sr. Goldo?
— Bem, creio que não
haja motivos para esconder meus reais propósitos de meus salvadores. Estou aqui
a negócios, embora com uma ligeira margem de atraso. Eu transportava meu
superior, um renomado cientista, quando encontrei problemas na Ilha dos Geckos.
Perdi minha embarcação e meu bando.
— E veio remando essa
distância toda? — Lee pareceu impressionado. — Devo-lhe certos méritos.
Lee arremessou um fruto
nativo da ilha em direção de Goldo. Como estava faminto, abocanhou a fruta sem
pensar duas vezes e ainda repetiu outras três ou quatro. Lee observava com
atenção, acariciando a cabeça de Hayley em seu colo uma vez que ela agora
recuperava as energias após usar sua magia de cura.
— E quanto a você? O
que faz por essas bandas? — questionou Goldo com a boca cheia.
— Eu e minha
companheira procurávamos uma feiticeira que pudesse ajudar-nos com... meu
bichinho de estimação — ele apontou para Hayley, era melhor não compartilhar
nada sobre a maldição dela com estranhos.
Nem mesmo um terrível pirata foi forte o
bastante para resistir à fofura dela.
— Que coisinha mais linda!
Deve valer uma nota no mercado negro. — Goldo tentou acariciá-la, mas Lee o repreendeu com um tapa.
— Não ouse.
— Tudo bem, tudo bem.
Terminada a refeição,
Goldo apoiou-se em seus joelhos gordos e levantou-se. Alongou os músculos e
estalou as costas, depois tampou a visão para observar o oceano distante.
— Foi-me prometido algo
surpreendente caso eu consiga encontrar uns artefatos mágicos... mas, para ser
sincero, nem sei com o que estou lidando. Só quero agarrá-las e dar o fora
daqui. Ouvi dizer que tem gente perigosa nessa ilha, um rapaz ruivo. Preciso
estar com uma perna atrás para evitar ser derrubado.
— Já lidei com pessoas
do submundo — comentou Lee. — É preciso assumir riscos.
— Vejo que você é
vivido, meu bom rapaz. É um jogo de gato e rato, você precisa estar pronto para
caçar e não ser devorado, basta saber com quem está lidando. Na nossa mente,
estamos sempre fazendo a coisa certa, então, quem sou eu para discutir?
Goldo coçou seus olhos
profundos, pronto para enfim seguir com sua jornada.
— Obrigado pela ajuda,
caro amigo. Que o destino lhe pague em dobro, quando houver a oportunidade!
— Ei — chamou Lee. —
Não vá se meter em confusão.
— Oh, não, jamais.
Provavelmente você nunca mais ouvirá falar de mim. Não nesta situação precária.
Eu ainda serei o homem mais rico do mundo.
Goldo foi andando e
seguiu pela praia, deixando para trás pegadas na areia que logo foram varridas
pelas ondas.
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